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André Lima em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil

André Lima encontrou L’OFFICIEL na Pinga, loja nos Jardins que transformou em extensão de casa, para uma entrevista exclusiva. Confira!

André Lima
André Lima

André Lima deu uma volta completa em si mesmo. Há 30 anos, migrou de Belém para São Paulo, se tornou nome forte do cenário brasileiro, com shows exuberantes no SPFW e ateliê lotado, largou tudo e foi se entender em outros processos. Hoje, é um dos poucos da geração 1990 que segue produzindo moda com seu próprio nome, agora em versão desamarrada: sozinho em casa, atualizando matérias-primas antigas em vontades próprias de shapes e volumes — e um certo fetiche por tecidos bons —, atrás de uma clientela que não quer saber da última tendência. Com isso, entrou como paralelo em um cenário dominado por jovens criadores, com a vantagem da experiência de quem já passou dos 50. “De repente, me vi fazendo exatamente a mesma coisa de quando cheguei, aos 22: fazer a roupa que quero, levar numa loja e dizer ‘oi, tudo bem?’”, relembra. André encontrou L’OFFICIEL na Pinga, loja nos Jardins que transformou em extensão de casa, para um balanço de ideias.

L’OFFICIEL Por onde andou André Lima desde o último desfile?
ANDRÉ LIMA Nossa, eu fiquei fazendo um monte de coisas para um monte de gente. Atuei dentro de empresas que estavam criando marcas. Fiquei quase três anos na Hope, capacitando equipe para fazer beachwear e fitness. Eu sempre gostei de tudo. Não é porque eu não faço uma coisa no meu dia a dia que aquilo não me atrai, tecnicamente, sabe? Depois, em 2018, dei aula em Belém por um ano. Foi enriquecedor. Há esse projeto no polo joalheiro de lá, que trouxe mil pessoas de fora para criar esses arranjos produtivos voltados para joias. Então quiseram fazer o mesmo com a moda, fomentar essa história de designers locais. Eram 30 pessoas de todas as idades, um trabalho completamente diferente do outro. Rolou essa viagem interna de conhecê-los — e ver onde eu poderia explorar, fazer pontes e acompanhar os processos. Eu nunca havia tido uma experiência assim, de mentoria tête-à-tête. Compartilhei muito do meu processo de montagem de território criativo. Foi um mergulho muito interessante, tanto na questão da matéria-prima local quanto na questão da mão de obra e da artesania. Tem mil histórias que ninguém nem ouviu falar ainda.

L’O Esse mergulho era novo para você?
AL Mais ou menos. Era novo no sentido de entendimento do cenário como uma cadeia. Para mim aquilo funcionava como um mergulho cultural e emocional, era uma viagem muito pessoal. Eu não ia atrás do artesão, não interagia com quem faz moda. Depois, comecei a levar essas pessoas no meu roteiro de imersão, e o pessoal virou coletivo. Na sequência, fiquei na Iorane por quase três anos.

L’O Um choque de cenários completamente diferentes.
AL Absolutamente. Foi engraçado, pois me ligaram quando acabei esse processo em Belém, no caminho para o aeroporto. Aí era um olhar sobre a moda mais envolvido com o que já está rolando. Não é sobre fazer a onda, é aproveitar a onda. Foi uma consultoria interna, durou até o comecinho da pandemia. Deu tudo certo, foi ótimo. Mas, ao mesmo tempo, foi um processo importante para eu entender o que eu não queria. Não me interessa estar nesse contexto de indústria — que nem é brasileiro, é mundial —, de não refletir de onde vem o tecido que se usa, por exemplo. Daí tenho esse acervo de matéria-prima em casa, de coleções antigas, que passei a resgatar. Fazia esse exercício desde 2015. Dois anos depois que fechei, comecei com essas histórias de misturar tecidos. E não tinha pressa, nenhuma pressão, era o meu processo. Fazia três ou quatro peças, alguns eventinhos aqui e em Belém. Tenho uma clientela muito pulsante por lá. 

L’O Você chegou a fugir de São Paulo em algum momento?
AL Não. Tenho minhas pequenas fugas de fim de ano, ou no Círio de Nazaré, mas minha vida segue sendo aqui. Durante a quarentena, eu já tinha usado as sedas e ainda não tinha colocado as mãos nos algodões. Então comecei a brincar com eles, ver o que acontece se misturar um com outro. Sozinho em casa, experimentando. Nunca tinha modelado, era algo que alguém fazia. Mas na pandemia não tinha como, então peguei moldes que já tinha, fiz uns frankensteins que acabaram rolando.

