Moda que reflete personalidade

Catalão de 24 anos, Guillermo Justicia é o último grande destaque da moda espanhola, causando furor ao apresentar a sua primeira coleção na 080 Barcelona Fashion, semana de desfiles local. Batizada de “Mycorrhizal”, a discussão parte da relação simbiótica entre fungos e raízes de plantas, essencial para a boa sobrevivência das espécies – uma grande ponderação sobre a beleza do caos universal. A inspiração não é gratuita: antes de enveredar pelo estilismo, Guillermo graduou-se em Ciências Ambientais. Esse clash de ambientes guia sua criação experimental, propositalmente quase aleatória, que vai das peças clássicas (especialmente na alfaiataria desabada e desconstruída) aos ensaios com volumes e silhuetas máxi com o uso de tricôs.

Com 40 anos de carreira, Ricardo Almeida abriu espaço para um laboratório de ideias na agenda. A recém-lançada RA2 é uma iniciativa coletiva entre o estilista e três jovens da geração Z – seus dois filhos mais novos, Ricardo e Arthur, mais Gabriel Pascolato, sobrinho-neto de Costanza. O novo braço vem sendo administrado desde a pandemia e funciona num esquema de intensa mentoria interna: Ricardo abriu os seus segredos de modelagem e matérias-primas, mais o know-how dos oito mil metros quadrados de fábrica, enquanto instiga e organiza as ideias e as vontades do trio de pupilos. O resultado é um olhar mais livre sobre a alfaiataria clássica, aberta a novidades que o cliente padrão da Ricardo Almeida não encararia facilmente. “Na RA2 os meninos podem fazer o que for, e eu também”, define Ricardo. 

Da geração recente a fazer parte do calendário do SPFW, Rafael Silvério vem construindo um ideal de moda próprio que tenta escapar um pouco do esperado na marca que carrega o seu sobrenome. Agarrado a princípios de ateliê, não raro, Rafael constrói suas peças em viés ou traz tecidos mais importantes para roupas urbanas — ao mesmo tempo em que bate o pé pela representatividade negra na indústria. Outra das suas discussões é sobre a imagem do homem na sociedade, que guia a sua criação masculina. “Precisamos pensar moda para além da questão de gênero”, define. “Para chegar neste vestuário mais desconstruído, projeto toda a criação sobre o corpo feminino. Com os itens prontos, vamos entendendo o que vai em um corpo feminino ou masculino. É um processo de ‘decolonização’ até do meu próprio pensamento”, diz.

Baseado em Salvador, Gefferson Vila Nova tem uma década de estrada na seara masculina, mas viu-se num ponto de refino que tem avivado o interesse pela sua produção nos últimos anos. Seu maior interesse está na roupa bem feita, de resultado espe rto, mas que passa ao largo de modismos passageiros – a hashtag #StreetWearMadeInBahia, que o estilista gosta de usar como slogan, é boa definição. Aplicado, Gefferson traz a mão de alfaiataria contemporânea às peças de verão (bermudas e regatas no lugar certo para 2024) e artigos de corte afiado, como camisas boxy e paletós em algodão, linho e cânhamo. A influência de certo mood soteropolitano é inevitável, resultando em uma versão de moda urbana minimal que não vê necessidade de se basear apenas em itens pretos e cinzas (é um país tropical, afinal das contas).