Suíça: um destino dos sonhos!
Nas quatro estações! Conhecida por sua relojoaria de luxo, chocolates incríveis, hotelaria estrelada e paisagens que agradam em qualquer estação do ano, a Suíça é destino ideal para quem viaja sozinho, quer curtir o roteiro a dois ou ao lado da família
Em uma extensão de 41.285 quilômetros quadrados, tendo a Alemanha, a Itália e a França como vizinhas, a Suíça surge com as suas cadeias montanhosas que ocupam mais de 70% do território, produzindo paisagens alpinas indescritíveis. Habitado desde os primórdios por tribos celtas, sobre- tudo os helvécios, e depois pelos romanos no ano de 58 a.C., o país também serviu de casa para os povos germânicos, que avançaram do norte do Rio Reno a partir do século 6 e se fixaram à leste do Rio Aar. Os francos e os burgúndios chegaram quase ao mesmo tempo e estabeleceram-se em uma faixa que seria mais tarde a França. Missionários de São Columba ergueram monastérios e dioceses em Sion, Saint-Gall e Zurique, além de outras áreas, ressaltando a forte presença do cristianismo no entorno. Com o passar da Idade Média, a região fez parte do Sacro Império Romano, até que as reformas na Igreja católica forçaram inúmeras disputas entre o papado e os nobres locais pelo controle das cidades e do desenho de suas fronteiras internas.
A configuração dos estados suíços, chamados de cantões, que resistiram até mesmo às tentativas de mudança de Napoleão Bonaparte, por volta de 1798, manteve a independência, a cultura, a religião e a estrutura administrativa e financeira dessas áreas – dos 26 cantões, o mais populoso é o de Zurique, com 1,4 milhão de habitantes, enquanto o semicantão de Appenzell conta com aproximadamente 15 mil moradores. E por essa vocação à resistência externa, a Suíça acabou no topo da neutralidade, permitindo-se não opinar e não compactuar com conflitos mundo afora (apenas agora, em 2022, a bandeira branca foi engavetada depois que o Conselho Federal repudiou publicamente a guerra entre Rússia e Ucrânia).
Para (re)visitar este roteiro cheio de atrações – a Suíça é um lugar que merece sempre uma nova parada –, a trip começou por um dos mais deslumbrantes destinos: o de Lucerna, onde o visitante pode apaixonar-se pelos detalhes da ponte de madeira coberta, a Kapellbrücke, passar por praças, monumentos e casas históricas ou conferir um dos eventos do KKL Lucern Culture and Congress Centre, projetado pelo arquiteto francês Jean Nouvel – mestre em tramar formas megalômanas delicadamente pontuadas pela luz. Com um tanto a mais de expectativa, no píer, embarquei no catamarã que atravessa o Lago Lucerna na direção da estação Kehrsiten e de lá tomei o funicular (um tipo de composição que tem os vagões presos a um cabo acionado por motor) para chegar ao Bürgenstock Resort.
A bordo do funicular – branco por fora e vermelho por dentro, com enormes janelas panorâmicas –, as primeiras impressões indicavam que o skyline seria memorável dessa cidade que assumia seus contornos de cartão-postal à medida que subia e me distanciava dela, passando pelos pinheiros nas paredes do maciço com suas copas nevadas e, finalmente, o complexo que se revelava no alto da montanha Bürgenberg, inaugurado por Franz Josef Bucher, em 1873. Enquanto a história desse endereço guarda passagens marcantes – servindo de pit stop para as atrizes Sophia Loren, habitué por algumas temporadas, e Audrey Hepburn, que se casou na capela erguida na propriedade, e tendo seu livro de entrada assinado pelo ator e diretor Charlie Chaplin e pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan –, os tempos atuais do resort de 60 hectares tiveram suas definições de luxo, de conforto e de eficiência atualizadas.
Do ponto central planejado na sala de estar emoldurada por vidraçarias, os hóspedes fazem as refeições e aproveitam os arredores para curtir a natureza e o lago. Nas proximidades, há uma charmosa loja de doces e de biscoitos, que durante as festas natalinas é convertida em uma fábrica pilotada por um cover de Papai Noel. O complexo conta com três hotéis, sendo um deles totalmente dedicado ao spa, onde dá para experimentar uma técnica que oferece uma imersão numa câmara a 110oC negativos, que faz o metabolismo acelerar, a memória melhorar e as dores serem amenizadas.