L’O Virou um André freestyle.
AL Super, me sinto assim. Não tenho data fixa para lançar, zero compromisso com isso. E há esse fator de poder fazer experimentações loucas, e todas rolam. Nada fica parado. Esses vestidos em que misturo cinco ou seis tecidos de coleções completamente diferentes, uns composés da minha cabeça, tecido do Panamá misturado com tafetá italiano.

L’O Quando sabe que o drop está pronto para ser lançado?
AL Fica pronto quando fica pronto. Sigo uma coisa muito em cima do material que vou identificando. Não uso mais tecidos de coleções atuais, são de coleções anteriores. E tenho muito esse desejo de experimentar tecidos que vêm de outros campos. Noventa por cento desta coleção é feita com camisaria masculina. Tecido não tem idade, não tem gênero, não tem hora. Tecido é tecido. No máximo, é usar algo para esquentar ou um mais leve, para um lugar mais quente.

L’O E também cai nessa conversa que você citou antes, de não querer atender o momento, seguir a onda.
AL É o meu entendimento do momento. O uso do algodão foi isso. Não fazia sentido, num momento de pandemia, as marcas fazendo um monte de roupa de poliéster e a pessoa em casa, vestindo isso.

L’O Você já funcionava assim quando tinha a sua marca ou ainda tentava se encaixar no mercado?
AL Nunca tentei me encaixar porque sabia que não ia conseguir, então nem tentava. Fazia o SPFW, então tinha que ter aquela data, claro. Mas meu calendário era outro. E tinha esse fator: quando o mercado não estava tão aberto para as grifes de fora, as pessoas tinham nossas marcas para trabalhar. Havia uma relação com as lojas, não interessava tanto se lançássemos agora ou daqui a pouco. Eu fazia o que era possível na minha estrutura. E era uma roupa com muito desenvolvimento. Todo fim de coleção era um recomeço. A gente saía de uma coleção superflow para uma estruturada, era um aprendizado. Essa liberdade tinha um preço, mas as pessoas topavam. Tudo mudou quando as lojistas começaram a ter mais acesso às marcas de fora.

L’O Sente falta dessa época?
AL Não, e justamente por isso. Lembro que um dia me vi feito Jacques Leclair de Ti-Ti-Ti: estava indo trabalhar todo arrumado no blazer, atender as clientes sob medida, depois tinha não sei mais o quê. E eu ria, falava “olha aí”. Acabava desempenhando esse papel, meio como uma grande brincadeira na minha cabeça. Era um personagem. Não entrava em papos mais profundos, não falava sobre política, sobre coisas que atualmente seria difícil evitar.

André Lima

L’O Esse personagem seria coerente hoje?
AL Não, nem pensar! E eu estou mais relax, mais para David Byrne, do Talking Heads. Era uma coisa daquele momento, que mudou. Tudo se desconstruiu. Mas, apesar do personagem, o trabalho era extremamente sério.

L’O Foram o que, 15 anos?
AL Sim, abri em 1999. E tinha essa equipe que foi se fazendo junta. Essa época foi abençoada, no sentido de possibilidades criativas. Era o melhor dos mundos. Eu tinha o ateliê e conseguia bancar, fazer experimentações e aprender. Claro, levei muita porrada para chegar nisso. Mas existia. Hoje, o processo todo sai da minha mão.

L’O Mas acha que é melhor hoje, de alguma maneira?
AL Hoje o meu corre é totalmente jovem. Isso é ótimo! As pessoas me colocam nesse lugar, ao lado de outra galera com vinte e poucos, trinta anos. Eu tenho 52, a minha geração é a dos anos 1990. E é tudo natural. O que me incomoda é a caretice, essa coisa de ter que se encaixar. Eu não tenho esse compromisso, a minha vontade é fazer coisas confortáveis e que vários corpos consigam usar. Vejo como peças atemporais, exatamente porque tenho esse feedback muito forte de quem tem roupas minhas de outras épocas. Hoje, atendo também as filhas dessas clientes, que têm de idade o que eu tenho de carreira. Acho legal poder fazer experimentações sofisticadas. Não falo sobre o brilho, o bordado luxuoso — mas sobre o tempo que você leva. Isso é o novo luxo. Hoje em dia, não é qualquer tecido que se pode usar. Primeiro porque as fábricas quebraram, as tecelagens, as fiações. Basicamente é só importação, é 99,9% China. Não quero contribuir com essa coisa de comprar tanto tecido de plástico, de poliéster, e deixar isso no mundo. E mesmo no tamanho das coleções. Tínhamos uma coisa insana. Se vendesse pouco, não era ninguém. Era uma necessidade de aumentar, de criar, para se manter num patamar, dizer que era foda. Havia um desejo muito forte de excelência. Tanto do lado dos estilistas quanto de quem comprava. O cara só ficava lá em cima, só vendia nas lojas boas, se realmente tivesse uma roupa impecável.

