Carol Castro conta como 30 anos de carreira formaram sua história
Da comédia ao drama, Carol Castro, interpreta com profundidade e entrega, construídas durante 30 anos de carreira
Carol Castro possui uma caminhada em meio a tantas mudanças ideológicas e físicas no mundo da arte. Iniciou a carreira no teatro aos 9 anos de idade e fez sua estreia no audiovisual em 2003, na novela “Mulheres Apaixonadas” da TV Globo, com a personagem Gracinha. Propostas estas completamente opostas em características emocionais e espaciais, moldaram a Mulher, Atriz e Mãe moderna que representa uma grande geração.
Acumulando atuações em 15 longas-metragens e 14 novelas, entre elas “Órfãos da Terra”, premiada em 2020 no Emmy Internacional, no Grand Prize na 15ª edição do Seoul Drama Awards (a premiação de entretenimento mais importante da Ásia) e no Rose D’Or Awards, uma das mais importantes premiações de entretenimento do mundo. Além de inúmeras participações em séries, minisséries, musicais e curtas-metragens, com produções nacionais e internacionais.
São praticamente 30 anos de carreira onde histórias de cochia e estúdio, trouxeram Carol para uma década repleta de ensinamentos a serem compartilhados. Com exclusividade, conversamos com a musa sobre o que sua maturidade e aprendizados lhe agregaram durante os anos.
L'Officiel Brasil: Com quase 30 anos de carreira, que tipo de personagem ainda não teve oportunidade de explorar?
Carol Castro: Eu poderia dizer que os personagens históricos, de época (renascentista, medieval...)Tenho fascínio pelos figurinos e pela direção de arte de produções assim. Gostaria de viver isso um dia, assim como ficções científicas, são temas que me fascinam. Apesar de serem opostas. (risos)
Gosto de desafio. Essa é a verdade! Tenho que sentir frio na barriga e me questionar se serei capaz de fazer. Com toda a garra e entrega do mundo, de corpo e alma, sabe?! Vencer os obstáculos e mostrar a versatilidade.
L'Off: Entre Gracinha de " Mulheres Apaixonadas", seu primeiro personagem e estreia no audiovisual e suas atuais personagens Kat de "Maldivas'', Paula de "Insânia", como vê a evolução de Carol enquanto atriz e mulher?
Carol: Quando li essa pergunta (e já tenho quase 30 anos de carreira), tive muitos insights e quase duvidei! Pensei: "nossa, será que é tudo isso mesmo?” (risos). E sim, é! Que loucura cair essa ficha, estou com 38 anos e subi no palco pela 1ª vez aos 9 anos, desde pequena vivo entre coxias de teatro, sets de filmagens. Depois dessa experiência no teatro fui morar de novo em Natal-RN, em seguida, Bauru no interior de SP e depois voltei a morar no Rio de Janeiro, com 14 para 15 anos.
Foram muitas vivências, histórias felizes e tristes, adaptações, bullyings... que não posso deixar de mencionar nessa resposta porque fazem parte de quem sou hoje. Foram dores e alegrias que acabaram moldando meu ser. Faz parte da minha formação como mulher, como atriz onde sinto que amadureci muito nesses últimos anos, e boa parte desse amadurecimento aconteceu aos olhos do público, já que comecei a fazer novela (e ser conhecida) com 18 anos em "Mulheres Apaixonadas". A primeira vez que saí do país foi para fazer um filme na Argentina e eu tinha 20 anos!
Vejam que curioso: o único “universo” que eu não tinha ainda muito conhecimento ou experiência era justamente o da TV, já havia feito peças de teatro, uma participação em filme com 16 anos 'Caminho das Nuvens'', e seguia fazendo testes pegando alguns comerciais aqui e ali. Posso dizer que aprendi a fazer televisão, fazendo, evoluindo, crescendo, aprendendo e ainda vivi intensamente a realidade e os bastidores de outros setores da TV, como os programas ao vivo, onde participei tantas vezes e tanto aprendi a cada etapa.
É muito difícil fazer TV, se apresentar ao vivo, fazer novela, gravar 30 cenas por dia ao longo de vários meses. É um outro ritmo, mas um grande e eterno aprendizado. Quando surgiu o teste para Paula de 'Insânia', eu estava exatamente à procura de um desafio como aquele, uma personagem densa e profunda como aquela, foi uma experiência estupenda e especial, com muitas preparações, laboratórios reais e imersão inédita pra mim.
Mesmo com as dificuldades, enfrentando a pandemia, foi realizado, finalizado e transformador. Ter emendado o término de 'Insânia' (pois paramos na pandemia e voltamos 6 meses depois no Uruguai para finalizar) com a Kat de 'Maldivas' foi muito divertido e delicioso pra mim como atriz. Pude explorar os extremos da atuação (A tal versatilidade que tanto buscamos) , me sinto mais preparada em poder transitar pelas diversas multiplicidades de possibilidades de personagens e seus desafios.
