Beleza com propósito: mais humana, mais real e conectada à autoestima
De corpos pós-maternidade à estética madura, da definição natural à pluralidade de perfis, a beleza caminha para um novo lugar: mais humano, mais real e profundamente conectado à autoestima.
Uma nova era da beleza está emergindo — e, embora silenciosa, ela tem causado um impacto profundo. Longe dos antigos padrões inflexíveis e dos ideais inalcançáveis, a estética contemporânea ganha contornos mais autênticos, emocionais e personalizados. Hoje, a busca pela beleza está menos ligada à perfeição e mais conectada ao bem-estar e à autoestima.
Segundo a cirurgiã plástica Dra. Heloise Manfrim, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a beleza deixou de ser moldada por fora para ser redescoberta por dentro. "Mulheres mais maduras chegam aos consultórios buscando sentirem-se bem com seu corpo, mas sempre enfatizam que não querem mudanças drásticas. Até mesmo com o uso de medicamentos análogos de GLP-1, as famosas canetas emagrecedoras, muitos pacientes buscam ajuda para tratar os efeitos estéticos dessa perda de peso acelerada”, comenta.
Confira algumas tendências abaixo:
Naturalidade é o novo luxo
A ideia de “beleza indetectável” tem ganhado espaço entre mulheres que querem se sentir bem sem parecer que passaram por procedimentos. “A busca agora é por harmonia, leveza e equilíbrio, e não por transformações evidentes. A tendência, já consolidada em Hollywood, começa a pautar os desejos no Brasil e, embora muitas pessoas associem isso apenas ao rosto, essa naturalidade também é buscada nas intervenções corporais”, explica o cirurgião plástico Dr. Carlos Manfrim, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Segundo a ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, e o aumento não está ligado à busca por “perfeição”, mas sim por autenticidade e bem-estar. “É o fim da estética artificial. A beleza hoje é sobre parecer descansada, segura, de bem com a vida – e não com 10 anos a menos”, resume a cirurgiã plástica Dra. Heloise. As cirurgias faciais seguem o mesmo propósito, segundo o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). “Não só o lifting facial, mas outras cirurgias vêm evoluindo para resultados mais sutis. A blefaroplastia (cirurgia das pálpebras) é mais focada na preservação da estrutura natural dos olhos, removendo apenas o excesso necessário de pele e gordura. As técnicas cirúrgicas em rinoplastia também permitem refinamentos precisos sem comprometer a função nasal e com naturalidade. Os pacientes também buscam menos aquele padrão antigo de nariz fino e arrebitado e agora querem mudanças que sejam condizentes com sua personalidade”, explica o Dr. Paolo Rubez.
- Pós-maternidade: o corpo como território de autocuidado
As transformações no corpo após a gestação ganharam protagonismo nas conversas sobre beleza e autoestima. “Estrias, flacidez, diástase abdominal e alterações nas mamas, antes escondidas, agora são discutidas de forma aberta e sem tabus. E, cada vez mais, as mães buscam soluções não para ‘voltar a ser quem eram’, mas para se reconectar com a própria imagem em um novo momento de vida”, explica o Dr. Carlos. Esse movimento deu origem ao chamado “mommy makeover”, que une diferentes estratégias – físicas, emocionais e estéticas – para apoiar mulheres na transição do puerpério para uma nova identidade corporal. “A beleza pós-maternidade tem relação com a aceitação, mas também com a autonomia. É o direito de querer se sentir bem no próprio corpo, sem culpa”, aponta o cirurgião Dr. Carlos.