L’O Isso não importa mais?
AL Para mim, ainda importa. Mas vejo que é mais sobre o conteúdo, quem tem milhões de seguidores. Não é sobre a costura primorosa, é sobre o look, a repetição do look. É esse outro lado.

L’O Você acha que esses pensamentos têm a ver com idade? Você é outra pessoa aos 52?
AL Acho que outra, não. Mas aprendi a não dar tanto valor para coisas que eu dava, situações, posturas. Sou virginiano, acabo sendo ultra-analítico até sem querer. Da análise para a crítica, é um minuto. É uma análise que te dá uma maturidade. E eu não fico mais me perguntando se daqui a um ano quero estar assim, daqui a dois anos... como vejo uma galera hoje, com a cabeça no business plan, parecem aqueles yuppies. Já fui um pouco assim, estou bem mais hippie.

L’O Você tem uma fala mais serena hoje, mesmo.
AL Naquela época havia esse fator tenso que é ter que lidar com a vida das pessoas. Cheguei a ter quase cem funcionários. O sob medida, algo que nunca imaginei que faria, que nunca investi, cresceu muito rápido. Quando era época de casamentos vinha a noiva, vinha a mãe da noiva, a irmã, a madrinha. Virava um show ao vivo, em cima de um vestido que não podia dar errado. E tinha aquela equipe que eu fui montando, muita gente jovem. Eu me divertia, é claro. Mas a estrutura era uma tensão. O meu objetivo era fazer a roupa que queria e não ficar à mercê de alguém aprovar. É muito bom que as pessoas se identifiquem e tal, mas ter que ser aprovado... não passa pela minha cabeça. Fazer tudo certo, cumprir com as expectativas que o público espera. Não quero cumprir expectativas do que é correto. Então esse formato de agora me desafia. Nem tenho ateliê, é tudo em casa. É um retorno ao começo. Isso é muito mais importante do que querer ser gigante.

L’O Ao mesmo tempo, sua roupa não é trivial.
AL Acredito que não, faço tudo para que não seja. Tenho cuidado extremo, uso técnicas que não são da roupa de algodão, na roupa de algodão. Quando chego na Pinga com uma proposta de silhueta assim. Estamos no Brasil, a brasileira tem uma questão com a cintura que é atroz, sexista para caralho. Então, chegar propondo uma roupa solta no corpo, com volume que não vai demandar que o peito esteja assim, que a cintura esteja assado... Isso vai, por exemplo, completamente contra essa moda de agora, de buracos nos vestidos. É legal a ideia, é um ponto da mulher que é muito interessante. Mas se todo mundo faz... você fica observando e passa uma, quatro, dez, todas com o mesmo vazado. Quando chega nessa coisa da moda, me desinteresso.

L’O Você se policia para não cair nessas armadilhas da moda?
AL Não, eu sou muito ligado nisso. O tempo traz isso, né? Você sente o cheiro. Dependendo do que é, de quem usa, já sente que vai pegar. Não estou falando que nunca farei uma roupa com buraco. Mas o que não há é o esforço de ter que ir para o lado contrário. Não é como se estivesse me comparando. Por isso essa coisa de trabalhar em casa tem sido fantástica. Você está ali com a sua comida, com a sua música, é apenas você e a sua essência.

