Menopausa: cuidados com a saúde vascular podem prevenir varizes
A queda do estrogênio na menopausa pode aumentar fragilidade das veias, provocar diminuição da musculatura da panturrilha e favorecer ganho de peso, fatores associados ao aparecimento das temidas varizes. Entenda tudo sobre o assunto:
A menopausa é uma fase natural na vida das mulheres, marcando o fim da fertilidade e trazendo uma série de mudanças hormonais que podem influenciar a saúde de várias maneiras. O impacto disso no organismo é extremamente diverso, causando alterações em diferentes sistemas e levando ao surgimento de sintomas que não apenas podem prejudicar a qualidade de vida, mas também colocar a saúde da mulher em risco. Uma área frequentemente negligenciada durante este período é a saúde vascular, prejudicando a circulação e favorecendo o surgimento de varizes.
Segundo a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, as varizes são veias dilatadas e tortuosas que perderam sua função e afetam a saúde vascular, além de causarem certo desconforto estético. "Trata-se de um problema multifatorial, muito relacionado à genética, à obesidade e aos hábitos de vida. Mas algumas características comuns da menopausa podem favorecer o surgimento da condição", explica.
De acordo com o ginecologista Dr. Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS), o desequilíbrio hormonal característico da menopausa é o principal fator envolvido na maior incidência de varizes nessa fase. “Com a queda nos níveis de estrogênio que começa a ocorrer por volta dos 40 anos, as paredes das veias tendem a tornar-se mais frágeis, delicadas e suscetíveis à inflamação. Além disso, também há um afinamento da pele, o que faz com que essas veias fiquem mais aparentes”, pontua o especialista, que acrescenta que, na menopausa, o ganho de peso e a retenção de líquidos também ocorrem com mais facilidade, sendo, também fatores associados ao desenvolvimento de varizes.
Além disso, a perda de massa muscular nessa fase também está relacionada ao surgimento das alterações. “O estrogênio e a testosterona possuem um papel fundamental na construção e manutenção da massa muscular. Então, conforme esses hormônios diminuem, há um desgaste dessa musculatura, além de ficar mais difícil desenvolvê-la”, diz o médico. E essa perda de massa afeta toda a musculatura do corpo, inclusive a panturrilha, que desempenha uma função importante na circulação. “Enquanto o coração é o grande protagonista do sistema arterial, a musculatura da panturrilha é a principal responsável pelo retorno efetivo do sangue para o pulmão. Por isso dizemos que a panturrilha é o coração das pernas. Dessa forma, qualquer situação em que a panturrilha não funcione adequadamente vai piorar a circulação, diminuindo a velocidade do sangue dentro das veias e favorecendo o surgimento de varizes”, explica a Dra. Aline.
Quais cuidados podem garantir uma boa circulação?
Logo, durante a menopausa, é importante redobrar os cuidados para garantir uma boa circulação venosa, como manter o peso sob controle, parar de fumar, praticar exercícios regularmente e adotar uma alimentação balanceada, recomenda a Dra. Aline Lamaita. “Além disso, se você trabalha sentada ou passa muito tempo na mesma posição, é importante fazer pequenas pausas de tempos em tempos para andar um pouco e exercitar as pernas. O uso de meias de compressão também pode ser recomendado, pois, ao comprimirem os vasos sanguíneos da perna, melhoram a circulação e o retorno venoso”, acrescenta.
Porém, para quem já sofre com o problema, é indispensável buscar um cirurgião vascular para receber um tratamento adequado e prevenir complicações, como inflamações e até quadros de trombose, cuja predisposição já tende a ser maior na menopausa. Segundo a Dra. Aline, o tratamento vai depender do tipo e gravidade das varizes, por isso a consulta com o cirurgião vascular é tão importante. “Para varizes menores ou vasinhos, uma opção é a escleroterapia, onde uma substância química é injetada nas veias para fechá-las. Já para as varizes maiores, o médico poderá indicar laser, espuma ou até mesmo cirurgia. É possível, inclusive, combinar diferentes técnicas para o tratamento de varizes, como é o caso do ClaCs, que combina o laser transdérmico com escleroterapia (injeções de glicose)”, destaca.
E a terapia hormonal?
Tratamento eficaz e seguro muito utilizado para amenizar os sintomas da menopausa, a terapia hormonal é, de maneira geral, indicada para praticamente todas as mulheres. Para aquelas com varizes e predisposição genética a trombose, a prescrição dos hormônios requer uma avaliação e acompanhamento mais detalhada. “Na maioria das vezes a TH pode sim ser indicada, após cuidadosa avaliação dos riscos e benefícios. Precisamos levar em consideração, por exemplo, o histórico da paciente, a dosagem dos hormônios e a via de administração. Grande parte dos riscos conhecidos da terapia hormonal se dão pela administração incorreta ou pelo uso de hormônios sintéticos e por via oral, esquemas terapêuticos utilizados no passado e que hoje já não são muito empregados”, diz o Dr. Igor Padovesi.
É importante lembrar ainda que também existem riscos de não usar a terapia hormonal, incluindo, além da maior predisposição a varizes, aumento do risco cardiovascular, de osteoporose e fraturas, além da piora significativa da qualidade de vida para muitas mulheres. “Então, a recomendação das diretrizes atuais é de sempre individualizar o tratamento, pois os sintomas podem variar bastante e existem diferentes tipos de hormônios, doses e vias de administração. A avaliação por um profissional experiente é fundamental para dizer se você é ou não candidata ao tratamento”, completa o especialista em menopausa e um dos raros médicos que possuem esse título atualmente no Brasil.