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Regina Duarte relembra suas ‘Helenas’ em entrevista exclusiva

Regina Duarte abre o coração em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil sobre carreira, polêmicas e nova fase

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Foto: @caiokitade

A eterna namoradinha do Brasil! Dona de um dos títulos mais famosos da teledramaturgia brasileira, Regina Duarte (77) celebra com a vida e a arte, o rastro indelével de talento e apreço pelo ofício da atuação. Em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil, a atriz compartilha lembranças inéditas de sua carreira, revela seu amor pelas ‘Helenas’ que já interpretou e entrega se viveria mais uma vez a personagem icônica do autor Manoel Carlos! 

 

Ainda, durante o bate-papo, Regina aproveita para falar sobre sua nova fase, polêmicas recentes, e hates que recebe na internet: “As pessoas destilam  suas irritações por mim como se eu não tivesse direito de, como elas, fazer  minhas escolhas”, comenta. Confira abaixo, a entrevista completa: 

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Foto: @caiokitade
Você é a atriz que mais viveu as ‘Helenas’ de Manoel Carlos! Em História  de Amor (1995), Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006), você deu um verdadeiro show de atuação e se consagrou como a musa do autor. Dentre elas, você tem uma favorita? Voltaria às telinhas como Helena novamente?

Não me sinto autorizada a escolher a “favorita” entre as três Helenas do Maneco que tive a honra de interpretar. O que você chama de “show de atuação” me honra muito, mas é preciso esclarecer que a qualidade básica de uma personagem na forma como se concretiza na telinha deve-se em primeiro lugar ao autor.  

O Manoel Carlos tem uma extraordinária capacidade de “radiografar” um ser humano em sua complexidade, o que oferece chances magníficas de atuação aos atores que dão vida às suas criaturas. É na armadura do texto escrito que nós, atores, injetamos a pessoa que somos pra somar com a figura humana que recebemos dele para traduzir ao público.  

As 3 Helenas que tive o privilégio de interpretar foram como minhas filhas e é difícil escolher quem é o melhor filho assim como é dificílimo julgar quem foi a melhor mãe. 

Interpretar mais uma Helena do Maneco? Sim, faria isso feliz da vida, sem a menor sombra de dúvida. 

   

Quando começou a ser conhecida como a Namoradinha do Brasil, você entendia o motivo? Em algum momento, fez um movimento para se desvencilhar dessa identidade? 

Sim. Entendi que o meu trabalho fazia sucesso quando terminei Selva de Pedra da Janete Clair. Meu par romântico era Francisco Cuoco, parceiro extraordinário. A novela já tinha alcançado 100% de audiência e antes mesmo de terminadas as gravações, fui convidada para comandar um SHOW no Canecão/RJ intitulado “Regina Mon Amour”. Achei um máximo! Ali, eu pude conversar com a plateia, declamar poemas e dançar com o corpo de baile comandado pela Vilma Vernon. Ficamos três meses lotando a casa de shows. 

Para mim resultou também, na possibilidade de comprar na Barra da Tijuca uma casa de três quartos com um terreno ao lado onde construí uma piscina. O bairro tinha então só 30 casas, uma Igreja em construção e um armazém, o “Três Poderes”. Ficava na Rua Pedro Bolato, uma rua de terra que terminava numa praça que era usada também como campo de futebol. Eu tinha um filho de 2  anos e pude concretizar o sonho de proporcionar a ele uma infância parecida com a minha, em São Joaquim da Barra. 

Lembro de na época ter pensado: “Cheguei lá!”. 

Alguns anos depois, quis me libertar da namoradinha. Senti que estava me repetindo e pedi ao Boni que me liberasse do contrato com a Globo. Disse a ele que precisava passar dois ou três anos fazendo teatro para que produtores, autores e diretores pudessem ver as minhas possibilidades de atriz para interpretar mulheres diferentes da doce namoradinha. Iara Amaral, minha amiga e vizinha na Barra, me sugeriu então montar “Réveillon” do jornalista mineiro Flavio Márcio. A Produção foi comandada pelo meu marido na época, Marcos Franco e teve direção de Paulo José. Iara fazia a minha mãe, Sérgio Mamberti era meu pai, Mário Prata, meu irmão e Enio Gonçalves, meu namorado. Viajei  pelo Brasil todo com este espetáculo. 

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Foto: @caiokitade
Você se tornou atriz em uma época em que muitas mulheres se inspiravam nas personagens de novelas. Como sente que influenciou essa geração e quais qualidades imagina ter atribuído a elas? 

Acredito muito numa troca. Eu me inspirava nas mulheres com quem convivia: mãe, primas de Avaré, amigas e também nas atrizes de cinema como Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, Eva Wilma, Norma Bengell. Acredito que andei conseguindo transmitir ao público, através das personagens que interpretei, o jeitão e jeitinho da mulher brasileira.  