L’O Não tem o risco de se isolar dentro da própria bolha e se perder fazendo algo que não se comunica com o mundo?
AL Boa pergunta, não sei. Acho que é diferente quando se estabelece o que nos deixa confortáveis, mas sem abrir mão de outras experimentações. Neste momento, por razões de família, eu tenho ido e voltado de Belém com frequência. Por mais que lá seja o meu lugar, existem várias Beléns de acordo com o que estou enxergando naquele momento. Esses exercícios de deslocamento existem, não estou numa bolha onde não entra ninguém. Claro que pode acontecer, ficar dando voltas ali, na mesma coisa. Há esse risco. Mas sou muito ansioso, muito inquieto, até meio insuportável — num sentido de nunca achar que está tudo bem. Acho que o desafio é o seguinte: o que posso fazer que seja meu, que esteja dentro do que acredito, do que vejo e sinto — mas que fale com o momento?

L’O Você ainda se considera um estilista de moda festa? Isso faz sentido, hoje em dia?
AL Mas você acha que eu era estilista de moda festa?

L’O Em parte, sim. Você chegou a dizer isso na época, em algum momento. Tenho essa lembrança.
AL Curioso você falar isso, não me lembro. Esse nunca foi um título que me dei, pois nunca me vi fazendo só isso. Como falei no começo da conversa, eu sempre gostei de me desafiar.

André Lima

L’O Imagino que o título veio por conta dos desfiles exuberantes, dos shows. Havia essa necessidade de te encaixar.
AL Pode ser, eram os desfiles, o que as pessoas viam. Talvez por esse personagem meio Jacques Leclair, talvez por fazer muita roupa sob medida. Mas metade da coleção era de algodão, isso é fato. Tinha essa demanda, sempre trabalhei com tecido natural. E o que tinha de natural era algodão e seda. O último desfile que fiz não era de festa. Não fechei o SPFW, foi de tarde, numa sala menor. Exatamente porque o show já tinha virado uma regra, algo que se esperava de mim.

L’O Se precisasse botar uma hashtag pra classificar o seu trabalho hoje, tem alguma?
AL Nunca pensei nisso.

L’O E naquela época, teria?
AL Era outra época, não sei... Mas a coisa da roupa de festa me traz um questionamento que tenho há tempos em relação ao formato das festas. Quando vejo as pessoas todas vestidas meio parecidas, aquilo já não me interessa. Acaba virando mais do mesmo. E muito nesse contexto do Instagram — o que importa é se ficou bem na foto. Perde-se a coisa de olhar a roupa por dentro, de saber se o tecido é bom, de forrar com seda. Imagina, o forro de cetim de seda é o luxo do luxo que você está dando para a pessoa, de ela saber o que está tocando seu corpo. Graças a Deus, hoje, existem milhões de formatos de festa — e várias possibilidades de se vestir. Então o que faz mais sentido é você usar uma roupa elaborada com o que gosta no dia a dia, misturando. É muito mais interessante do que aquilo que é muito correto, “de bom-tom” — é isso que acho demodê: a pessoa se vestir no sentido de ser aceita. Se eu tivesse um ateliê hoje para festa, seria esse meu raciocínio: fazer peças cambiáveis, que possam ser usadas de dia. É um exercício que tem a ver comigo, é a pesquisa que me direciona. Não é sobre desenhar a roupa e procurar o tecido que se encaixe — é mais sobre qual tecido me emociona, depois entender o que ele pode virar.

L’O Ainda tem muito acervo para gastar?
AL Minha família em Belém é de costureiras. E tinha essa prima da minha mãe, uma estilista que só fazia roupa de festa e comprava muito tecido bom, Casa Alberto, coisas de fora, uns bordados absurdos que não vinham para cá. Um dia, a filha dela me chama para ver coisas que estavam lá, paradas. Descobrimos sacos e mais sacos de rendas incríveis, materiais, tudo guardado há muito tempo. Então eu já estou entrando no acervo da família! Isso vai dar em outra história, vamos fazer coisas juntos — inclusive misturando os meus tecidos. Mas eu ainda tenho bastante coisa aqui, sim, minha. É engraçado conviver com esses rolos... tem dia que você olha para um tecido e acha que não usará nunca. Um mês depois, aquilo é exatamente o que faltava.

