Viagem

Vila Nova de Gaia: história e gastronomia no norte de Portugal

A revitalização de caves do vinho do Porto resultou em um impressionante quarteirão cultural em Vila Nova de Gaia, norte de Portugal. O ambiente é imersivo, rico em histórias e interessante para toda a família.

Gaia
FOTOS: PAULA ROSCHEL / JORNALDAMODA CONTEÚDO E DIVULGAÇÃO

Na varanda do mais novo restaurante com assinatura do chef duas estrelas Michelin Ricardo Costa, o Mira Mira, um casal simpático transita entre convidados do soft opening que exalta a sazonalidade da gastronomia portuguesa. Sorridentes, perguntam se todos ali gostam do menu de entradinhas. Eles são Adrian e Natasha Bridge, uma dupla que decidiu, por meio da cultura, dar novos ares a uma região mundialmente conhecida como o abrigo do famoso vinho do Porto: os históricos barracões de Vila Nova de Gaia. Além dos dois seguirem com os negócios da família, de produção e distribuição desse tipo de bebida de gosto adocicado e complexo, que arrematou o coração dos ingleses antes de ganhar o mundo, eles partiram para a missão de promover conhecimento. “O futuro do turismo está baseado nas experiências, nas informações”, comenta Adrian entre um canapé e outro.

O projeto em questão é o WOW, uma edificação que manteve as características históricas da beira do Rio Douro e que agora abriga sete museus, 12 restaurantes e bares, entre eles o Mira Mira, uma área para eventos e uma renomada escola de vinhos.

A versátil cortiça

Iniciando o tour pelo WOW, uma escolha certeira como primeira parada é o The Planet Cork. Com uma réplica de um sobreiro gigante já na entrada, árvore do gênero dos carvalhos, você percebe que esse museu também é ótimo para entender um pouco mais sobre biologia e sustentabilidade. Cerca de um terço da área total de floresta dessa espécie, cuja casca é conhecida por sua resiliência, encontra-se em Portugal, país que é o maior produtor mundial de cortiça. Hoje em dia os Montados, como são chamadas as áreas de sobreiro, funcionam como sistemas agroflorestais multifuncionais, possibilitando que o terreno onde está fique ecologicamente equilibrado, graças à capacidade da espécie em travar a desertificação e a erosão do solo, sustentar a biodiversidade e reter grandes quantidades de gás carbônico. No The Planet Cork você também descobre que o uso da cortiça como rolha, que é a forma mais conhecida, tem origem francesa e se deve ao monge Dom Pierre Pérignon que, em 1678, deu ao material essa aplicação, porém foi popularizada pelos ingleses, tornando-a algo global. Você irá aprender, ainda, que, se feita de maneira correta, a retirada da cortiça não agride as árvores, além de ser um material muito versátil e sustentável.

The Planet Cork

Na sala de aula

Ainda passeando pelo mundo dos vinhos, a poucos passos desse universo sobre a cortiça, você pode fazer uma prova simples ou um curso na The Wine School. Aproveite para apreciar rótulos locais, como os do Dão, de Alvarinho e do Douro. Além disso, existem provas personalizadas e programas mais robustos de aprendizado, com os certificados Wine & Spirits Education Trust (WSET), para os níveis 1 e 2, em português e em inglês. A qualificação WSET é a maior e mais reconhecida do mundo no segmento dos vinhos, com uma história de mais de cinco décadas.

Universo de experiências

Já no The Wine Experience, um dos maiores museus de vinho do mundo, você aprenderá sobre plantio e colheita das uvas, a produção e a degustação em uma experiência imersiva. É importante destacar que todas as fotos e os vídeos apresentados neste e nos outros museus do complexo foram produzidos localmente e com exclusividade. Esse conteúdo unido a uma cenografia espetacular faz com que a experiência seja ainda mais agradável.

Mais extravagante e divertido, há também o Pink Palace. Essa espécie de parque de diversões para adultos é a área para quem gosta de ambientes “instagramáveis”, mas sem deixar de lado informações relevantes sobre outro tipo de vinho, o rosé.

The Chocolate Story

Com bagagem

Saindo um pouco da enologia, o complexo também oferece um museu dedicado à história do chocolate. E não pense que as informações falam apenas do doce que é tão consumido mundo afora. A ideia ali é explorar a origem do cacau e sua faceta ritualística e sagrada. Ele já foi usado para simbolizar o sangue e para dar encantamento aos mestres espirituais de civilizações pré-colombianas. Esse também é o local favorito das crianças, inclusive com opções de workshops para que elas entendam mais sobre a delícia botando a mão na massa, literalmente.