     

Atualmente, com 77 anos, você tem boas histórias para contar. E na televisão, quais delas mais se destacam em sua memória? Lembra de alguma cena engraçada, triste ou curiosa?

1 – No ano de 1974 recebi o troféu de melhor atriz das mãos do Silvio Santos e agradeci dizendo: - “Agradeço à Comissão julgadora, mas... Vivinha, este prêmio é seu. Seu trabalho como as gêmeas Rute e Raquel é magnifico, imbatível”. No dia seguinte enviei a ela o troféu com flores e um bilhete: - “Minha  querida Eva Wilma, você esteve soberba em ‘Mulheres de Areia’ abraços de sua fã... Regina”. Um bilhete meu e as flores dela se cruzaram com as minhas no meio do caminho. Depois disso nem a Porcina de “Roque Santeiro”, conseguiu fazer com que eu entrasse na lista das indicadas ao prêmio (risos). 

2 – Numa das cenas de Porcina com Sinhozinho Malta, o Lima e eu começamos a ouvir os cameramen rindo baixinho. Era um riso segurado, tipo mão na boca e desatamos os dois a rir também. – “Corta, para tudo. Voltando do início!”. No meio da cena mais risos. Na terceira tentativa Lima e eu é que não conseguimos mais nos segurar e deu-se a mesma coisa: ataques frenéticos de risos. Pelo  talkback o diretor Paulo Ubiratan, um querido, com voz de poucos amigos já que tinha um enorme plano de roteiro para cumprir, decretou que a cena ficaria para ser gravada no final do dia. Imploramos: “Ah, não, Paulo, vamos tentar mais uma vez, por favor?”. Aí a cena saiu. Já tínhamos desgastado toda a graça. 

    

Após a sua recente passagem pela política e afastamento da televisão, como você tem lidado com os comentários nas redes sociais? Como se blinda da negatividade e o que faz para receber o amor de tantos fãs espalhados pelo Brasil? 

A Primeira coisa a destacar é que está cada vez mais difícil me blindar as coisas dão sempre um jeito de chegar até mim. Tenho celular, participo do Instagram, sofremos um momento de intensa polarização. As pessoas destilam suas irritações por mim como se eu não tivesse direito de, como elas, fazer minhas escolhas. Só fico triste de ver o tanto de oportunidades que se desperdiça trocando farpas com quem pensa diferente ao invés de dialogar.  Seria tão útil, tão importante usarmos a internet para troca educada de opiniões... poderíamos nos unir na construção de uma sociedade melhor. Ainda que por caminhos diferentes. 

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Foto: @caiokitade
Sua filha, Gabriela Duarte, também decidiu ser atriz e estrelou grandes sucessos da televisão brasileira, assim como a mãe rs! Como foi vê-la seguir os seus passos e contracenar junto com ela em “Por Amor”? Você  dava muitos conselhos e boas dicas durante o processo? 

A Gabi nasceu com o que chamamos de “Dom”. Aos três anos a família toda, os amigos e eu já sabíamos que ela tinha talento, que seria atriz. Aos oito anos, já alfabetizada desde os seis, adorava tomar os meus textos, me ajudava muito na tarefa “decoréba”, às vezes eu concordava que ela fosse comigo ao teatro, mas ela não ficava no camarim, como deveria, com a babá. Ficava sentadinha na coxia, na altura do primeiro cortinado, assistindo “O Santo Inquérito” de Dias Gomes, com direção de Flavio Rangel.  

Conselhos e boas dicas? As trocas que os atores fazem entre si sobre as cenas são muito raras, a gente sempre espera que o diretor faça isso. Os desempenhos da Gabi em Por Amor e Chiquinha Gonzaga, pra resumir suas atuações no teatro, no cinema e na TV, falam mais e melhor do que essa “Mãe Coruja” poderia.

   

Qual o seu par romântico nas telinhas favorito até hoje e por quê? 

José Mayer, Fagundes, Lima Duarte? A química em cena sempre foi estimulante não só entre nós, mas também impactava o público. As pessoas amavam ver a gente “se amar”. 

   

Hoje, você também é artista plástica! Como surgiu esse interesse?  Atribui um significado a cada uma de suas artes? Compartilha com a gente como é o seu processo criativo! 

O fascínio por folhas, flores, sementes e cascas de árvores se deu em fevereiro de 2023, no Rio de Janeiro. Entre o apartamento onde eu me hospedara e a casa do meu filho eu atravessava parque grande com árvores centenárias. As flores, cascas dos troncos e folhas envelhecidas caídas, começaram a chamar minha atenção. Assim iniciei um processo de levar pra casa lavar, secar e prensar em livros. Em seguida, o que fazer com aquela quantidade enorme de folhas que foram sendo acumuladas? Iniciei então uma busca de caixas de papelão pelos lixos do condomínio e quando voltei a SP em fevereiro continuei fazendo as colagens. Minha nora, Bettina Raviolli, expert em Pesquisa e Consultoria do Mercado de Arte esteve em meu estúdio, viu algumas de minhas obras e me sugeriu que fizesse uma exposição individual que acabou acontecendo na Aqua Arte / Moema em outubro de 2023. 

