Dior reflete sobre o presente em coleção de Verão 24

A cada coleção, Maria Grazia Chiuri vem renovando e fortalecendo o discurso sobre a relação entre feminilidade e feminismo. Não é exercício tão simples. Encontrar abordagens diferentes, sem cair em clichês e repetições, é um desafio. A diretora criativa da Dior, entretanto, tem tirado a tarefa de letra cercando-se de parceiros interessantes e transformando em roupa referências espertas. Para o verão 2024, ela olha para as bruxas como exemplo de rebeldes que afirmaram a sua independência face a um mundo masculino e desafiaram o seu sistema. Há, também, uma reflexão sobre o presente, em que passado e futuro devem coexistir simultaneamente.


A coleção que resultou dessas referências é bastante interessante, tendo como pontos fortes a alfaiataria e a silhueta do new look. O pensamento sobre o tempo se reflete em blazers com bordas laceradas e tecidos com desgate, aparência envelhecida e pequenos rasgos. A camisa branca com decote assimétrico conecta todo o desfile. Calças de alfaiataria soft têm contraponto nas saias volumosas. A estampa Mille-fleurs, emblemática da Dior, se transforma em um motivo escuro misturando floral, fases da lua, sol, ervas medicinais e animais fantásticos. E uma mistura rica de rendas deu o tom à sequência de vestidos de noite que encerrou o show.


Outro ponto alto do desfile foi o cenário: a videoinstalação “Not Her” de Elena Bellantoni ocupou todas as paredes da sala. Utilizando o dispositivo analógico split-flap foram-se alterando imagens de anúncios sexistas coletadas pelo artista italiana desde 2015 e frases de contraponto como “liberação de corpos não é liberalismo comercial” ou “seu corpo é poético, seu corpo é político” com dinâmica e cores pop. A ideia é que o corpo é o local do conflito, mas pode tornar-se o espaço de resolução e ação: tanto linguística como performativa. Foi um belo show, como desfile e, também, como debate social.