Delphine Versace e Virginie Friedmann em entrevista exclusiva
Combinando diversos estilos com inteligência e responsabilidade, Delphine Versace e Virginie Friedmann estão mudando a arte da hospitalidade ao redor do mundo
Com seu universo solar, que combina diversos estilos com inteligência e responsabilidade, Delphine Versace e Virginie Friedmann estão mudando a arte da hospitalidade ao redor do mundo. Confira entrevista exclusiva com a dupla!
L’OFFICIEL O que as guiou até a decoração de interiores?
DELPHINE VERSACE Eu cresci no interior de Nice, com um pai marceneiro, um artesão, que trabalhava com as mãos e que produzia muitas coisas. Ele construiu nossa casa quando eu era pequena. Portanto, cresci nesse meio de obras e de construções. Muito cedo tive o desejo de trabalhar com arquitetura de interiores. Quando criança, praticava muitas atividades manuais, como cerâmica, escultura e desenho. Sempre tive essa necessidade de trabalhar com as mãos. Sou formada em belas-artes, em Marselha.
VIRGINIE FRIEDMANN Já eu precisei procurar um pouco mais, tenho a tendência de me cansar das coisas, então tive várias e diversas paixões. Mas, como Delphine, tive um pai que sabia fazer de tudo, desde um portão de ferro forjado até uma piscina. Ele era muito rápido e muito eficiente, sempre tinha algo a construir. Mas sua impaciência tornava qualquer trabalho com ele impossível. Não tinha a capacidade de transmitir conhecimento. Por outro lado, com meu avô, eu adorava ver casas bonitas. Sempre fui apaixonada pelo belo, e foi essa paixão que me levou à arquitetura de interiores. Mesmo que antes de começar tenha estudado direito, comércio, comunicação e organização de eventos… Portanto, vivi muitas experiências, entre elas com o decorador Michaël Malapert, quando conheci Delphine.
L’O Que lembranças vocês têm dessa experiência com Michaël Malapert?
VF Eu criei tanto um mobiliário quanto um universo inteiro.
DV E foi aí que percebemos nossa química profissional.
L’O Conte-nos sobre o início de Friedmann & Versace.
DV Depois de Michaël Malapert, partimos para aventuras freelance, o que não nos impediu de nos solicitarmos mutuamente em nossos respectivos projetos, até termos a ideia de criar nosso estúdio, que abrimos no início de 2019.
L’O Qual foi o primeiro projeto conjunto de vocês?
VF O Baby Doll, na Rue Daunou. Era um pequeno clube perto da Place Vendôme. Estávamos superentusiasmadas, tínhamos recursos limitados e um cliente complicado, mas colocamos toda a nossa energia na realização desse projeto, e gostaram muito do resultado.
“COM meu avô, EU ADORAVA ver casas BONITAS.”
VIRGINIE FRIEDMANN
L’O A hospitalidade caracteriza o seu escritório…
DV Isso é resultado das nossas formações. Temos um conhecimento real do mercado nessa área específica. E sempre tivemos o desejo de criar espaços de convivência que todos pudessem acessar.
L’O O que é a assinatura Friedmann & Versace?
VF Nós não nos posicionamos por meio de um estilo decorativo assertivo. Tendemos mais a defender uma atitude e a criar espaços onde as pessoas se sintam bem, seja uma doceria, seja um hotel cinco estrelas. Quando você observa nossos espaços, nunca se sente desconfortável. Não significa que não utilizemos mármore ou outros materiais muito nobres, como o bronze, o ônix ou o veludo. Mas a maneira como criamos as associações e as colocamos em cena muda tudo.
DV Sempre tentamos produzir lugares atemporais, sem marcar demais nossa época, mas justamente nos atendo à história do lugar e ao projeto do nosso cliente. Conseguimos criar contextos imersivos, que permitem passar de uma história a outra, sem terem um estilo artístico idêntico.
L’O Qual é o ponto comum a todas as suas narrativas?
VF Nós levamos em consideração a ancoragem local, a tipologia da construção e sua história, a sensibilidade dos nossos clientes. E, depois disso, o cardápio, o chef, se existir um.
L’O Vocês têm uma imagem recorrente em suas inspirações?
DV Uma campanha da Gucci de Alessandro Michele, em seus primórdios.
L’O Quem são os arquitetos cujos trabalhos vocês apreciam particularmente?
VF Dimore Studio, sempre muito inspirador.
DV E os italianos dos anos 1960 em geral, como Gio Ponti, Carlo Scarpa, Gabriella Crespi. Essa última desenvolveu seu mobiliário com noções de engenharia, o que foi muito vanguardista. Todos eles sabiam preencher a lacuna entre o passado, o presente e o futuro.
L’O Qual foi o primeiro grande projeto que confiaram a vocês?
DV O restaurante Bambini, no Palais de Tokyo, para o grupo Paris Society. Tivemos quatro dias para enviar nossa intenção em relação a um espaço totalmente louco, com 100 metros de comprimento por 10 de largura e 8 de altura. Acolher calorosamente as pessoas em um espaço tão grande foi um verdadeiro desafio.
L’O Falem-nos sobre seus projetos internacionais.
DV Nós trabalhamos na Bélgica e na China para as butiques Cartier, nos Emirados Árabes Unidos, nos Estados Unidos e na Europa para restaurantes.
L’O Vocês chegam a fazer a curadoria de obras contemporâneas para os seus clientes?
VF Sim, cada vez mais. Sempre gostamos de envolver artistas em nossos projetos, e exemplo disso é o afresco de Roberto Ruspoli no Palais de Tokyo ou o trabalho de Marie Victoire de Bascher em um chalé em Megève. Do designer gráfico ao ilustrador, passando pelo ceramista, sempre procuramos envolver artesãos, em suas diversas formas de arte. Fazemos o mesmo no desenvolvimento da nossa coleção de móveis; estabelecemos parcerias com os criadores, como o marceneiro Anton Laborde, com quem desenvolvemos nosso biombo.
DV E gostaríamos muito de colaborar com o escultor Victor Levai e com o decorador Victor Cadene.
“SEMPRE tivemos O DESEJO DE criar espaços DE CONVIVÊNCIA QUE todos PUDESSEM ACESSAR.”
DELPHINE VERSACE
L’O Quais são seus próximos projetos?
DV Vamos entregar o Bar de la Mer e o Ciro’s, em Deauville.
L’O Contem-nos sobre o Hôtel La Pérouse, em Nice.
DV Sua posição é bem especial, pois fica bem no fim da Promenade des Anglais. É um hotel que está agarrado às rochas. Sua particularidade é que ele é invisível da rua; somente a recepção fica no térreo, depois um elevador leva você diretamente quatro andares acima. Há uma piscina natural escavada na rocha, e todos os quartos são voltados para o Mediterrâneo, então você sempre tem o mar a perder de vista. O desafio desse hotel era recriar uma casa de família e devolver a nobreza a esse estabelecimento que havia sido abandonado mas que, em seu tempo de glória, tinha tido uma clientela de habitués constituída de muitas celebridades.
L’O Qual foi sua última realização em Paris?
DV O restaurante MoSuke, de Mory Sacko [o mais proeminente chef francês com estrela Michelin de Paris, N. do E.] .
L’O E em breve, onde iremos encontrá-las?
VF Nas montanhas, pois, desde a inauguração do restaurante Bambini em Megève e da criação de um chalé, temos recebido muitos pedidos.
