Wellness

Ansiedade: emoção ou doença? Especialista em neurociência explica

A ansiedade pode se expressar através de sintomas cognitivos, emocionais e somáticos; entenda as causas e principais tipos

head person face sad child female girl
Foto: Pexels

Ansiedade antes de realizar uma prova ou de falar em público, quem nunca teve? "A ansiedade é uma emoção que denota preocupação", aponta a Dra. Nina Ferreira, médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia. No entanto, quando essa emoção é caracterizada de forma intensa e fora de controle, é nomeada de transtorno e precisa de tratamento médico.

De acordo com um mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Já a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) aponta que a maioria das pessoas afetadas são do sexo feminino.

Se você já teve seu trabalho, estudos e relações prejudicadas pela ansiedade ou conhece alguém que precisa identificar e amenizar esses sintomas, leia a entrevista completa com a especialista no assunto. 

head person face adult female woman pain sad knitwear sweater
Foto: Pexels

L'Officiel: O que é ansiedade?

Dra. Nina Ferreira: A ansiedade é uma emoção que denota preocupação. Uma certa apreensão, um preparo em relação a algo novo que precisa ser adaptado para se reagir. Já os transtornos de ansiedade se caracterizam quando essa ansiedade é muito intensa, que é percebida como fora de controle, gera um sofrimento grande e prejudica o indivíduo nas atividades de vida diária. 

L'Officiel: Existem tipos de ansiedade?

Dra. Nina Ferreira: Sim. Existe o transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade específica, transtorno de ansiedade por doenças etc. Existem diversas formas da ansiedade se mostrar como doença ou transtorno de pânico, por exemplo, mas depende das características dos sinais e sintomas de como ela se manifesta. Tudo é ansiedade patológica, mas em cada quadro ela se manifesta de uma forma diferente.

head person face adult female woman
Foto: Pexels

L'Officiel: Quais são os principais sintomas?

Dra. Nina Ferreira: Existem três grupos de sintomas. Os sintomas cognitivos mentais, que são a preocupação excessiva, a aceleração de pensamento, o sofrimento antecipatório e a catastrofização. Os sintomas emocionais, que são a angústia, o medo e a insegurança. E os sintomas somáticos, que são a dor no peito, a falta de ar, o tremor, a sudorese, a taquicardia etc. 

L'Officiel: Quais são as causas mais recorrentes de ansiedade?

Dra. Nina Ferreira: Para se caracterizar um transtorno de ansiedade, no geral, diversos fatores corroboram para o desenvolvimento da patologia. Muitas vezes a pessoa tem uma predisposição genética. Outras vezes, são acontecimentos da vida que vão formando padrões ansiosos de pensar, sentir e agir. Às vezes, são eventos agudos que desencadeiam esse começo dessa ansiedade patológica. Mas muito mais importante do que os acontecimentos, é a forma como as pessoas reagem a eles. O que elas pensam, como elas se sentem, como elas agem. Isso é o maior diferencial em desenvolver o não transtorno de ansiedade.

head person face pain
Foto: Pexels

L'Officiel: Ansiedade e medo estão sempre associados?

Dra. Nina Ferreira: O medo tem uma característica mais específica, é um sofrimento muito intenso e mais focado. Por outro lado, a ansiedade é uma coisa mais difusa. Ela não tem muitas vezes uma ameaça específica, mas é uma sensação de apreensão constante. Mas é muito comum que eles estejam interligados, sim.

L'Officiel: A ansiedade é uma doença? Tem cura?

Dra. Nina Ferreira: Para a ansiedade ser classificada como doença, vai depender da intensidade, da persistência e do nível de sofrimento que ela causa na pessoa. A ansiedade por si só é uma emoção que sinaliza algo preocupante. Ela é uma emoção importante, inclusive, para a sobrevivência da espécie humana. Agora, os transtornos de ansiedade, aí sim, eles são patologias. A gente não usa o termo cura, mas sim remissão completa, que é quando os sinais e sintomas patológicos cessam, param de acontecer. Não é que a pessoa para de ter ansiedade, mas ela consegue não ter mais ansiedade excessiva e não sofrer com isso. 

pain person face head
Foto: Pexels

L'Officiel: O que podem se tornar gatilhos para uma crise?

Dra. Nina Ferreira: Isso é muito individual e depende da história de cada pessoa. Quais são os traumas, as dores, as experiências prévias difíceis que ela teve na vida. Por isso que a gente precisa fazer o mapa mental de um para entender quais são os fatores que desencadeiam e mantêm a ansiedade patológica. 

L'Officiel: É possível evitar uma crise de ansiedade? 

Dra. Nina Ferreira: Sim, é possível aprender a lidar com a ansiedade de uma forma que ela não gere mais crises. Mas para aprender a evitar esses picos, a gente precisa entender como aquela ansiedade excessiva foi construída. A forma principal de conseguir fazer isso é se conhecendo, conhecendo as próprias dificuldades, as próprias forças e estruturando um plano para lidar com isso. Realmente, a psicoterapia é o caminho eficaz para conseguir lidar com essa ansiedade, porque não tem uma receita de bolo que possa funcionar para todo mundo.

number symbol text toy
Foto: Pexels

L'Officiel: Cite 5 coisas que ajudam a lidar com as crises de ansiedade

Dra. Nina Ferreira: A primeira coisa é o estilo de vida. O cérebro gosta de rotina, e quanto mais organizada ela for, menos ansioso ele fica. Além disso, ter uma alimentação rica em verduras, em legumes, em produtos naturais e pobre em açúcar, um sono reparador e praticar exercícios físicos é essencial. Outra coisa é ter momentos de silêncio e descanso, como pequenos intervalos durante a rotina, descansar, tomar um chá, ver o pôr do sol, ouvir uma música, relaxar. E a última dica é ter diversão. Um cérebro que tem prazer em viver vai ter menos momentos de ansiedade e de estresse. 

Tags

Posts recomendados