Anttónia em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil
No universo do artista britânico Banksy, Anttónia se prepara para lançar seu single e também o clipe. Ela é pop, punk, grunge, indie, tudo junto e misturado
Anttónia conta que sua carreira é um misto de decisões irracionais e experiências magníficas. “Sempre fiz minhas escolhas de acordo com minhas próprias vontades, nunca foi para agradar ninguém além de mim mesma.” Filha de Glória Pires e Orlando Morais, irmã de Ana e Bento Morais e meia-irmã de Cleo, desde que era criança, ficou muito claro para a sua família e para ela que seria artista – só não ficava claro se seria cantora, atriz, artista plástica, se trabalharia com moda… “Para mim tudo sempre esteve muito misturado e uma coisa complementa a outra. Por exemplo: ainda pequena eu já criava espetáculos para apresentar para minha família. Nesses shows eu cantava, interpretava, fazia meu figurino, pensava na cenografia, dirigia. Para mim, o tesão de ser artista é isso. É estar envolvido em todo e cada processo da sua criação. Sinto que minha carreira está sendo construída com essa liberdade artística, o que para uma sociedade programada para definir e colocar tudo em caixinhas, às vezes, pode parecer confuso. Mas a verdade é que eu nunca coube em caixa nenhuma”, diz ela. Neste bate-papo, Anttónia fala sobre família, arte, moda, projetos.
L’OFFICIEL Como é a vida em uma família que respira arte e você ter herdado um DNA tão poderoso?
ANTTÓNIA Esses dias li uma frase do Karl Lagerfeld que responde bem a essa pergunta: “A personalidade começa onde a comparação termina”. No Brasil, desde que eu me entendo por gente, vivo diariamente uma vida de comparações e associações com a minha mãe, com a minha irmã, com meu pai. Só que as pessoas ficam tão preocupadas e ocupadas em me associar a terceiros que perdem a oportunidade de me conhecer e me enxergar pelo que eu sou.
L’O Você vem de uma família muito feminina, de uma força feminina muito grande. Com o feminismo no Brasil tão mal compreendido e em um contexto social de tão pouca autoridade, como você acha que contribui para o empoderamento das mulheres?
AN Acho que nossas ações e atitudes valem mais do que mil palavras. Debates são muito importantes para trazer luz para assuntos como esse, mas eu venho de uma família de mulheres, que, dentro de todo nosso privilégio e nossa estrutura, agiram e fizeram acontecer. Mulheres que construíram suas próprias histórias, assim como eu estou construindo a minha. Acho que o nosso maior exemplo são as nossas ações, e o resultado delas.
L’O Você mudou o nome por causa da numerologia. Gosta de oráculos? Como eles fazem parte do seu dia a dia? A soma de Anttónia resulta em que tipo de energia?
AN Eu sou uma pessoa muito intuitiva e sensitiva. Quis trocar de nome por uma questão energética, não teve nada a ver com o “peso” em relação a minha família – até porque mudar a grafia do meu nome não iria resolver muita coisa nesse sentido. Foi por conta da numerologia mesmo. “Anttónia”, escrito dessa forma e sem o Morais, resulta no número 3 que é o número da expressão, da comunicação e expansão.
L’O Você não assina mais seu sobrenome. É a sua forma de alçar voo próprio? Um tipo de selo?
AN Meu voo já está sendo alçado, e esse é um processo constante e imparável, que não tem como cessar. Tem muito mais a ver com construção. Meu destino vai se cumprir dentro do tempo certo e da forma que tem que ser, com ou sem sobrenome.
L’O Depois de morar em Paris, o que traz da França em você?
AN Com certeza o comportamento, a música alternativa, a forma despretensiosa que a moda está engendrada no cotidiano deles. O modo como eles consomem arte. Ter passado a adolescência em Paris foi uma experiência transformadora para mim, principalmente no campo artístico. O francês é muito lado B, eu me identifico com isso.
L’O Verdade que depois de ver um filme de Almodóvar com Penélope Cruz decidiu fazer curso de teatro na Oficina da Globo? Foi esse o gatilho para começar a atuar?
AN É uma meia verdade. Eu adorava ir ao cinema sozinha quando morava em Paris, e sempre amei Almodóvar. Certo dia decidi assistir Abraços partidos e de fato saí do cinema inspirada pela história daquela mulher que sonhava em ser atriz. Mas, na verdade, eu acho que eu estava “home sick”. Comecei a sentir muita saudade da vida no Brasil. Então inventei qualquer desculpa para voltar porque era para eu ter continuado com meu pai em Paris, ter terminado o último ano de escola.