O mais bacana de ficar instalado no local é caminhar pela vizinhança, mesmo na neve (com roupas apropriadas), e curtir as fazendas que produzem queijos artesanais, o chocolate quente que quase sempre vai testar o seu paladar como se fos- se o melhor do mundo e o elevador panorâmico que permite avistar o horizonte. Ao retornar, no cair da tarde, vale relaxar à beira da piscina de borda infinita e tomar um drinque.
Na pequena vila de Grindelwald, na região de Jungfrau, o Belvedere Grindelwald preserva a atmosfera acolhedora de casa de família de verdade, capitaneado pelo próprio dono – que compõe a terceira geração da família Hausers (o décor é preenchido por fotografias de cada um dos membros do clã). Um momento inesquecível: o proprietário fez, ele mesmo, um steak tartare. Levou o carrinho até à mesa de jantar e prepa- rou a iguaria em meio às histórias sobre a receita de origem secular. O lugar, inaugurado em 1907, está cravado na face norte das montanhas de Eiger e de Wetterhorn, com fácil acesso para restaurantes, lojinhas típicas e outras hospedarias tradicionais – mas, se a ideia é aproveitar o hotel, divirta-se numa partida de bilhar com os residentes habitués. Bem pertinho dali fica a estação ferroviária mais alta da Europa, que atravessa paisagens surpreendentes e geleiras eternas até as pistas de esqui. Mas se os planos forem visitar a Suíça durante o verão, aproveite esse trecho para praticar esportes de aventura e explorar as dezenas de trilhas. Ou seja, sempre existem bons motivos para elegê-la como parada obrigatória.
No Hotel de La Cordée des Alpes, a turma que tem adrenalina correndo pelas veias não pode deixar de fazer um voo de paraglider, que promete ser um programa sem precedentes. Mas como o esqui é a sensação do inverno, com pistas de diferentes níveis, vale transitar entre as obras de arte da Fundação Verbier 3D, que promove a arte contemporânea, o ambientalismo e a educação por meio do seu encantador “parque de esculturas a 2.300 metros de altitude”, aberto desde 2010. Sob a curadoria de Madeleine Paternot e de Kiki Thompson, a ideia é apoiar talentos emergentes e outros já consagrados, tirando os artistas de suas zonas de conforto. Dá para conferir trabalhos de Olaf Breuning, James Capper, Zak Ové e Will Ryman. É um lugar absolutamente chique, ideal para ver e ser visto, e arrasar nos modelitos fashion das grifes famosas. Há também uma feirinha recheada de suvenires, perfeita para as compras de última hora.
Mas antes de se despedir de um dos destinos mais agradáveis do globo, passe por Montreux – e o mais legal é que todo o deslocamento interno na Suíça pode ser feito de trens, sempre confortáveis e pontuais. Entre o lago de Genebra e as colinas, o lugar conquistou fama graças ao Festival de Jazz (que acontece em julho), aos seus calçadões floridos contornados por prédios da belle époque e às construções medievais, com muralhas, capelas e o castelo Chillon, datado do século 14. Tem até uma estátua do Freddie Mercury, eterno vocalista do Queen. Para acertar em cheio, a dica é hospedar-se no Fairmont Le Montreux Palace , reconhecido por sua elegância, e que conta com 236 quartos, pé-direito alto e é todo em art déco, circundado por vistas espetaculares. De tão requintado, até a imperatriz Sissi, do império austro-húngaro, e o escritor Vladimir Nabokov, autor do best-seller Lolita, fizeram check-in ali. Dizem que foi sentado em uma cadeira estrategicamente colocada no terraço do quarto que ele escreveu quase o livro todo. Enfim, agora é arrumar as malas e aproveitar para conhecer a Suíça ainda este ano: o Natal é uma das melhores épocas para aproveitar as belezas naturais e conferir a magia que só acontece durante essas festividades.