Danni Suzuki sobre curso para refugiados: “Alinhado com Deus”
Danni Suzuki fala sobre iniciativa de impacto social para imigrantes e refugiados, relembra momentos marcantes da carreira e abre o coração sobre obstáculos como mulher asiática na televisão brasileira
Atriz, diretora, roteirista, apresentadora e agora também educadora com uma atuação de impacto social — Danni Suzuki é, há décadas, uma presença luminosa na cultura brasileira. Pioneira como uma das primeiras mulheres asiáticas a protagonizar produções na televisão aberta, ela não apenas abriu portas: ela escancarou possibilidades.
Em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, Danni revisita momentos decisivos de sua carreira e fala com franqueza sobre representatividade, autocuidado, envelhecimento, estilo e espiritualidade — além de refletir sobre os bastidores da exclusão polêmica da novela Sol Nascente e celebrar a nova fase como mentora de um curso inovador que une inteligência emocional e inteligência artificial no acolhimento de refugiados. Com serenidade e profundidade, ela compartilha o que move seu trabalho e sua fé. “Vejo a vida como uma oportunidade de desenvolver nossas melhores habilidades pra nos tornarmos úteis para a humanidade”, diz ela, convicta. Confira:
Danni, sua trajetória na televisão brasileira é marcada por pioneirismo. Como foi, para você, abrir caminho como uma das primeiras mulheres asiáticas a conquistar papéis de destaque na TV Globo? Você sentia a responsabilidade de representar tantas mulheres invisibilizadas até então?
Naquela época ainda não sentia essa responsabilidade porque, de certa maneira, esse lugar infelizmente não era visto por ninguém dessa forma, e isso se estendia para mim.
Na grande parte das vezes que minha ascendência era levantada, era como se o outro já mostrasse interpretar aquilo como algo limitador, e mesmo que não fosse a intenção, ficava uma impressão de desencorajamento para que eu pudesse enxergar que era possível seguir uma carreira com estabilidade e variedade de oportunidades com meu fenótipo, e sendo nipo-brasileira.
Acredito que eu mesma precisei buscar sempre perspectivas não óbvias, bons argumentos e mesmo ações pra me manter ali por tanto tempo. Especialmente depois do estouro que foi Malhação, sempre busquei por personagens que não fossem caricatos, uma interpretação mais natural possível e também estudar o máximo que podia para estar apta a realizar qualquer função dentro do audiovisual, seja como atriz, apresentadora, diretora ou roteirista. Esse lugar de representatividade não era abordado e então era absolutamente invisibilizado. Mas conforme o tempo foi passando e o próprio público expressando que se sentia representado e inspirado, esse lugar tomou outra proporção e começou a ser percebido e, pela primeira vez, começou a ganhar o seu merecido lugar.
Hoje, vemos atrizes como Ana Hikari e Jaqueline Sato protagonizando novelas e séries com mais naturalidade. Que sentimento te desperta observar essa nova geração de atrizes asiáticas ocupando espaços que antes pareciam inalcançáveis?
Fico muito feliz e, ao mesmo tempo, ainda atenta para que esses espaços sejam ocupados cada vez mais por outros atores. Vejo que as mulheres amarelas, embora ainda estando longe do ideal ou justo, ainda ganha mais espaços do que os homens e crianças amarelas. É preciso ainda ampliar essas oportunidades para todos e com bons papeis, algo que também deve ser mencionado. E papeis de personagens brasileiros, sem ter que justificar sempre a história para que possamos ser incluídos e nos sentirmos pertencentes da pluralidade que é característica marcante e especial do nosso povo…
Você já mencionou um episódio em que foi excluída do elenco principal da novela Sol Nascente. Na ocasião, você foi substituída por uma atriz que não carrega traços asiáticos, sendo que a novela girava em torno desta temática. Como você elabora esse episódio hoje em dia? Considerando o tempo que se passou e sua bagagem emocional?
Entendo que uma situação como essa aconteceu para pontuar mais ainda a necessidade de mudança, e antes de tudo de mentalidade e de algumas coisas que sempre foram naturalizadas. Foi algo que repercutiu muito porque não soou como qualquer desrespeito apenas individual, mas com o público e com a história do nosso próprio país que é composto por povos e etnias diversas. Pessoalmente, pra mim, foi uma porta que ao se fechar abriu milhares de outras, e grandiosas oportunidades: fui estudar fora do país, aprimorar trabalhos também por trás das câmeras, fui trabalhar como diretora e roteirista no Prime Video, e por aí vai. Então, penso que tomei a decisão certa de partir para outros caminhos.
