Maryam Keyhani acredita que chapéus grandes são transformadores
A artista, designer e milliner Maryam Keyhani acredita que chapéus grandes são transformadores e podem mudar a nossa percepção sobre nós mesmos
É em uma rua tranquila de Prenzlauer Berg, em Berlim, que você encontra a última excentricidade de Carrie Bradshaw: o chapéu Cloud. Criado pela artista Maryam Keyhani, o acessório tem 51 centímetros de diâmetro, base feita de palha, forro e laço de gorgorão e é revestido de tecido com estampa Vichy. As fotos das gravações da terceira temporada de And Just Like That… viralizaram em maio, mas não é a primeira vez que uma criação da artista vira sensação on-line. Em 2023, a atriz Diane Keaton tentou entrar em um museu em Düsseldorf vestindo um chapéu superdimensionado que a cobria dos pés à cabeça. O post no Instagram recebeu quase meio milhão de likes.
Enquanto a internet se agita com suas criações extravagantes, Maryam, aos 42 anos, cochila regularmente para desacelerar sua mente hipercriativa, leva uma vida sossegada com a família na capital alemã e cuida da pequena loja de 45 metros quadrados. Nós conversamos com ela sobre excentricidade, Berlim e, claro, chapéus grandiosos.
L’OFFICIEL Você nasceu em Teerã, no Irã, e emigrou com seus pais para o Canadá aos 13 anos. Desde 2013, mora em Berlim com seu marido e dois filhos. Por que a capital alemã?
MARYAM KEYHANI Eu costumava vir a Berlim para passar férias e me apaixonei pela cidade. Antes, eu não pertencia a lugar nenhum. Senti falta do Teerã durante toda a minha vida, mas não conseguia me imaginar morando lá. Toronto me deu tudo, mas era muito seguro para mim. Então, Berlim foi o primeiro lugar que senti que era realmente meu. A energia da cidade é incrível, é livre. Você faz o que quiser. Ninguém se importa com quanto você ganha, o que veste ou como vive. Para um artista, é um dos últimos lugares onde é possível viver em uma velocidade mais lenta, mas com dinâmica e liberdade.
L’O Você estudou na universidade de arte e design de Ontário, no Canadá, começou a carreira como joalheira e ainda faz esculturas e pinturas. Nos últimos dez anos, tem feito chapéus. Por que chapéus?
MK Eles são extravagantes e engraçados. Você pode se esconder embaixo deles ou se mostrar e reivindicar seu espaço. Eles são muito mais do que apenas um acessório.
L’O Com quais materiais você trabalha e onde os chapéus são produzidos?
MK Eu trabalho com qualquer material que possa ser usado para criar o chapéu que eu imaginei. Não fui treinada como milliner, mas como escultora, então sempre encontro uma maneira de fazer o que quero. A produção é na Itália, perto de Florença, na Filadélfia, nos Estados Unidos, e alguns chapéus são feitos à mão no Canadá. Não é o melhor modelo de negócios, mas apenas alguns lugares podem fazer coisas incríveis como essas acontecerem.
L’O Como funciona seu calendário de lançamentos?
MK É basicamente um sistema sem sistema. Produzo de forma muito espontânea e não sigo o mercado nem qualquer estação.
L’O Qual é o seu chapéu favorito?
MK O Cloud.
L’O Em seu trabalho, vemos a influência de mulheres fortes e um tanto excêntricas, como Isabella Blow e Peggy Guggenheim. O que e quem inspiram você?
MK Elas provavelmente o fizeram. E sim, essas são as mulheres para as quais eu desenho. É emocionante perceber que muitas nem mesmo sabem que são excêntricas. Muitas de nós somos programadas para pensar que não somos capazes de usar looks tão fortes, mas sempre fico impressionada quando alguém experimenta um chapéu bem grande e parece que se vê pela primeira vez. Algumas peças são transformadoras. O chapéu grande muda internamente a perspectiva da pessoa, que passa a pensar “eu também posso fazer isso!”. As atitudes extravagantes e ousadas não são mais apenas para os outros. É maravilhoso testemunhar isso.
L’O E, de repente, Carrie Bradshaw… Como isso aconteceu?
MK Acho que as tribos sempre encontram você. Foi o que aconteceu com o figurinista de And Just Like That…, Danny Santiago. Ele me seguia no Instagram e já estava de olho no meu trabalho muito antes de o chapéu aparecer em Sarah Jessica Parker. É bom que as pessoas saibam que é possível criar o próprio calendário e as regras e ainda ter espaço na área de moda.
L’O E o que mudou depois que as fotos de Sarah Jessica Parker foram divulgadas?
MK Muito mais entrevistas, com certeza... E muito mais cochilos para dar conta do burburinho.