Moda

Opus: como dupla criativa se coloca em ateliê de experimentações

Pensando em roupas (por enquanto), a dupla criativa da Opus se coloca como ateliê de experimentações caminhando em ritmo próprio

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Calça original, vestida acima por Felipa Queiroz.

Pensando em roupas (por enquanto), dupla criativa da Opus se coloca como ateliê de experimentações caminhando em ritmo próprio. Confira!

Na música, as claques pendulares do metrônomo servem como orientação para o ritmo dos tempi. Sem ferramentas semelhantes, a moda tem sofrido com o timing autoimposto de calendários frenéticos e lançamentos incessantes que atropelam qualquer pensamento de design mais profundo. Na contramão dessa toada, uma jovem iniciativa vem tentando abrir novos caminhos que reverenciem mais a criação e o seu verdadeiro uso (o vestir) do que a foto no Instagram.

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A dupla da Opus.

Nascida oficialmente em maio, após meses no background, a Opus é um ateliê de vontades de Breno Samel e Teo Bressane-Sabadin, casal de universitários de 21 anos baseado em Niterói. Caminhando contra a lógica do mercado, a dupla chegou mostrando a sua primeira iteração: uma calça máxi de algodão cru, permeada por barbatanas que garantem movimento e um certo sine qua non muito próprio.

É uma calça que você nunca vai esquecer que está usando — seja porque alguém está olhando, seja por sentir as barbatanas enquanto anda. Ela convida a essa performance que queremos explorar”, define Teo. “Opus é o singular de ópera, já nasce de um fundo musical. Estamos nos debruçando sobre a questão da performance, do espaço cênico, da ópera”, explica Breno, abrindo arremate para o parceiro: “Enxergamos a ópera como um primeiro expoente dessas linguagens multidisciplinares que nos interessam. É uma construção de muitas vertentes para um resultado final — a orquestra, o palco, o figurino, tudo se encontra nessa mesma engrenagem”.

 

Um duo de genzers que, surpreendentemente, de fato frequenta óperas e concertos, os dois se completam nos interesses acadêmicos: um vem das ciências sociais e do design de produção para cinema, outro partiu da moda para mergulhar amplamente em design de produto. Os dois, misturados, se pegaram desenvolvendo os exercícios acadêmicos juntos. “A Opus surgiu muito espontaneamente. Já vínhamos nesses processos de criação em conjunto que eram apresentados separadamente. Chegou uma hora que essa separação não fazia mais sentido”, diz Breno.

 

A carga de interesses díspares-complementares e a vivência com ícones de tempos mais paulatinos, como a arquitetura modernista, resultou nessa espécie de laboratório de diálogos que (por agora) faz roupa — mas já pensa em protótipos de luminárias e testa com madeiras enquanto se exercita pensando em arranjos florais e prepara livros para editar e distribuir em esquema de guerrilha. 

A primeira coleção de moda, feita experimentalmente e com tecidos de descarte, parte daquela calça inicial e vem aparecendo lentamente — à medida que as peças realmente fiquem prontas, no tempo delas e deles. Uma regata de seda, adornada com cordão de algodão, em edição limitada, foi a página 2 da partitura. As próximas, só o processo dirá.

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A calça-performance, usada pelo artista Joelington Rios.

“Temos oito ou dez looks definidos, que servem como norte. Mas o trabalho vai se moldando com o tempo e com os tecidos que temos à disposição e ajudam a definir o que queremos fazer. Há uma preocupação muito forte com estrutura, com acabamento. Por isso preferimos seguir no nosso ritmo tranquilo”, explica Teo, alfinetando o frenesi das redes: “As nossas roupas são feitas para serem usadas, não apenas vistas. Não estamos interessados numa foto bonita no Instagram”.

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Um protótipo de próxima peça, nascida a partir da calça original.

Apesar da multidisciplinaridade, os dois não escondem um certo pendor atual. “Tenho achado muito difícil falar sobre o futuro da moda, as coisas estão pouco convidativas”, diz Breno. “E a gente nem faz moda, mas design. Estamos tentando trilhar um caminho que achamos ser o certo para essa indústria, algo que não esteja tão dentro da engrenagem. Tentando propor uma mudança para um caminho que faça sentido para o Brasil.”

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A regata de seda, nascida a partir da calça original.

© BRETTA WORLD PEACE / DIVULGAÇÃO

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