Você acaba de lançar um curso que une inteligência emocional e inteligência artificial, com foco na integração de migrantes e refugiados. De onde vem esse desejo tão profundo de atuar em causas humanitárias — e o que essa nova fase como educadora representa para você?
Sou movida certamente pelo meu proposito de vida que é alinhado com Deus. Vejo a vida como uma oportunidade de desenvolver nossas melhores habilidades pra nos tornarmos úteis para a humanidade. Crescer e contribuir. Os refugiados e migrantes se encontram numa situação mais vulnerável já que além de todas as suas fortes perdas estão em outro país recomeçando a vida, e isso chega com muitos desafios. Me sinto apta e forte para lidar com eles, porque quanto maior é o desafio do outro, maior é o nosso desafio de encontrar uma solução e maior se torna meu entendimento sobre espiritualidade e sobre as obras de Deus.
Além do engajamento social, você tem uma conexão muito forte com o universo da beleza e do bem-estar. Como você enxerga o autocuidado hoje — ele é mais sobre estética ou sobre saúde emocional?
Com certeza saúde emocional, quanto mais saudáveis mentalmente, mais compreendemos a importância de cuidar do nosso corpo também, cuidar da mente e do espírito. Cuidar de si mesmo é um exercício de gratidão. Dá menos trabalho para você porque se mantém saudável e consequentemente também para as pessoas ao seu redor.
A moda sempre teve um lugar sutil, mas muito presente na sua imagem. Qual é a sua relação com estilo? Você se expressa por meio da roupa ou prefere que ela apenas acompanhe o seu movimento interno?
Adoro me vestir bem, e estou sempre antenada em referências que gosto ou que posso incorporar para o que eu uso, isso aumenta nossas possibilidades quando o assunto é guarda-roupa, mas, ao mesmo tempo, vou adaptando o estilo que quero adotar muito de acordo com as ocasiões e até fases da minha vida. Claro que tem algumas coisas que não mudam, como optar por roupas que não sejam desconfortáveis de usar, por mais que lindas, independente de ser de dia ou à noite, vejo colegas que pra usar um sapato lindo que amaram e não tinha seu tamanho compra dois números menor e fica com o pé apertado à noite toda, mas taí um sacrifício que nunca estou disposta a fazer.
Gosto de usar peças que sejam versáteis e que podem ser usadas também tanto de dia quanto de noite, nos mais diferentes lugares, como se estivesse pronta para qualquer situação ou se, depois de um compromisso, tivesse que emendar em outro não previsto. Clássica, com peças atemporais e curinga, leves, e de certa forma, ainda assim, sofisticada.
Seu corpo sempre foi muito admirado, mas também muito exposto. Como você lida com a pressão estética e o envelhecer sob os olhos do público?
Envelhecer é um processo comum e natural da vida, um caminho que todos nós seguiremos, assim como a morte. Me cuido pra prolongar meu tempo fazendo o que amo. Mas gosto de respeitar o processo da vida também e me permitir viver o que meu corpo aguenta e o que considero possível dentro do bom senso.
Fisicamente, não sou mais tão ágil e acelerada, embora muitas vezes o cansaço bate justamente porque tenho uma vontade de viver que me faz querer fazer tudo e um pouco mais, mas tenho aprendido também a me observar e dar o tempo que meu corpo pede.
Não podemos deixar de perguntar sobre sua amizade com Jason Mraz! Como surgiu essa conexão tão improvável e especial? Existe uma troca criativa entre vocês? Quando foi o seu último contato com ele?
Existiu uma linda amizade, nos conhecemos no Faustão. E ainda tenho um grande carinho por ele e pelo que vivemos, mas não temos mais contato regular. Jason é definitivamente parte de um lindo momento da minha vida, um cara de extremo talento e sensibilidade, mas seguimos cada um a sua história.
PING PONG
Uma mulher que te inspirava no início da carreira:
Minha avó Rosa. Usei muitos bordões dela em personagens.
O que te faz dizer “não” sem culpa:
Propostas que envolvam jogos de azar.
O segredo da sua força emocional:
Certeza da presença de Deus na minha vida.
Um livro que você gostaria que todos lessem:
Você Pode Curar Sua Vida. (Louise Hay)
A palavra que te define no agora:
Determinação.
E a que te guia para o futuro:
Minha profunda paixão e gratidão pela vida.