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Facundo Guerra pilota a nova "vida paulistana"

O empresário Facundo Guerra pilota o show paulistano, do brunch no Salão Dourado do Theatro Municipal ao endereço ícone Love Story em clima de "cabaré"

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Foto: Rômulo Fialdini / Drag Queens: Dimmy Kieer, Kaka Di Polly e Paulette Pink

Facundo Guerra é dono de mais de 20 negócios bem-sucedidos em São Paulo, sendo um desses empreendedores que têm estrela ou “faro para o sucesso”, como diria o investidor Warren Buffett. Engenheiro de alimentos e jornalista com títulos de mestrado e de doutorado em Política, ele parece nunca tirar o pé do acelerador embora seja pacato cidadão, com fala cadenciada e gestos afetuosos. Por sinal, o argentino mais brasuca do pedaço faz questão de mostrar que é o seu lado sensível que está no comando. Consciente de seu poder de fala, Facundo não dá as costas para a problemática social, em especial para a que insiste em invisibilizar pessoas mais vulneráveis, caso das trans, cujos assassinatos no Brasil estão no topo das estatísticas mundiais. “Temos que tirar a mulher trans do ambiente em que o nosso olhar a coloca. A mulher trans ocupa um em cinco lugares: ou ela vira a ‘mulher do sexo’, a ‘entertainer’, a ‘cabeleireira’, a ‘manicure’ ou a ‘performer’. Temos que ter mulheres trans gerentes de marketing, CEOs, executivas... Isso deve ser cada vez mais normalizado pela sociedade. Vejo o exemplo da Raquel Virgínia (fundadora da banda As Baías e a Cozinha Mineira), que hoje está à frente da consultoria Nhaí e percebo o quanto isso pode deixar de ser exceção para virar regra.”

Altamente politizado e avesso ao conservadorismo enrustido da ultradireita, o empresário revela que sonha com Lula novamente no Planalto Central. “Acredito que, com a força dos orixás, teremos Lula presidente, em 2023. Ainda assim, será um tempo de reconstrução nas artes, na economia e na educação. Mesmo divididos, imagino que os 30% de bolsonaristas talvez retomem a memória dos bons anos do governo petista e aí, quem sabe, a gente experimente um período de reconciliação. É importante dizer que o Brasil virou república sem ter tratado os dramas do colonialismo e é por isso que essas chagas seguem abertas, com tanto racismo, preconceito e crueldade”, enfatiza.

Foto: Rômulo Fialdini / Drag Queens: Dimmy Kieer, Kaka Di Polly e Paulette Pink
Foto: Rômulo Fialdini / Drag Queens: Dimmy Kieer, Kaka Di Polly e Paulette Pink

Pai de uma menina pra lá de empoderada, ele sabe que revisitar (e moldar) clássicos do passado nem sempre é tarefa fácil. Na medida em que curte os fins de semana no Parque do Minhocão obra herdada da ditadura militar, e que ganhou novos ares como área de lazer pública ou escolhe caminhar pela bolha de concreto da Avenida Paulista, devidamente configurada em via de diversão aos domingos, sua mente não para de examinar cada ponto da urbe que pode ser múltiplo. “Ainda falta ao entretenimento um pouco de risco. Todos os lugares são incríveis, mas eles são muito marcados em suas funções. Cinema é apenas cinema, restaurante é apenas restaurante. Os territórios em São Paulo são demarcados demais. Estou ansioso por ver fluidez.”

E é nessa vibe que ele se arriscou para trazer de volta a “Casa de todas as Casas”, deixando de lado o campo do prazer em que a Love Story foi gerada para ser redimensionada para o campo do desejo. “A ideia é que ali seja um clube no estilo cabaré, mas sem ser algo pin-up à Dita Von Teese. Penso num sentido mais Balenciaga, com performances do corpo e apresentações de shi- bari, BDSM, pet play, burlesco, strip-tease, pole dance, teatro de bonecos e outras esquisitices.” Ainda sobre a neo-Love, o empresário conta que, nesta versão, a aura de boate vai desaparecer.

Foto: Rômulo Fialdini / Drag Queens: Dimmy Kieer, Kaka Di Polly e Paulette Pink

Em vez de pick-ups conduzidas por DJs e pista pilhada, entram em cena playlists pensadas para o momento da transa, pinçadas diretamente do Spotify. “Pode tocar soul, MPB, bossa-nova... Tem um monte de gente bacana que tem trilha sonora para fazer sexo”, diz. “Também estou planejando trazer as grandes divas para os seus lugares de protagonismo. Drags como Paulette Pink, Kaka di Polly e Dimmy Kieer são a ponta de lança de um movimento que começou lá nos anos 1970 e 1980. Foram elas que abriram o caminho para que outras fossem aceitas. Elas são precursoras do movimento do ‘corpo divergente’. Então, acho que temos que honrá-las, valorizá-las e contar as suas histórias. Se falarmos sobre resistência, elas estão na vanguarda. Sem elas, o debate que vemos nos dias atuais jamais seria possível.”

Com avant-première marcada para novembro deste ano, a Love Story terá atrações elaboradas por Facundo, Lily Scott, Ikaro Kadoshi e Mayumi Sato. “Quero que a Love volte forte, de maneira arrebatadora. Quero que as pessoas confiem na nossa curadoria. E quero dar espaço para o que é marginal, as apresentações que não têm palco, aquilo que é capaz de chocar, incomodar, criar devaneios e suspiros, fazer repensar e descobrir novos desejos.” Para a carta de drinques, Mia Rossi, chefe de bar do Arcos, já está escalada. Ao que tudo indica, mais um arrasa-quarteirão vem aí para conquistar a Pauliceia (e os docemente desvairados!).

Foto: Rômulo Fialdini
Foto: Rômulo Fialdini
Foto: Rômulo Fialdini

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