Na saída de cada um dos museus você encontrará ótimas lojas temáticas. Com artigos made in Portugal, você consegue comprar itens em cortiça, conservas de peixes e peças em filigrana, arte manual que trabalha delicados fios de prata e ouro, entrelaçados e soldados.

Do Porto

Para quem gosta de história e de geografia, há o museu Por- to Region Across the Ages. Nele você aprenderá, entre outras coisas, sobre esse local que é um dos mais antigos habitados pela humanidade na Península Ibérica. Ali você absorve conhecimento sobre os povos originários da região, assim como a presença celta e romana. Aliás, estes últimos decidiram manter o nome muito provavelmente celta da região noroeste da Península Ibérica, Cale, mas também começaram a chamar o porto mais próximo dali de Portus. Portanto, foi daí que surgiu a nomenclatura Portus Cale, a origem da palavra “Portugal”.


E por que o peixe é tão consumido no país? Muito disso se dá pela abundância de vida marinha do Norte de Portugal, ou seja, na região do Porto e Vila Nova de Gaia. Por ficar na costa Atlântica, onde o impacto da corrente do golfo nas proximidades traz água salgada muito fria, e em profundidade, é uma ótima condição para a vida marítima abundante e, com isso, a pesca. Atum-albacora, carapau, cavala, linguado, robalo, sardinha, lula e polvo são encontrados ali. Para o turismo, o ano todo é momento para visitações. No inverno, a média de temperatura é de 14 oC. No verão, 25 oC. Coloque na mala um guarda-chuva, pois precipitações podem acontecer em alguns períodos do dia, mas passam logo, sem atrapalhar o roteiro.

Porto Region Across the Ages.

Atravesse a ponte

Além do complexo de museus WOW, não deixe de ir caminhando até o outro lado do Douro, no Porto. Entre as atrações mais cobiçadas dessa cidade histórica está a Livraria Lello, considerada por muitos como a mais bela do mundo. Situada na Rua dos Carmelitas, data do início do século 20. Mas se prepare para a fila e também um alto número de visitantes. O ideal é comprar o ingresso, que custa 5 euros, valor que é abatido na compra de um livro, online e um ou dois dias antes do passeio. Vale o esforço? Vale!

Outro bom passeio é uma caminhada pelos jardins da Casa de Serralves, único exemplar da arquitetura Art Déco em Portugal. A Igreja dos Carmelitas e a do Carmo também são áreas bastante procuradas por turistas. A primeira data de 1628 e a segunda foi construída no século 18. São ótimos exemplos do barroco portuense.

Quando o assunto é gastronomia, é imperdível experimentar a famosa “francesinha” do Porto. Primo do croque, o prato criado na região ainda leva molho de tomate com ingredientes secretos e batata frita, que pode ser refilável (maravilhoso). A francesinha pode ser encontrada na versão clássica, com carne, ou vegetariana. O prato harmoniza muito bem com cerveja e é ótimo para “curar ressaca”. Também experimente os vinhos do porto gaseificados, que são bem difíceis de encontrar em outros lugares do planeta. Aliás, Portugal é um país onde come-se e bebe-se muito bem. Esteja aberto às sugestões dos chefs e seja feliz. Sobre hospedagem, apesar da grande oferta no Porto, para quem busca tranquilidade ficar em Vila Nova de Gaia é a melhor opção. Gaia não está longe dos principais pontos turísticos históricos (uns 20 minutos caminhando tranquilamente), fica perto da área em que as embarcações saem para passeios pelo Rio Douro e ainda tem uma atmosfera de pequena cidade, mais calma, com ruas mais vazias. Para quem aprecia o extremo conforto, o The Yeatman é a melhor pedida. Esse hotel vínico tem uma das vistas mais bonitas do mundo, para a Cidade do Porto, patrimônio da humanidade, e Rio Douro. Ele faz parte da cadeia de luxo Relais & Châteaux, o que por si só já diz muito sobre hospitalidade. As varandas de cada uma das suítes, voltadas para o rio, o convidam para descansar enquanto degusta pastéis de nata e toma uma taça de vinho. É um hotel em que o tempo parece passar mais devagar, no ritmo do relaxamento que só uma boa viagem proporciona.

Para fechar a experiência, antes do longo voo para o Brasil, guarde algumas horas para apreciar tratamentos de spa dentro da propriedade. Além de ótima massagem relaxante e drenante, o espaço conta com uma das piscinas com a vista mais impressionante do destino. É o momento ideal para acalmar a mente, lembrar de todas as experiências vividas ali e já pensar em um próximo encontro com esse pedacinho aconchegante e com uma população local simpaticíssima. Em Portugal, é difícil um brasileiro não se sentir em casa.

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WOW: complexo com museus, restaurantes, bares e uma escola do vinho
A vista exuberante de Vila Nova de Gaia.

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