- Maturidade em alta: o impacto das mulheres 40+
Segundo a Dra. Heloise, mulheres acima dos 40, 50 e até 60 anos estão na linha de frente da nova estética, não apenas como consumidoras, mas como formadoras de opinião sobre o que significa ser bela hoje. “Elas buscam resultados que reflitam sua vitalidade, e não uma juventude artificial; se posicionam e falam abertamente sobre o tema”, explica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a faixa etária entre 45 e 60 anos concentra mais de 20% das cirurgias corporais eletivas no país, e esse número tende a crescer. “Essas mulheres sabem o que querem — e o que não querem. Pedem intervenções sutis, respeitosas, que mantenham sua identidade. Elas não querem esconder a idade, querem celebrá-la com dignidade. A beleza madura se afasta cada vez mais da ideia de ‘parecer jovem’”, reforça Dra. Heloise. “Geralmente, elas pedem por lipoescultura com definição leve, para marcar suavemente a cintura ou suavizar flancos; lifting de braços e coxas, para tratar a flacidez típica da perda de colágeno; abdominoplastia, em mulheres que tiveram filhos ou passaram por emagrecimento; e mastopexia com ou sem prótese, que corrige a ptose mamária (queda das mamas)”, diz o Dr. Carlos.
- A estética da recuperação: beleza depois do emagrecimento
Com o crescimento das cirurgias bariátricas, uso de medicamentos para perda de peso e mudanças no estilo de vida, uma nova demanda estética surge: como se sentir bonita após perder muito peso? “Mulheres que eliminaram 20, 30 ou até 80 kg muitas vezes se veem diante de um corpo que apresenta flacidez, tem excesso de pele, e não representa a força da conquista. Para elas, a estética funciona como parte do processo de recuperação da autoestima”, explica o Dr. Carlos. “Não só a lipoaspiração, como também o body lifting associado a tecnologias, todas as técnicas têm feito muito sucesso nesse caminho de fazer as pazes com a própria imagem – após a perda de peso”, acrescenta a Dra. Heloise.
O futuro da cirurgia plástica estética aponta para um caminho cada vez mais personalizado, tecnológico e menos invasivo. Segundo o Dr. Paolo Rubez, a inovação deve continuar acelerando esse movimento, com o surgimento de novos biomateriais e técnicas que promovem resultados progressivos e duradouros, mas com aparência natural. “Novos biomateriais e técnicas menos invasivas continuarão evoluindo, permitindo melhorias progressivas e de longa duração. A inteligência artificial e o uso de tecnologias 3D também devem ajudar na melhor previsão de resultados e na escolha dos procedimentos para cada paciente. Além disso, a tendência é que os tratamentos combinem diferentes métodos para um efeito mais harmônico”, explica.
Entre os avanços que já fazem parte da prática atual e devem ganhar ainda mais espaço está o uso da robótica nas cirurgias plásticas. “O robô é usado pra dar mais precisão na cirurgia. Ele magnifica a imagem, confere visualização em 3D para o cirurgião e elimina os tremores que o profissional poderia ter. É importante enfatizar que, nesse caso, o nome ‘robótica’ refere-se ao robô que é comandado pelo cirurgião plástico. Ou seja, ele é apenas a extensão do braço do especialista. Toda a cirurgia ainda é comandada pelo médico especialista e não por inteligência artificial”, detalha o Dr. Paolo, ressaltando que a tecnologia também oferece mais segurança, especialmente em regiões de difícil acesso e que exigem alta precisão.
Apesar de todos os recursos tecnológicos, os especialistas reforçam que o ponto de partida para qualquer procedimento deve ser uma avaliação cuidadosa e individualizada. “O procedimento ideal para cada pessoa parte de uma avaliação individual, que considera, inclusive, se aquela queixa estética não é exagerada ou infundada. Ainda é um grande desafio mostrar para cada paciente que é necessário que ela acolha cada mudança do seu corpo e às vezes não vale a pena investir na aparência do corpo, mas sim na saúde do corpo e da mente. Não é um trabalho fácil, mas nós sempre precisamos estar ao lado dessas pessoas para orientar, acolher e acompanhar. E, claro, para os pacientes que realmente têm uma indicação, a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos podem promover uma melhora expressiva do bem-estar”, finaliza a Dra. Heloise Manfrim.