Satoshi Kondo conta o que aprendeu com o fundador de marca japonesa
Satoshi Kondo conta em entrevista exclusiva a L’Officiel o que aprendeu com o fundador da marca japonesa, Issey Miyake, e de seu processo criativo
Apostando na harmonia entre corpo e roupa e entre feito à mão e tecnologia, Satoshi Kondo, diretor criativo da Issey Miyake, conta o que aprendeu com o fundador da marca japonesa e de seu processo criativo. Confira em entrevista exclusiva a L'Officiel!
Trabalhando na Issey Miyake desde 2007, logo após se formar na Ueda Yasuko Fashion College em Osaka, no Japão, Satoshi Kondo teve a oportunidade de atuar lado a lado com o fundador da marca, o designer Issey Miyake, falecido há cerca de dois anos. “Ele me inspirou e moldou minha carreira como designer em todos os sentidos”, diz à L’OFFICIEL o atual diretor criativo da grife, que conta buscar na intuição o caminho para unir seu talento ao DNA da casa fundada nos anos 1970, em Tóquio, e que contribuiu para fortalecer o movimento japonista na década seguinte, em Paris. Sua intenção, comenta, é criar algo original e bonito que não possa ser realizado por ninguém além dele e de sua equipe.
Desde sua primeira coleção, verão 2020, o foco tem sido a conexão entre corpo e roupa. É por meio do diálogo entre eles que podem surgir sentimentos, segundo o estilista. Na coleção para o verão 2024, essa é uma preocupação que abraça todas as peças, mas principalmente a série batizada de Twisted, criada pela torção de um pedaço de tecido, como se fosse formado naturalmente sobre o corpo do usuário. Este tecido com textura única é feito com fibras naturais (papel washi japonês e linho) e fibras elásticas. E, também, na série Ambiguous, de malhas que revelam a forma do corpo, respeitando a materialidade do fio de algodão de alta torção. Sua construção tubular adaptase às formas de cada um. Abaixo, o estilista comenta sobre o legado de Miyake e sua visão para a marca.
L’ OFFICIEL Na sua opinião, qual a relação entre corpo e roupa?
SATOSHI KONDO A presença do corpo humano é o que faz de um pedaço de roupa uma vestimenta. Ao explorar o diálogo entre os dois, podemos desenvolver um sentimento de alegria e beleza.
L’O Suas coleções conversam com a tecnologia, mas também com o artesanal. Como você equilibra esses dois lados?
SK Acredito que se trata do que queremos transmitir no contexto de contar a história de uma coleção e no interesse da engenhosidade. O artesanato e a tecnologia são dois componentes essenciais do design e da produção da Issey Miyake, na medida em que o que está envolvido na criação de uma peça de roupa é mais do que frequentemente uma combinação dos dois – uma integração do que pode ser feito à mão e com máquinas. Não favorecemos um em detrimento do outro; tomamos uma decisão, entre as muitas explorações que fizemos para criar uma peça, sobre o que melhor pode complementar a história da coleção. Às vezes, olhamos para todas as explorações e consideramos qual delas é a mais original, caso em que a introdução da tecnologia no artesanato (ou vice-versa) pode levar a resultados inesperados, e surpresas como estas são o que tornam uma peça de roupa mais envolvente.
L’O Você trabalhou como designer com Issey Miyake. Qual é a sua melhor lembrança e o que aprendeu com ele?
SK As memórias que tenho de trabalhar com Miyake são coletivamente uma experiência que me inspirou e moldou minha carreira como designer em todos os sentidos. O que aprendi com ele é o quão rigoroso e perseverante ele era quando se dedicava ao design e à produção. Das muitas observações que fez, lembro-me sempre que ele me disse que nós, como designers, devemos pensar não apenas no que podemos fazer agora, mas também além do presente, no futuro, sobre como o trabalho que fazemos pode trazer alegria e maravilhas à nossa sociedade.
L’O Como você une sua visão do processo criativo e a herança de Issey Miyake?
SK Acho que estou contrabalançando a minha visão e a herança da marca de uma forma intuitiva, na medida em que equilibrar ou não é uma decisão deliberada. Não rejeito o legado, nem o abraço totalmente apenas para trazer de volta o que foi feito no passado. Minha intenção para minha prática como designer na linha feminina é criar algo original e bonito que não possa ser realizado por ninguém além de minha equipe de design e eu. E se o público encontrar conexões entre meu trabalho e a herança da marca, ou para esse fim contrapor meu trabalho com o de Miyake, eu consideraria conexões e comparações como essas muito razoáveis, porque me inspirei e aprendi com sua maneira de fazer as coisas.
“SE O PÚBLICO ENCONTRAR conexões ENTRE MEU TRABALHO E A herança DA MARCA, OU PARA ESSE FIM contrapor MEU TRABALHO COM O DE Miyake, EU CONSIDERARIA CONEXÕES E comparações COMO ESSAS MUITO razoáveis, PORQUE me inspirei e aprendi COM SUA MANEIRA DE FAZER AS COISAS.”
L’O E qual é a sua visão para o futuro da marca?
SK Como designer da linha feminina, minha intenção é criar roupas originais com muito cuidado e esforço para continuar a engenhosidade pela qual somos conhecidos. Acredito que esta abordagem nos levaria a desenhar e fabricar peças de vestuário que nos diferenciariam ainda mais.
L’O Como tem sido o diálogo sobre sustentabilidade dentro da marca?
SK Sempre fez parte da filosofia da nossa empresa encontrar formas criativas de aproveitar ao máximo um pedaço de tecido, produzindo assim menos sobras. Além disso, quando desenvolvemos novos materiais, tentamos pensar em soluções para reciclá-los ou reaproveitá-los para o futuro, como o uso de fibras recicladas, substitutos à base de plantas e algo que possa eventualmente retornar à terra – até mesmo formas criativas de reutilizá-los. Por outro lado, acreditamos que é importante a longevidade de uma peça de roupa, o que passa não só pela utilização de materiais de qualidade, mas também pela criação de designs considerados atemporais.
L’O Na sua opinião, como a moda pode se aproximar da arte?
SK Acredito que sendo original, minuciosa e perseverante nas explorações do design e da produção.