Os quadros raramente têm uma proposta antecedendo a obra, ao contrário. O significado da obra vai se impondo ao longo do processo de colagem. É intuitivo e quando termino eu olho pra ela e digo: - “Vida longa pra você, amiga. Tamos juntas torcer pela preservação da nossa Natureza. 

A gratificação maior vem com a resposta das pessoas que chegam perto do que estou expondo. Muitas dizem que depois de verem meus quadros não conseguem mais deixar de observar árvores, folhas, flores, raízes e sementes nas ruas. Acredito que isto signifique o crescimento de uma possível consciência de amor e preservação de uma natureza que nos fornece no mínimo oxigênio e alimento, elementos vitais para nossa vivência no planeta.

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Foto: @caiokitade
E quando o assunto é o etarismo… como você lida? Isso te traz algum bloqueio ou você lida bem com a idade? 

Estou vivendo a melhor idade da minha vida. Melhor que isso só a minha primeira infância. A vivência adquirida com sete décadas me permite, como diz um texto do Edward Albee na peça “Três Mulheres Altas”, “ver o panorama da vida do alto da montanha”. E olho tudo a minha volta e gosto da minha vista. 

   

Manter-se tão ativa e jovial durante anos nas telinhas não deve ter sido uma tarefa simples. Quais os seus principais segredos de beleza e autocuidado? 

O fato de ter enveredado para a profissão de atriz me fez prestar atenção em cuidados extras com a minha aparência. Afinal estive sempre sujeita a expor meu rosto em closes. Levei três anos tentando aceitar os cabelos brancos de agora e no ano passado, afinal, parei de pintar assumindo a idade que tenho e tudo o que isso significa.  Estudei Balé dos 8 aos 18, fiz Jazz, Pilates e atualmente faço Yoga, Musculação e caminho 1 km na esteira em condicionamento para o meu coração.

A minha dica numero um aprendi com minha mãe: a indispensável limpeza da pele todas as noites. Nunca dormi sem tirar o pó da poluição das ruas, a base, protetor solar, rímel, o que quer que possa impedir a pele de respirar. Bebo bastante água, mastigo as colheradas pelo menos 30 vezes, tenho cabelos superfinos e escassos que estimulo com babosa alternada com casca de banana no couro cabeludo pelo menos uma vez por semana. Quebro meu jejum da noite com água morna e tomo um chá quente de limão com pedacinhos de gengibre e alho.  

   

Quanto aos seus figurinos nas novelas, você tinha um estilo favorito?  Como uma verdadeira artista, como você se relaciona com a moda?  

Estilo favorito para os personagens? Não. Quem define como ela se veste é a pesquisa sobre a posição financeira e cultural da personagem. Começo sempre conversando com o / a figurinista e a primeira pergunta é: - “como você  acha que ela se veste?”, isso me ajuda muito a participar da composição. Quanto a mim mesma, continuo cultivando meu gosto por um estilo “hippie” típicos dos anos 70: roupas largas e confortáveis alternadas com legging e camisetões para o dia a dia. 

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Foto: @caiokitade
E o que não pode faltar em sua geladeira? 

Molho Pesto, cebola e Pinhole. Adiciono essas maravilhas a tudo: macarrão, omelete, torradas e etc. 

    

Regina Duarte não existe sem… 

Minhas gatinhas, meus livros, música clássica, meus amigos, tintas, folhas, cola e papelão. Uma boa reunião em família com tudo o que se tem direito também é adorável: relatos das novidades, discussões acaloradas sobre temas variados e boas gargalhadas. 

   

Uma qualidade, que um dia você já considerou um defeito:

O ouvir e o falar numa conversa, são requisitos importantes. Quando mais jovem eu era muito falante, procurava impressionar, pura insegurança. Com o tempo fui aprendendo que ouvir é fascinante, se aprende é educativo. O interlocutor, estimulado, pode ter histórias que um dramaturgo jamais poderia imaginar. 

   

Um desafio em que você embarcaria sem pensar duas vezes: 

Eu adoraria poder encarar o desafio de liderar a ideia de um Instituto de Educação para talentos jovens de baixa renda. Talentos de A a Z.  

  

Um lado seu que poucas pessoas conhecem: 

Tenho uma característica que só quem convive comigo percebe. Quando descubro e me apaixono por alguma coisa fico querendo e insistindo pra que todo mundo conheça e se apaixone também. Por exemplo, agora estou vendo o seriado “The Chosen”, na Netflix. É fascinante, é imperdível. Eu sei, a ladainha pode se tornar irritante. (rsrsrsrs).

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