Agatha Moreira fala de autoaceitação e feminismo em entrevista

Em sintonia consigo mesma e com valores contemporâneos, a atriz Ágatha Moreira resgata a atmosfera irreverente dos anos 1960

Agatha Moreira

Dar sempre o melhor em tudo o que se propuser a fazer; trabalhar com amor, alegria e responsabilidade; ter por perto pessoas que somem; aprender coisas novas. E assim, Agatha Moreira dá as boas-vindas aos 30 anos. Ela, que em dez anos de carreira como atriz acumulou papéis desafiadores, fala de autoamor, autoaceitação, de feminismo e de futuro.

Look total DIOR, chapéu MINHA AVÓ TINHA

L’OFFICIEL Os 30 anos costumam trazer cobranças. Você se exige muito?

AGATHA MOREIRA Sou muito exigente, como uma boa capricorniana rs. Mas aos poucos estou aprendendo a me cobrar menos. A verdade é que nada que seja em excesso nos faz bem. Mas tem algumas coisas que eu acredito que eu nunca vou deixar de me cobrar, que são: dar sempre o meu melhor em tudo o que eu me propuser a fazer; trabalhar com amor, alegria e responsabilidade; ter por perto pessoas que somem; ter empatia; aprender coisas novas; cuidar da minha mente e
do meu corpo; ser grata.

L’O Como se relaciona com a moda – e com a beleza?

AM Eu cresci no universo da moda e ele me influenciou desde muito nova. Não sou uma pessoa consumista, mas amo consumir moda como forma de arte, representação e transformação. Acredito que a moda muitas vezes interfere diretamente na nossa personalidade. É uma forma de a gente se mostrar para o mundo. E podemos escolher também como queremos que o outro nos enxergue. Quanto à beleza, hoje eu a vejo muito mais como um sentimento ou um estado de espírito. Vejo beleza em tantas coisas que me causam sentimentos bons. E quando estamos falando de pessoas, vejo muita beleza em quem me transmite bem-estar, segurança, empatia e humanidade.

Blusa e saia REINALDO LOURENÇO, body e tênis PUMA

L’O De chanel para pixie, de castanho para platinado. Mudar de cabelo como muda de roupa é uma diversão?

AM É sempre muito prazeroso! Acho que principalmente porque eu nunca tive coragem de fazer mudanças radicais no meu visual ao longo da minha vida, digo de Agatha por Agatha. Mas pelas personagens, eu nunca tive questão nenhuma em relação à mudança, muito pelo contrário, eu amo. Em tempo: a única grande mudança que fiz por vontade própria foi agora há pouco, aos 30 anos. Foi quando raspei a cabeça.

L’O E você curte trocar de roupa como muda de cabelo?
AM Amo! Amo o fato de poder contar histórias e criar personagens por meio do que visto!

Look total DIOR, chapéu MINHA AVÓ TINHA

L’O A sua geração enxerga o consumo com cautela – em respeito ao planeta. Quais suas ações para preservar o meio ambiente, nesse sentido?

AM Em 2017, quando fui conhecer a Chapada dos Veadeiros, decidi diminuir consideravelmente o consumo de carne vermelha ao perceber tamanho desmatamento para criação de gado. Percebi também nosso consumo excessivo em diversas esferas. Não consigo ser uma pessoa radical e acredito que, de fato, não precisamos ser, mas precisamos fazer o mínimo. Se cada um fizer sua parte, já faz muita diferença. Sei que hoje em dia já causamos danos irreversíveis ao nosso planeta, mas podemos sim prolongar o tempo de vida dele. Hoje sou muito mais dedicada à reciclagem, à moda sustentável, ao uso consciente de água, entre outras coisas que podem melhorar o futuro das próximas gerações.

Look total DIOR e ao lado, Look total LOUIS VUITTON, brinco FLAVIA MADEIRA

L’O Você já disse que, na adolescência, suas amigas tinham muito peito e você era uma menina sem peito. Levou tempo para fazer as pazes com seu corpo?

AM Levei muito tempo! Fico muito feliz que hoje exista uma conscientização maior sobre o assunto. Porque a adolescência é uma fase muito confusa na vida da mulher, quando muitas vezes queremos nos comparar, agradar e sermos aceitas. E, infelizmente, esses sentimentos estão diretamente ligados à nossa criação machista.

