Bem-estar: se desconecte e embarque em uma viagem offline
A origem de um estado de equilíbrio duradouro, do corpo e da mente, pode ser a vibração subliminar da arte, com seus sons, suas cores e suas formas
Intangível bem-estar! A origem de um estado de equilíbrio duradouro, do corpo e da mente, pode ser a vibração subliminar da arte, com seus sons, suas cores e suas formas. Mergulhe nesse universo visitando quartos que são pequenas galerias, no Chile.
Nos anos 1990, era comum conhecer alguém que dedicava seu tempo livre às aulas de pintura, especialmente com a técnica óleo sobre tela. Os encontros aconteciam em pequenos ateliês, com turmas bem diversas compostas de crianças curiosas, jovens inspirados e senhoras comunicativas. Ali, transgrediam-se os limites da disciplina, sendo também sinônimo de socialização. Nessa mesma década, a ciência começou a validar a arte como ferramenta de promoção da saúde, especialmente a mental. Atividades como música ou desenho livre passaram a ser encaradas como um complemento à medicina tradicional, para amenizar sintomas de irritabilidade ou depressão. Em 2015, um artigo conduzido por Christina Davies, da Te University of Western Australia, evidenciou mais uma vez a relação entre arte e saúde mental. Indivíduos que se engajaram no tema por 100 horas ou mais relataram sentir um nível superior de bem-estar, se comparados com aqueles que não participaram das atividades.
Hoje, muitos são os que buscam passatempos analógicos para sentir-se bem, reduzindo o tempo de tela, dos computadores, celulares e televisão. Ficar muito tempo “online” transformou-se, para certas pessoas, em um anticlímax criativo. Desconectar-se da internet e do seu excesso de informações superficiais e mensagens que não param de chegar é, portanto, um desejo genuíno. Experts de hotéis, clubes e spas identificaram tal movimento e lançaram ampla carta de experiências de imersão em pintura, escultura, música e outras manifestações, assim como novos locais surgem para abastecer a demanda exponencial.
A sala dos cristais
Parte do singular projeto de hospitalidade idealizado pelo designer e arquiteto francês Philippe Starck, o hotel Rosewood São Paulo é um desses pontos de encontro entre a arte e o bem-estar. No quarteirão do antigo complexo hospitalar Matarazzo, próximo à Avenida Paulista, a arte contemporânea brasileira invade todos os ambientes, inclusive do recém-inaugurado spa. O Asaya SPA by Guerlain priorizou, assim como o restante da propriedade, obras que expressam a cultura local, com um twist europeu. Ali, abriga objetos produzidos por povos originários do Brasil, pratos com assinatura de Fabiano Senk e esculturas com plumas de Janaïna Milheiro.
O coração do centro de bem-estar é uma sala toda espelhada com centenas de cristais, de origem certificada, e uma poltrona sob luz amena. Ao fechar a porta, é como se você se escondesse do mundo e se abrisse para energias que brotam desses majestosos minerais, verdadeiras joias da natureza. Faz-se dali morada para uma sessão de meditação profunda.
São apenas seis spas Asaya em todo o mundo. Outro marco importante do projeto é que é o primeiro Spa Guerlain na América do Sul. E de arte essa marca quase bicentenária francesa entende muito bem. “A Guerlain foi criada por Pierre-François-Pascal Guerlain, em 1828, com a ideia de que a embalagem era tão importante quanto o conteúdo. Nada mais natural, portanto, chamar grandes artistas da época para parcerias. É como incrementar a beleza com um grande toque de excelência. Colocar arte em um spa da Guerlain foi um percurso natural da história dessa casa cujos fundadores sempre foram colecionadores, patrocinadores e apaixonados por arte. E não tem como negar que nos sentimos melhor apreciando esculturas ou fotografias. A arte nos eleva”, diz Ann-Caroline Prazan, diretora de Arte, Cultura e Patrimônio da Guerlain. Ao ser questionada sobre qual obra a tocava mais, Ann-Caroline lembra de um feito emblemático: uma colaboração com a Maison Matisse. “Foi fantástico, por acreditarem em mim e na Guerlain para produzir uma peça feita com o DNA de um artista que, para mim, assim como Picasso, foi extraordinário”, revela.
Complementando a experiência desse novo ponto de encontro para apaixonados por wellness, algumas das massagens oferecidas no complexo, que também conta com academia, área úmida com espreguiçadeiras em mármore aquecido e saunas, têm trilha sonora exclusiva. “Trabalhamos com uma empresa de Nova York de design sonoro e criamos uma playlist para cada espaço. Na recepção, por exemplo, você escuta algo com mais vivacidade, para você desacelerar gradualmente. Nas massagens, como a Forest Energy, há um mergulho entre ruídos da mata e canto dos pássaros”, conta Ana Flores, gerente de spa do Rosewood São Paulo.
