Emagrecimento: ciência estuda como driblar o temido efeito platô
Cortar calorias é essencial para o emagrecimento, mas com o tempo, o corpo para de perder peso. Novos estudos tentam driblar esta situação. Entenda:
Muitas pessoas que embarcam em dietas se deparam com uma sensação frustrante ao longo da jornada: o peso perdido rapidamente nas primeiras semanas começa a desacelerar, e, com o tempo, a balança parece estagnar.
Esse fenômeno, conhecido como efeito platô, é uma das maiores dificuldades enfrentadas por quem busca resultados duradouros.
O que começa como um progresso animador acaba dando lugar a um cenário onde as ‘engrenagens do emagrecimento’ parecem parar de funcionar, gerando desânimo e dúvidas sobre a continuidade da dieta. Mas afinal, por que isso acontece?
Segundo a endocrinologista Dra. Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), o déficit calórico é fundamental para o emagrecimento, mas com o passar do tempo, o corpo sente a ingestão reduzida de calorias e responde desacelerando o metabolismo, fazendo com que o organismo queime menos calorias do que antes da dieta. O corpo percebe uma ameaça potencial de fome e se adapta conservando energia enquanto ainda realiza funções essenciais.
“Pode parecer incrivelmente injusto que o corpo não reconheça o objetivo da perda de peso e, em vez disso, trabalhe contra ele retendo calorias. Mas esse é um mecanismo ligado ao nosso processo evolutivo”, diz. “Até mesmo com o uso de canetas, algumas pessoas que tomam esses medicamentos descobrem que sua perda de peso atinge um platô após perder cerca de 20-25% do peso corporal”.
Como driblar essa situação?
Um novo estudo descobriu uma nova maneira pela qual o fígado regula seu consumo de açúcar e gordura, o que poderia potencialmente manter o emagrecimento mesmo após grande período de restrição calórica e, também, aumentar a eficácia de medicamentos para perda de peso e diabetes.
“O objetivo do estudo foi identificar genes no fígado para, posteriormente, desenvolver um medicamento que ajudasse a manter a queima de gordura ou açúcar em seu alto nível original, permitindo às pessoas a continuação da perda de peso além do platô habitual”, explica a endocrinologista.
As descobertas recentes são baseadas em modelos de camundongos, o que significa que os testes em humanos ainda estão muito distantes, e os possíveis tratamentos ainda mais distantes.
"Há um longo caminho entre os insights obtidos em experimentos com camundongos e a disponibilização de um medicamento no mercado. Mas eles identificaram o gene chamado Plvap em certas células do fígado de camundongos. A equipe sabia, por estudos anteriores, que humanos nascidos sem esse gene têm problemas com o metabolismo lipídico, uma conexão que a equipe de pesquisa decidiu investigar. Eles descobriram que o gene Plvap permite a mudança metabólica do corpo de queimar açúcar para gordura durante o jejum. E quando o Plvap é desligado – como os pesquisadores fizeram em seus ratos de laboratório – o fígado não reconhece que o corpo está em jejum e continua queimando açúcar”, explica a médica. “Em outras palavras, a equipe de pesquisa descobriu uma maneira totalmente nova de regular o metabolismo do fígado, o que pode ter aplicações médicas. Além da intrigante capacidade da supressão do Plvap "enganar" o fígado, fazendo-o pensar que não está em jejum, os pesquisadores também notaram que isso melhorou a sensibilidade à insulina e promoveu níveis mais baixos de açúcar no sangue. Sabemos que o açúcar elevado no sangue pode levar a complicações crônicas para pessoas com diabetes tipo 2. Entender esse gene pode ajudar diabéticos a regular melhor o açúcar no sangue no futuro”, completa.
Sobre o estudo
A equipe de pesquisa descobriu que o gene Plvap, que desempenha um papel no metabolismo lipídico em mamíferos, é expresso nas células estreladas no fígado de camundongos. Isso foi surpreendente porque as células estreladas não foram associadas anteriormente ao metabolismo lipídico. Para investigar isso mais a fundo, os pesquisadores desligaram o gene Plvap. A princípio, eles ficaram desapontados — os camundongos pareciam completamente normais. Mas quando os camundongos entraram em jejum, tudo mudou. Os fígados dos ratos não conseguiram queimar gordura e produzir cetona, o que normalmente acontece em todos os mamíferos saudáveis durante o jejum.
“Os programas metabólicos responsáveis por esse processo simplesmente não foram ativados. Embora a gordura tenha sido liberada do tecido adiposo para a corrente sanguínea, o fígado não a absorveu como esperado. Em vez disso, os ácidos graxos foram redirecionados para os músculos esqueléticos. Curiosamente, um fígado sem o gene Plvap ‘não reconhece’ que o corpo está em jejum. Como resultado, ele continua a queimar açúcar em um processo que parece benéfico para o metabolismo geral”, finaliza a endocrinologista.