L’O Também já disse que não gostava de passar batom forte, tinha vergonha da boca porque diziam que ela era grande demais. Como a opinião do outro – inclusive nas redes – influencia suas escolhas?

AM Hoje em dia minha opinião é completamente diferente de alguns anos atrás. O nosso “despertar” enquanto mulher, pelo menos da minha geração, foi um despertar tardio. Acredito que ao longo do tempo eu fui aprendendo a silenciar julgamentos, a não me preocupar tanto com a opinião
do outro e a não aceitar críticas que não sejam construtivas. A rede social pode se tornar uma grande prisão se você der ouvidos à opinião de todos ali. Tem uma frase que escrevi na parede da minha casa e que levo para a minha vida: NINGUÉM TEM QUE NADA! Cada um sabe de si, e pode usar o que quiser, fazer o que quiser com o próprio corpo, desde que não esteja atingindo diretamente outra pessoa. É aquela velha máxima: seu corpo, suas regras. Você não precisa de ninguém dizendo o que você deve ou não fazer, ou, o que você deve ou não usar.

CADA UM sabe de si, E PODE USAR O QUE QUISER, FAZER O QUE QUISER COM O próprio
CORPO, DESDE QUE não ESTEJA ATINGINDO diretamente OUTRA PESSOA.

Vestido BALENCIAGA BY THE REAL FASHION, óculos MARCHON (CK), calçado DIOR e ao lado, Blusa e saia FENDI , tênis PUMA

L’O Qual, na sua opinião, a mais deliciosa característica feminina? Sermos múltiplas?

AM Sermos múltiplas também. Amo o fato de sermos fortes e delicadas, ferozes e frágeis, duronas e sensíveis. Me encanta a nossa sensibilidade e a nossa capacidade de ler pessoas e situações de forma muito profunda.

L’O A carreira artística tem seus desafios – e você já acumula dez anos. Quais os próximos capítulos?

AM Hoje, de fato, já me sinto muito realizada e feliz. Nunca imaginei que com 30 anos eu já teria interpretado tantas personagens desafiadoras e já teria conquistado tudo o que conquistei. Se alguém me contasse tudo isso há dez anos, eu diria que era mentira rs. Então agora me encontro numa fase em que me permito olhar pra dentro, no meu tempo, para poder encontrar meus novos
sonhos e desejos mais profundos. Mas de uma coisa eu sei: quero poder trabalhar por muitos dez anos mais. Quero continuar atuando e ser avó em cena, um dia. Deve ser o máximo envelhecer e desempenhar personagens distintos de acordo com as fases da vida.

L’O Você já trabalhou lá fora como modelo. Agora pretende fazer isso como atriz?

AM Eu adoro passar temporadas fora do país. Acho que cresci assim e me acostumei com os desafios de estar longe de casa. Não é fácil morar sozinha em meio à outra cultura e outra língua. Mas sempre aprendo muito com essas experiências e saio ainda mais forte delas. Trabalhar como atriz fora do país deve ser um desafio maior ainda, e justamente por ser um grande desafio, hoje é um grande sonho.

Blusa e calça LOUIS VUITTON, tênis PUMA e ao lado, Chapéu MINHA AVÓ TINHA, blusa DOLCE & GABBANA, calça LAFORT, calçado DIOR

L’O Qual a marca que imagina estar deixando no mundo?

AM Eu não faço ideia! Mas espero estar espalhando mensagens de amor. Abraço a causa do amor ao próximo e ao nosso planeta. Tenho o privilégio de hoje poder ajudar pessoas financeiramente. Mas sempre bato na tecla de que todos nós podemos ajudar alguém que está precisando. O dinheiro é importante e facilita muitas coisas, mas não poder ajudar financeiramente não significa que você não pode ajudar. Uma palavra, um abraço, um olhar, são coisas que podem mudar o dia de uma pessoa. Ou às vezes só ser ouvinte mesmo. Tem tanta gente precisando falar e se sentir verdadeiramente ouvida. Me acho uma pessoa muito mais ativa na vida social do que na rede social. Pretendo até melhorar nesse ponto, porque sei da importância e da visibilidade que as redes têm hoje em dia. Mas sou uma pessoa declaradamente feminista, antirracista, anti-homofobia.

Vestido BALENCIAGA BY THE REAL FASHION