Imersão completa
A 3.300 quilômetros do Rosewood, sobre uma colina rodeada por vinhedos e um majestoso lago, está o VIK Retreat, um hotel, spa e ponto de experiências de enoturismo que também fincou seus pilares na arte e na arquitetura. Cada quarto é uma instalação que abraça e promove uma imersão 360 graus, sob a curadoria de seus proprietários, Alexander e Carrie Vik. O casal estabeleceu seu primeiro empreendimento hoteleiro no Uruguai. Tendo como sonho produzir vinhos de alta qualidade, buscaram do outro lado da Cordilheira dos Andes o melhor terroir para alcançar uma complexidade única para o paladar e o olfato, que é melhor apreciada dentro dessa construção que vive em constante desenvolvimento. “Visamos trazer para nossos hotéis artistas, alguns mais conhecidos e outros em início de carreira, para criar essa atmosfera”, conta Carrie, que está fazendo uma vasta pesquisa em território brasileiro. Nos próximos anos o país receberá um centro de hospitalidade VIK, na Fazenda Vista Verde, em Araçoiaba da Serra, São Paulo.
“NÃO TEM COMO NEGAR QUE NOS SENTIMOS melhor APRECIANDO ESCULTURAS OU FOTOGRAFIAS. NOS ELEVA.”
ANN-CAROLINE PRAZAN
O prédio construído no Vale de Millahue, área produtora e exportadora de frutas no Chile, como pêssegos, uvas de mesa, maçãs e cerejas, chama atenção pelo teto flutuante, de bronze e titânio. O projeto visa unir as obras ali aninhadas, como pinturas de Roberto Matta e um díptico da série A vida secreta das plantas, de Anselm Kiefer, com a natureza circundante, por meio de grandes estruturas de vidro. Elas foram projetadas exaltando a ventilação natural, que entra e refresca os dois principais corredores, onde ficam as suítes com suas decorações singulares. Além dos quartos na estrutura central, os primeiros a serem inaugurados, há uma década, existem cabanas igualmente envidraçadas e também recheadas de obras. Destaque para o bangalô Shape of Women, com gravuras, mesa entalhada e escultura inspiradas no corpo feminino. Na bodega, desenhada para minimizar o impacto do homem sobre a natureza local, encontra-se um majestoso espelho d’água, com assinatura de Smiljan Radic e Marcela Correa. Ele funciona, além de um deleite para os olhos, como uma camada de resfriamento para o andar inferior, de armazenamento. Nesse subsolo o projeto foi concebido para dar a impressão ao visitante de estar em um barril. Na sala de degustação, ao fundo, arte que mimetiza as cores daquele solo rico em argilas, bem como estilhaços metálicos, sobras de material do prédio de hotelaria. A cada passo, portanto, o horizonte ganha linhas e formas. O visitante então vê os dias passarem enquanto descobre cada riqueza natural e humana.
NA bodega, DESENHADA PARA MINIMIZAR O impacto DO HOMEM sobre a natureza LOCAL, ENCONTRA-SE UM MAJESTOSO ESPELHO D’ÁGUA, COM ASSINATURA DE Smiljan Radic E Marcela Correa. ELE FUNCIONA, além DE UM DELEITE PARA os olhos, COMO UMA CAMADA DE resfriamento PARA O ANDAR INFERIOR, DE ARMAZENAMENTO.
Mais arte, por favor!
EAST MIAMI: neste hotel localizado em Brickell, área mais financeira de Miami, a arte está presente no lobby, no elevador, em outras áreas comuns e nos programas que convidam a comunidade de criativos locais a se expressar e mostrar o destino sob nova perspectiva, como o Urban Remix. Uma das obras ali expostas é um hipnótico mosaico de vidro cortado à mão, de Michael Curry, e uma obra abstrata da artista britânica Vesna Milinkovic, Into the Light. Esta última explora o senso cósmico de ultrapassar os limites das atividades comuns da vida cotidiana.
CASA MARAMBAIA: na Serra Fluminense, a mansão que abriga um exclusivo hotel com poucos quartos encanta pelo paisagismo. Seu enorme jardim tem a assinatura de ninguém menos que Roberto Burle Marx. Segundo apreciadores do arquiteto, paisagista e artista plástico, uma de suas criações mais belas.
THE UPPER HOUSE: em Hong Kong, a The Upper House é uma construção que abriga um hotel que parece flutuar sobre o skyline futurista do destino. Ele mescla influências do design asiático moderno com a arte contemporânea, especialmente esculturas. A decoração privilegia o uso de matéria-prima natural, como bambu e pedra calcária. E até a hora do relaxamento na banheira contém arte. Entre duas janelas de cima a baixo, bem em frente a uma ampla banheira, uma escultura de Marvin Fang, Cocoon.
LE MEURICE: fechando nossa seleção em solo parisiense, o Le Meurice é como uma galeria de arte com quartos confortáveis e ótimo serviço. Além das obras presentes nas áreas comuns e suítes, o hotel ainda promove caminhadas para seguir os passos de lendas, como Pablo Picasso, em Montmartre. Ele, inclusive, fez seu banquete de casamento na propriedade, o que torna tudo ainda mais interessante.
Agradecimento: Vik Retreat Chile em parceria com a Sky Airline e Guerlain