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Consumo de álcool e saúde mental: sua relação no período de festas

Tem coragem de cortar o consumo de álcool até as Festas? É o que sugere a hashtag que ganhou força depois de campanhas pelo bem da nossa saúde mental

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Foto: Zino de Groot / Unsplash.

Tem coragem de cortar o consumo de álcool até as Festas? É o que sugere a hashtag que ganhou força depois de campanhas como “Janeiro Seco”, “Julho Seco” e “Outubro Sóbrio”, pelo bem da nossa saúde mental. Saiba mais!

O ator britânico Tom Holland vem contando para todo mundo que parou de beber há quase três anos: começou aos poucos e agora, até marca de cerveja sem álcool lançou, a Bero. É possível que você tenha notado, em seu círculo social, alguém decidido a explorar a vida com menos vinho, caipirinhas, uísque. Pipocam pelo planeta campanhas que motivam mais e mais pessoas a desafiarem a si mesmas a ficar um tempo sem drinques e rever a relação com a bebida. E tem funcionado: muita gente está diminuindo o consumo de bebidas alcoólicas. Sim, parar de beber se tornou uma tendência identificada em 2017 que cresceu nos últimos anos e está ligada ao boom da saúde e do bem-estar. Sendo bem objetivas, quais seriam os benefícios de baixar essa Lei Seca, digamos, até as Festas? Spoiler: eles têm a ver com a sua pele, com o seu peso na balança, com o seu sono, com a sua disposição e até com a sua sanidade. “O álcool e a saúde mental têm um efeito bidirecional. Muitas pessoas acabam apelando para o álcool para se sentirem mais relaxadas e para acharem que estão um pouco mais felizes. E isso é um problema, porque na verdade o álcool faz o contrário. Ele é um depressor do sistema nervoso central. A questão principal é que ele inibe a inibição, por isso que a pessoa fica mais relaxada”, fala a psiquiatra Vanessa Favaro, diretora dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Algumas pessoas que têm problemas de saúde mental apelam para o álcool como se fosse um remédio, para se sentirem um pouco mais aliviadas. Ao mesmo tempo, o uso do álcool acaba desenvolvendo depressão, ansiedade, problemas de memória, de aprendizado. Além, é claro, de impulsividade e irritabilidade, o que vai piorando os relacionamentos.”

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Foto: Cottonbro / Pexels.

Efeitos globais

Quando você consome bebidas alcoólicas na sua rotina, vai gerando inflamação e morte de neurônios – e até mesmo uma atrofia cerebral. “Isso causa mudanças no jeito que você se sente e no jeito que age”, explica Vanessa. Para a mulher em idade fértil, pode causar até mesmo síndrome alcoólica fetal, então ele causa muitos malefícios. Para por aí? Não. 

“O hábito de consumir bebida alcoólica pode trazer consequências para as questões cognitivas, levando a memória a ter alguns lapsos, ser mais difícil fazer as tarefas do dia a dia”, alerta Karen Scavacini, doutora em psicologia pela USP, mestre em saúde pública pelo Karolinska Institutet (Suécia), especialista em prevenção e posvenção do suicídio, fundora do Instituto Vita Alere. “Crescem os riscos de agravamento dos sintomas depressivos, uma vez que afeta os neurotransmissores como a serotonina.” E, claro, altera a qualidade do sono e, consequentemente, a saúde mental.

Além das consequências físicas – no fígado, no acúmulo de gordura… –, o álcool pode ser um verdadeiro sabotador da saúde feminina. “Ele altera o equilíbrio hormonal, afetando desde o ciclo menstrual até a qualidade da pele. E não somente isso: aumenta o risco de câncer de mama e pode dar um trabalho e tanto para o fígado”, diz o endocrinologista Daniel Dorta Santiago de Carvalho Duarte, da Clínica Fares, em São Paulo.

Lua de mel zero álcool

Culturalmente, o álcool está ligado à recreação, ao entretenimento, ao relaxamento. “Os adolescentes começam a usar álcool muito cedo. Muita gente sequer sabe se divertir de outra maneira. Pessoas que são tímidas ou que são muito inseguras usam o álcool como um artifício para se sentir mais encaixadas, mais pertencentes ao grupo. Isso também tira a chance de elas descobrirem outras formas mais saudáveis de fazer isso”, analisa Vanessa. É fácil perceber que o consumo consciente e as pausas por 30 dias (ou mais) são ótimas oportunidades para pensar na sobriedade, mesmo que você ainda não esteja pronta para parar de beber definitivamente. “Logo no primeiro mês de suspensão do álcool acontece o que chamamos de lua de mel. Algumas pacientes falam: ‘Era só isso que precisava para não me sentir assim deprimida?’”, relata a psiquiatra.

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Foto: Karol Chomka / Unsplash.

Imagine acordar toda manhã se sentindo renovada, com energia de sobra e um humor incrível e sem aquela sensação de inchaço. Esse pode ser o resultado de dar um tempo no álcool. “Sua mente agradece de várias formas: humor mais estável, menos ansiedade, sono de qualidade e uma clareza mental que você nem lembrava que existia. Fica mais fácil focar aquele projeto de trabalho ou naquela meta de emagrecimento que você sempre quis alcançar”, aposta o endocrinologista. Acrescente à lista de benefícios mais tranquilidade e estabilidade para lidar com o dia a dia, mais disposição, clareza mental, memória, capacidade de concentração, diminuição nas oscilações de humor.

PAUSAS POR 30 DIAS (OU MAIS) SÃO ótimas oportunidades PARA pensar NA SOBRIEDADE (...). “LOGO NO primeiro MÊS DE SUSPENSÃO DO álcool ACONTECE O QUE CHAMAMOS DE lua de mel. ALGUMAS PACIENTES FALAM: ‘ERA SÓ ISSO QUE PRECISAVA PARA NÃO ME sentir ASSIM DEPRIMIDA?’”

VANESSA FAVARO, PSIQUIATRA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS (USP)

O que é considerado um consumo exagerado? Para os médicos e para a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de uma dose por dia para mulheres já entra na zona do excesso. Ou seja: uma taça de vinho (150 mililitros), uma latinha de cerveja ou 45 mililitros de destilados. Em uma celebração ou happy hour, pode parecer pouco, mas é importante ter essa referência porque, de fato, não existe nenhuma quantidade segura de uso de álcool.

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