L’O O teu primeiro desfile, lá atrás, tem a ver com o que faz hoje, né? Esse samba com pedaços de panos um pouco aleatórios.
AL Era, super. Na Semana de Moda [nome original da Casa de Criadores] em 1999. Eu pegava tecido na Tecelagem Franceza, na Rua Augusta — quem era estilista lá, naquela época, era o Rober Dognani. Muita coisa vinha manchada, danificada e eu apenas usava, feliz. Tinha muito retalho, umas zibelines absurdas. Então eu já comecei, naquela época, trabalhando com esses tecidos, juntando com outros que vinham da minha família. Sempre foi um pouco isso, que hoje chamam de curadoria têxtil. Pensando aqui, acho que a hashtag de hoje é #livre, sabia? Estou sempre transitando nesse contexto de moda, mas não sou esse contexto. É sempre um olhar estrangeiro.

L’O Você, por muito tempo, foi o único estilista do Norte com mais destaque. Mas não havia tanto essa discussão identitária. Você se sentiria confortável em assumir esse papel de dar visibilidade à região? Como é essa identidade para você?
AL Sabe que eu sempre brinquei com isso? Em todos os lugares que falavam sobre mim, nunca era “o estilista André Lima”, era “o estilista paraense André Lima”. Mas sim, essa ponte de usar a minha influência para mostrar pessoas de lá é algo que estou buscando construir. Apesar de achar que, quando falamos sobre trazer alguém, não deixa de ser uma fala colonizadora, de certa forma.

L’O Sim, mas seria importante usar a sua voz para mostrar alguém que esteja em Belém, em Santarém, ou qualquer outro lugar do Pará, que faz algo de interessante.
AL Isso é uma coisa que reverbera muito mais se tiver alguma política pública junto. Esse ano que passei dando mentorias por lá, descobri e mapeei muita gente. Mas acho essencial fomentar o lugar. Quero que as pessoas daqui não só conheçam os criativos de Belém — mas que saibam que há coisas que só existem lá. É tão importante quanto, esse terroir, sabe? Isso é possível, mas é uma cadeia produtiva que precisa ser desenvolvida. Não há uma faculdade de modelagem, por exemplo. Só uma ou duas que formam estilistas.

L’O E esses estilistas têm onde trabalhar?
AL Não, aí que está. Não há um mercado. Às vezes bomba uma confecção, mas é uma só. Não absorve. Por isso falo que demanda políticas públicas, é um fomento que mexe com tudo. Mexe com formação, com o entendimento daquilo como uma cadeia. Para que a pessoa não tenha que sair de lá, como eu fiz. Tenho mais tempo de São Paulo do que tive de Belém. Mas não necessariamente esse é o único caminho. Hoje é muito mais legal a pessoa ser de lá, estar e continuar lá. É esse cuidado que é preciso, construir de um jeito que a pessoa não perca o pertencimento. Para isso é necessário que haja frentes de investimento, de política pública, e também na iniciativa privada.

L’O Aí estamos falando de uma coisa de base, concordo. Mas não acha que você pode fazer algo menor, por conta própria?
AL Posso, claro. Mas, de novo: é muito necessário que se implemente essa cadeia, para não ser um esforço à toa. Para comparar, se você pega a gastronomia, há essa cadeia. A culinária paraense virou um assunto importante, consistente e ancestral. E isso aconteceu porque tem as feiras, as pessoas que plantam... a história começa na matéria-prima. Na música, a mesma coisa: tem os estúdios, os músicos, você se resolve lá. Tanto que a música paraense também ficou conhecida nacionalmente, de Fafá de Belém a Gaby Amarantos e Jaloo. Para termos uma moda paraense, é igual: precisa-se de uma cadeia. Hoje temos o chef pop, a cantora conhecida; eles não vieram do nada, houve uma base. Para ser o estilista que sou hoje, eu saí de lá. O Marco Normando, que é o menino atual do Pará, também não está lá. Quando vou a Belém, fico com a cabeça a mil porque fico pensando exatamente nisso, vejo possibilidades. Mas alguém precisa fazer esse dever de casa, criar uma engrenagem para funcionar. E me mantenho conectado. Fui descobrindo uma galera de produção de moda, de maquiagem, o povo da fotografia. A coisa está pulsando.

L’O Você precisa fazer alguma coisa com isso, homem!
AL Eu vou fazer (risos), calma! Tem coisas rolando, mas ainda precisa de um tempo.

Créditos:

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Alan Ferraz.
MODELOS: Vivica eAmandaBrolese.(WayModel)
BEAUTY:MaxWeber.
MANICURE: Rose Lunna.
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ana Luiza Neves.
RETOUCH: Elaine Takahashi.
AGRADECIMENTO: Room

 

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