É como se toda a quilometragem e mais vivência nos preparasse cada vez mais para os desafios da vida e da arte, afinal, somos nossos próprios instrumentos de trabalho e por isso eternos observadores da vida, de si e do outro. Na verdade, o ator nunca para de trabalhar. Estamos em constante transformação de nós mesmos e coletando e salvando no "HD interno", o que acontece ao nosso redor com olhos que anseiam o conhecimento.
L'Off: Como seleciona os personagens que gostaria de interpretar? Possui alguma limitação para aceitar um tipo específico de papel?
Carol: Normalmente gosto de ver os arcos dramáticos da personagem, entender qual história está sendo contada e como está sendo contada, principalmente, gosto de saber quem estará envolvido. Gosto de trabalhar com as pessoas que acrescentam ou ajudam num ambiente agradável e harmonioso e também da qualidade envolvida como diretor de fotografia, além de direção, elenco, produção e etc.
Não tenho limitações sobre papel, eu sou do tipo que ganha ou perde peso pelos personagens. Colocar ou raspar o cabelo. Eu preciso acreditar na história que está sendo contada. Preciso me apaixonar pelo personagem e pelo projeto. Caso contrário, não faz sentido pra mim. Eu preciso sentir que vou ser desafiada (frio na barriga/medinho) e me divertir fazendo. Talvez a resposta seja: tenho limitações com personagens que não me desafiam como atriz, ou que não goste da forma como a história está sendo contada.
L'Off: No início de sua carreira a sexualização de sua imagem era muito forte, como foi lidar com estereótipos e como conseguiu retomar a narrativa em volta de sua figura?
Carol: Creio que tem relação quando disse que amadureci aos olhos do público, por ter começado tão jovem e inexperiente nessa área da “fama”, que vem junto com o reconhecimento do trabalho e da “figura pública” em que você se transforma. Eu confesso,que demorei a perceber essa sexualização do início da minha carreira, no sentido de fazer personagens sensuais. Com o amadurecimento da vida, do autoconhecimento, de ser “mãe”, tudo isso junto, foi transformando minhas visões de desejos pessoais e escolhas.
Fui me tornando mais dona de mim! Com a terapia, que consegui engatar no por parto da Nina, e já com a responsabilidade de encarar um filme fora do Brasil, que foi 'Veneza' do Falabella, viajar com uma neném, amamentando, digo que só eu sei os bastidores. A força de vontade, a ajuda da equipe, foi fundamental e anos depois ser agraciada com vários prêmios por esse papel (ganhei um kikito, um prêmio em Los Angeles e em breve tem outra premiação aqui do Brasil que estou entre as finalistas). Tudo isso me fez retomar a narrativa em volta da minha figura, do meu feminino, do meu real querer, começar a me aceitar mais, me cobrar menos, e ter êxito no trabalho.
Tive um parto sem anestesia, selvagem e um pós-parto com retomada ao trabalho 6 meses depois, curando minhas feridas e focando no "Eu" atriz ao mesmo tempo do "Eu" mãe acontecendo. De lá para cá, posso dizer que é uma marca de tempo por dia, uma quilometragem, uma bagagem que soma ao nosso eterno encontrar-se.
L'Off: Quais são as suas musas e inspirações? E qual delas gostaria de trabalhar junto?
Carol: Musas e inspirações são muitas, mas Fernanda Montenegro sempre foi referência pra mim. Trabalhei junto com ela no filme feito todo em família, "O Juízo", escrito pela filha Fernanda Torres, dirigido pelo Andrucha Waddington e eu sendo mãe do filho deles na vida real: o Joaquim. Foi incrível essa convivência com uma pessoa que tanto admiro. Gostaria de repetir um dia, temos também Laura Cardoso, Meryl Streep, Elisabeth Moss, Viola Davis…(risos)
L'Off: Que conselho daria para a Carol no início da carreira, que seria muito valioso para a Carol de hoje?
Carol: Acredite mais em si mesma, não se cobre tanto, não espere ajuda dos outros, siga sua intuição. Confie no caminho do bem que você escolheu, é mais difícil, árduo, injusto algumas vezes, mas nada como dormir com a consciência tranquila de que você nunca precisou passar por cima de ninguém para chegar onde chegou, sem que seja por cima de você mesma.
Não seja sua pior inimiga, foco, força, fé e sonhe alto e estude muito! Sempre! Cada trabalho e vivência é uma preparação, vai moldando o ser. Estarei aqui pra te abraçar, sempre que precisar!