Moda

Catarina Mina soma o design de moda às sabedorias cearenses

Projeto especial da Catarina Mina soma o design de moda às sabedorias cearenses do feito à mão

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Projeto especial de Catarina Mina - Foto: Nicolas Gondim / Divulgação.

À beira de completar 20 anos, em 2025, a Catarina Mina segue como nome único no cenário brasileiro. Encabeçado por Celina Hissa, o coletivo construiu atuação importantíssima no fortalecimento e na difusão do feito à mão tradicional do Ceará — muito antes que a moda, tanto daqui quanto de fora, valorizasse realmente os usos dessa técnica. 

 

Nos últimos meses, Celina tem apresentado drops de um novo projeto que elevou ainda mais os trabalhos. Batizada de Travessias, e com apoio do Sebrae-CE, a iniciativa focou na pesquisa dos centros de memória dessas artesanias. E, pela primeira vez, trazendo para junto outros criadores em formato de collab.

 

“Tudo começa de um desejo antigo que tínhamos de mapear esse Ceará artesanal, registrar e fortalecer os lugares de onde vêm essas tipologias”, explica a diretora criativa. “São seis cidades diferentes, cada uma focada em uma técnica — a renda de bilro, de labirinto, o filé e o crochê — e duas fibras naturais, a palha de carnaúba e a fibra de croá.” Cada um desses polos artesanais foi conectado, através da Catarina, com um criativo diferente — incluindo os estilistas David Lee e Dudu Bertholini, a joalheira Márcia Issa e o designer de objetos Érico Gondim, além da própria Celina.

 

O sexto lançamento, que acontece agora em dezembro, reúne a renda de filé produzida por mulheres de Jaguaribe, no sertão cearense, com Marina Bitu — criadora de Fortaleza em ascensão que faz parte do line-up do SPFW e já tem, no seu trabalho, uma vontade de modernizar na moda o handmade local. O resultado: os intricados pontos do filé, como o aranha tradicional daquela cidade, decoram vestidos, calças e camisas com o olhar de Bitu.

“O PAPEL DO designer É IMPORTANTE, MAS NÃO MAIS DO QUE O DAS artesãs. PORÉM, ÀS VEZES, UMA hierarquia NO OLHAR DO CONSUMIDOR — QUE QUEREMOS QUEBRAR.” Celina Hissa

O foco, porém, não é só nos criadores — indo na contramão usual das collabs da moda, que se apoiam em nomes conhecidos para atrair consumidores. Seguindo a tradição de valorização das comunidades com que a Catarina Mina trabalha, a ideia é que artesãs e estilistas tenham o mesmo valor na criação.

 

“Foi um cuidado que tivemos internamente desde o primeiro momento, tanto na criação quanto na comunicação. O papel do designer é importante, mas não mais do que o das artesãs. Porém, às vezes, há uma hierarquia no olhar do consumidor — que queremos quebrar”, conta Celina. “O projeto é, primeiramente, para contar as histórias desses fazeres e das suas guardiãs, para registrar essa memória artesanal. Claro que o produto final precisa ser sedutor, mas ele não pode ser maior do que as tradições. É uma forma de agregar outros olhares a elas.”

 

Travessias, além de ganhar conta documental própria no Instagram (@oficinas_catarinamina), é assunto de exposição até fevereiro em Fortaleza, na sede da marca, reunindo os processos, as ferramentas e as próprias artesãs em rodas de saberes com o público. Para Celina, essa fortificação da história manual (muitas vezes esquecida na poeira ou relegada a artes menores) é essencial. “Jaguaribe, por exemplo, gira em torno da tipologia do filé. O crochê de Curral Grande começou com uma matriarca, que fazia só na casinha dela e a cidade foi crescendo ao redor desses trabalhos”, conta. “De forma geral, a Catarina Mina sempre falou sobre memórias — mas, até agora, focávamos no fortalecimento dessa cultura através da geração de renda, do impacto social. Aqui, a importância é fortalecer o olhar sobre essas lembranças.”

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Projeto especial de Catarina Mina - Foto: Nicolas Gondim / Divulgação.

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