L’O Qual sua conexão com a moda?
AN Sempre foi uma forma muito potente de expressão e arte, mas acho que, por ignorância, muita gente vê a moda como algo fútil e superficial. Desde novinha, na época da escola, eu e minha melhor amiga gostávamos de nos vestir diferentemente do resto. Era a nossa forma de nos destacar, de expressar nossa personalidade e de nos experimentar. Eu não me conformava com a ideia de que todas as meninas queriam estar iguais, com a mesma roupa, só repetindo um padrão. E acho que instintivamente a moda nasce desse lugar de inconformação, de quebra de padrão, de mergulho na própria identidade e de autopesquisa nas suas próprias estranhezas e peculiaridades. Mas também vai muito além disso. Frequentando as semanas de moda pelo mundo, você entende que é também um mercado poderosíssimo e passa a enxergar a moda por outra perspectiva. São muitas camadas que permeiam esse ecossistema – a escolha dos estilistas, os diretores criativos, o storytelling por trás de cada coleção, as principais tendências mundiais e por aí vai.
“ESSA COISA muito “ALTO-ASTRAL” NUNCA COMBINOU COM A minha estética. EU SOU UMA PESSOA MAIS introspectiva,OBSERVADORA, FALO BAIXO, GOSTO DE coisas MAIS MELANCÓLICAS. AS PESSOAS não
ENTENDIAM ISSO."
L’O Como lida com as redes sociais?
AN Eu aprendi a gostar das redes sociais. Entendi que é uma vitrine importante pro meu trabalho, e que dá pra usar de forma saudável. Cheguei a desativar meu Instagram por três meses. Sentia uma cobrança de estar sempre me explicando, ou sorrindo nas fotos, ou exalando uma positividade tóxica que, na época, estava na moda. Era super fake e me irritava toda essa hipocrisia. Essa coisa muito “alto-astral” nunca combinou com a minha estética. Eu sou uma pessoa mais introspectiva, observadora, falo baixo, gosto de coisas mais melancólicas. As pessoas não entendiam isso. Mas acho que hoje em dia estamos em uma nova fase das redes, bem menos quadrada, mais experimental, criativa e isso me deixa mais aliviada.
L’O Tem curiosidade pela IA? A vê como mocinha ou vilã?
AN Tudo na vida tem seu lado bom e seu lado ruim. Acho que essa cultura de vilanizar ou endeusar algo ou alguém é uma cultura que vem muito da novela. Ficou instalado no subconsciente do nosso país o conceito da “mocinha” e do “vilão”. Eu sempre achei muito infantilizado e superficial essa forma de julgamento. A existência, não só de pessoas, mas de grandes ideias e movimentos, é muito complexa e profunda, somos todos a mocinha e o vilão em algum momento. Inclusive escrevi uma música esses dias que diz: “Desliga essa TV que a vida é muito mais. O meu roteiro é baseado em fatos reais. Ninguém é 100% mau ou 100% bom. Nós somos tantos personagens, esse é o nosso dom”.
L’O Quais seus próximos projetos?
AN Lanço um single chamado Canção de amor, agora em abril, que vem acompanhado com um clipe lindo que filmei na Liberdade. É um rockzinho indie, mas tem uma letra bem popzinha e debochada.
Estou no processo de composição do meu próximo álbum. Tenho um projeto com meu pai e minha irmã mais nova, Ana, chamado Eu e Elas, em que cantamos juntos e pretendemos fazer alguns shows. Fora isso, tem outros projetos diversos em andamento relacionados a moda, entretenimento e beleza.
Fotos: LORENA DINI (GROUP ART MGT)
Direção de arte: DIETER TRUPPEL
Direção de moda: MARCIO BANFI
Texto: Karina Hollo
GUEST: Anttónia,
BELEZA: Daniel Hernandez (M.Lages),
ASSISTENTE DE BELEZA: Stephany Souza e Raphael Jacomini,
ASSISTENTE DE STYLING E PRODUÇÃO DE MODA: David Albuquerque,
CENÁRIO: João Arpi,
ASSISTENTES DE CENOGRAFIA: Matheus Vieira, Rafael Nascimento,
DIREÇÃO DE FILME: Rikko Oliveira,
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Marcos Voma,
ASSSISTENTE DE VÍDEO: Cleiton Araújo;
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Anna Guirro e Barbara Barbosa (Dimensão 360),
MASSOTERAPEUTA: Patty Laquale,
CAMAREIRA: Daniela Gomes,
NAIL ARTIST Soninha,
RETOUCH: Marcela Dini;
CATERING: MV Buffet