Moda

Quiet luxury: o consumo caminha para ser mais consciente?

Sensatez silenciosa! O Quiet Luxury, que vem tomando conta do guarda-roupa, da decoração e dos procedimentos estéticos, pautado por peças e tratamentos minimalistas, seria um sinal de que o nosso consumo caminha para ser mais sensato e consciente?

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Foto: Reprodução/Instagram @sofiarichiegrainge

Apesar de ter sido impulsionado por diversos outros fatores, o luxo silencioso também ganhou força devido à necessidade de peças com mais qualidade, que durem mais tempo, em contrapartida às peças praticamente descartáveis oferecidas pelo mercado de ultra fast fashion. “É também uma estratégia de diferenciação e valorização da indústria de luxo, que usa da mensagem do luxo silencioso para se distanciar das problemáticas das fast fashions e do ciclo de vida cada vez mais curto das tendências, oferecendo itens que sejam duráveis não apenas em qualidade, mas também em estética – isso faz com que os preços mais altos sejam justificados, já que as peças são apresentadas como investimentos de longo prazo, com uma mensagem de se comprar menos, porém melhor”, fala Sofia Martellini, Estrategista Sênior na WGSN, empresa líder em tendências de comportamento e consumo.

Foto: Unsplash

No entanto, a diretora criativa do site Garotas Estúpidas Nelize Dezzen ressalta: “Não diria que o quiet luxury tenha a ver de fato com sustentabilidade e necessidade de consumo consciente. Claro que há um novo comportamento do consumidor, que está em busca de mais transparência nos processos da cadeia produtiva. Há também um olhar para o minimalismo, por conta do excesso de estímulos que enfrentamos: estamos procurando focar no que realmente é importante e isso inclui como gastamos nosso tempo e dinheiro”. Ela observa que existe hoje uma maior conversa sobre compras de peças mais versáteis com maior potencial de uso e de vida útil, levando em conta inclusive a qualidade dos tecidos, além de muita gente já estar de olho na revenda no mercado de second handque tem números em enorme crescimento. “Existe, sim, uma redefinição em nosso relacionamento com o consumismo. Mas a tendência do quiet luxury segue focado em exclusividade e tem o apelo de ‘quem sabe, sabe’. Afinal, qual a parcela da população que pode se dar o luxo de pagar um absurdo por uma regata básica da Loewe ou Prada?”, provoca.

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Fotos: Divulgação/Chanel e Dior

É fato que essa onda de peças mais básicas e sem logos as faz serem mais duradouras. Se você está se perguntando se diferentemente de outras tendências, essa deve permanecer por mais de uma temporada justamente por essa questão ambiental e de sustentabilidade... a resposta é: talvez. “A moda é cíclica, então era inevitável que o hype fosse na contramão da logomania. Mas temos mais um ponto-chave aqui que é a ansiedade econômica que também enfrentamos. É natural que os ricos – olhem a tendência dos milionários na série Succession da HBO, e Kendall Jenner e Hailey Bieber de regatinha no Coachella – diminuam a ostentação escancarada, e que o mercado aumente seu foco em quem ainda está gastando, à medida que mais compradores aspiracionais estejam cortando custo. Entende aí a lógica do luxo silencioso? Ela retrata o clima econômico atual. Ainda estamos falando de oferta e procura. Infelizmente, a conversa sobre sustentabilidade e consumo consciente não é o que move essa tendência”, acredita Nelize.


Sempre existiu (e existirá) um mercado para o luxo silencioso, com consumidores de alto luxo que preferem a discrição à ostentação, que prezam pela qualidade e por peças que possam ser usadas por anos, e não apenas semanas. “E na medida que o consumo consciente ganha força, esses dois consumidores continuarão a ser um nicho cada vez mais importante no mercado”, aposta Sofia. É fato que a alfaiataria, bem cortada, com tecido de qualidade, vive de novo seu auge. Ela é parte indispensável para quem busca um guarda-roupa cápsula. Sem falar que vimos consumidores muito saturados de vestirem apenas loungewear depois dos dois anos de pandemia e que voltaram a olhar para o ato de vestir como um pequeno prazer, uma parte importante da rotina. “Isso, combinado à retomada do trabalho presencial, deu foco novamente à alfaiataria, que oferece um visual mais polido, arrumado”, diz. Ela adianta, porém, que, em paralelo, o consumo desenfreado de micro-tendências, o dopamine dressing, e até mesmo um luxo mais ostensivo também continuam existindo, o mercado se torna cada vez mais amplo em termos de direcionamento, atendendo a diversos tipos de consumidores simultaneamente.

Foto: Unsplash

Na decoração e na beleza

Os experts em tendências apontam que devemos continuar a ver o luxo silencioso em evidência por algumas temporadas. “Nas coleções de pre-summer 2024, o minimalismo pautou diversas coleções e foi trabalhado de diferentes formas, inclusive dentro de uma vertente que chamamos de Bold Minimalism (minimalismo ousado), no qual as silhuetas são simplificadas. Existe uma restrição de aviamentos e estampas, mas algum fator mais chamativo é incluído, seja um uso de cores mais vibrantes, um recorte diferenciado, uma assimetria impactante”, lembra Sofia.

Ao mesmo tempo, a moda consciente ganha força. “O olhar para dentro, para nossas origens e na ressignificação da nossa missão vai sempre voltar para o natural e orgânico. Em visita recente à Casa Cor, me surpreendi ao notar o domínio das formas curvas até nos sofás e poltronas. Já estamos vendo o reflexo disso tudo na decoração também”, acrescenta Nelize. Essa tendência estética tem tomado conta, inclusive, da beleza, traduzida na busca por procedimentos trazendo resultados sutis, valorizando a beleza individual de cada paciente. “Os tratamentos estéticos nesse conceito de Quiet Luxury são as tecnologias para melhora de qualidade de pele, para estímulo de produção de colágeno, para ter um envelhecimento respeitoso e elegante”, fala a dermatologista Carla Marchioro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Igor Manhães, dermatologista da clínica Les Peaux, no Rio de Janeiro, enumera: “Lasers, ultrassom microfocado para efeito lifting leve; os bioestimuladores com ação na flacidez; biorremodeladores teciduais, que renovam a pele com efeito glow; toxina botulínica, com efeito mais natural sem congelar a expressão; e preenchedores sem efeito volumizador são o hit do quiet luxury na beleza”. Ainda assim, o fato de algo ser minimalista, não significa que seja sustentável. E isso vale para tudo – de roupas a objetos de decoração, passando por tratamentos estéticos.

Foto: Divulgação/Valentino

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