Poder sem limites
Ela é incontrolável. No melhor sentido que a palavra pode ter. Destemida, inspiradora e dona de uma força descomunal, Donatella Versace dá de ombros para os limites. Sempre quer mais. E consegue. As provas disso são visíveis no atual burburinho em torno Versace, marca fundada pelo irmão, Gianni, e que comanda desde a morte dele, que foi assassinado em Miami em 1994. Donatella tem vocação para fênix.
Assumiu o negócio da família, transformou a marca em um império e, recentemente, renasceu como estilista ao nalmente encontrar o combo fashion capaz de agradar crítica e público - o que se reflete em vendas. A cada temporada, ela lança hits (ora desfilados por Raquel Zimmerman, ora por Naomi Campbell) e mostra que entendeu os anseios da mulher contemporânea (representados nela mesma), que deseja ser independente, sim, mas feminina e sensual também. De poder, lembranças e legado, Donatella fala na entrevista a seguir.
A mulher da Versace é Donatella e vice-versa. Como vê essa cliente e de que maneira ela retrata você?
Quando estou desenvolvendo as minhas coleções, sempre penso na complexidade do estilo de vida das mulheres hoje em dia. Elas voam alto na carreira, têm família, amigos e um momento só delas. O mais importante é que têm controle da própria vida, agora mais do que nunca. Isso para mim significa o novo poder da mulher, e é esse poder que quero expressar com minhas criações e nos meus desfiles.
Você se enquadra nesse perfil da mulher contemporânea, que faz e quer tudo. Como consegue conciliar tantas funções?
Tenho sorte de a marca ser uma verdadeira família para mim. Nós trabalhamos duro, mas também damos risada e aproveitamos o nosso tempo juntos. Quando estou com a minha família ou meus amigos, onde quer que seja, é meu maior momento de alegria. Para mim, não existe dia comum. Tento resolver todos os meus compromissos no período da manhã para deixar minha mente livre para criar à tarde. Vivo com a agenda cheia e todas as decisões da empresa passam por mim. Uma vez que tomo uma decisão, está feito! Adoro finalizar o dia com o dever cumprido e começar o próximo de um jeito fresco e com novas metas. O que estou fazendo na hora é sempre diferente e empolgante. Isso dá ânimo.
Ser mulher dá uma perspectiva diferente sobre o trabalho como estilista?
Assim como qualquer mulher, enfrento suposições sobre quem eu sou e o que posso fazer. As mulheres precisam provar que são mais que os homens, têm que lutar para serem ouvidas. Os tempos mudaram e as coisas estão cando cada vez melhores para nós. Podemos ser tudo o que queremos ser – eu sou diretora artística, mulher de negócios, mãe, amiga e uma defensora de mudanças. Acho que no século 20 era mais difícil ser uma mulher do que um homem na moda. Não só para os designers. Hoje ainda há espaço para melhorias, mas as coisas já estão se transformando.
O que mudou na moda italiana desde o início da marca, em 1978?
A indústria do luxo mudou drasticamente nos últimos anos, e isso é consequência de um único fator, a internet. Ela transformou o luxo em algo acessível e abriu as portas para a moda. É algo a que todos aspiram – mesmo que seja apenas um frasco de perfume da Versace, por exemplo.
Onde busca referências?
Sou inspirada pelos jovens que trabalham no meu estúdio e a nova atitude e energia que eles trazem. Isso me estimula pessoalmente e a criar ainda mais. Estou curtindo a moda agora mais do que nunca. A Versace é um lugar de excitação, positividade e ideias. Todos os dias venho trabalhar animada com o que vai acontecer – há sempre algo novo, alguma ideia fresca ou inovação que poderia mudar tudo mais uma vez. A moda é mudança e é o que me impulsiona. Com isso, o DNA da Versace fica tão forte. Temos uma das assinaturas mais sólidas do mercado. Fico muito orgulhosa do que a minha família tem alcançado e isso me faz querer ir mais longe do que antes.
Quando você se sentiu segura e confiante para continuar o trabalho de Gianni na Versace?
A morte do meu irmão foi a pior experiência da minha vida. É impossível descrever como me senti e a dor daquele período terrível. Foi uma perda pessoal e pública: perdi meu irmão e, o mundo, um de seus maiores talentos criativos. Nos últimos dez anos, sinto como se tivesse encontrado minha própria voz na Versace. Algumas vezes duvidei do meu trabalho e achava que ele não re etia exatamente o que eu era. Mas nos últimos tempos, renasci. A cada temporada, renovo minha confiança em mim e encontro força para levar a Versace para frente. É um trabalho difícil, mas os resultados são claros para mim. Nada me dá mais prazer do que ver onde a Versace chegou nos dias de hoje e como as mulheres do mundo todo estão respondendo à marca da minha família.
Quais são suas principais recordações do Gianni no trabalho?
Ele era visionário, como os grandes artistas. Isso era natural. Gianni criou algo verdadeiramente único e original: além do visual, uma atitude de como as pessoas poderiam ser. Amo ver os desenhos feitos por ele. Gianni estava sempre desenhando, tanto para um desfile quanto para as vestimentas de ópera. Para entender o tipo de artista que ele era, bastava olhar para o trabalho que fazia. Sempre lembro o que aprendi com meu irmão e como isso me ajudou a encontrar meu próprio caminho e a minha voz.
Qual mensagem deseja passar com suas roupas?
A criatividade é uma força positiva e a indústria da moda tem a responsabilidade de promovê-la. Afinal, moda é liberdade e autoexpressão. Ela pode fazer afirmações muito importantes sobre a maneira como somos capazes de viver. É também a celebração da vida e do prazer. O mais importante é que a moda seja sincera e o que é projetado venha do coração.
Linda Evangelista, Carla Bruni e Kristen McMenamy já foram musas de Gianni. Quem são as suas?
Para mim, não há um tipo de mulher que usa Versace. Trata-se de uma atitude e de um destemor que é compartilhado entre consumidoras de diversas origens. O que importa é a individualidade de cada uma e a força do seu caráter. Adoro mulheres como Gigi Hadid e Kendall Jenner, porque elas criaram o sucesso em seus próprios termos. Elas têm um poder verdadeiro, e fico muito feliz em tê-las comigo.
O que Gigi e Kendall podem agregar para uma marca como a Versace?
As duas representam a nova geração de supermodelos e jovens que fazem tudo e são o que querem! Elas são bonitas, charmosas, provocadoras e independentes. Para mim, simbolizam a nova mulher que está totalmente no controle do próprio destino e que irá moldar o século 21 do seu próprio jeito, sem se intimidar.
Há algum segredo do sucesso?
Ainda fico pensando sobre o que o cliente Versace precisa e como sua vida e seu closet estão se transformando. Nunca estou satisfeita e sempre quero ver o que mais posso fazer. Isso nunca vai mudar.