Poderosas: entrevista exclusiva com as personagens de "The Boys"
"The Boys" é talvez uma das séries mais feministas que foi ao ar nos últimos anos. A super produção da Amazon Vídeo, baseada nos quadrinhos de Garth Ennis de 2005, faz uma sátira sobre os super-heróis, onde eles vivem no mundo real e são como influenciadores e celebridades com poder ilimitado, muito ego e valores distorcidos. Apoiada no gênero da fantasia e usando um tom cômico, a narrativa consegue trazer à tona diversos tópicos controversos e fortes críticas sociais.
Desde seu lançamento em 2019, um dos pontos centrais é o empoderamento feminino. Pode até parecer irônico, mas apesar de ter um maior número de homens para personagens principais, as mulheres da série se destacam em atitude, poder e até na força física, sejam elas super-heroínas ou mulheres da alta gestão corporativa.
O tópico ficou ainda mais em evidência na segunda temporada, que foi ao ar em setembro deste ano. Dentro e fora do enredo, a frase “Garotas Dão Conta” (Girls Get It Done) que começou como uma campanha para promover as super-heroínas, foi um tema recorrente durante toda a segunda temporada da série que termina mostrando tudo que estas mulheres são capazes.
Conversei com as duas atrizes principais da série, Erin Moriarty que interpreta a super-heroína Starlight e Karen Fukuhara que interpreta a personagem Kimiko ou Fêmea. Confira a entrevista a seguir:
Quem é a sua personagem?
Erin: A Starlight, ou Annie como é seu nome real, é um dos elementos mais pé no chão da série. Ela é uma super-heroína que tem poderes especiais, mas isso é apenas o contexto dela, porque ela lida com situações e desafios muito humanos. Mesmo em um mundo extremamente corrupto, ela não perde os seus valores nem se deixa vencer pelas circunstâncias. Isso a torna uma pessoa ainda mais forte.
Karen: A Fêmea ou Kimiko é a única mulher do grupo The Boys. É violenta e tem super poderes que deixam ela extremamente forte. Ela é apresentada para o público presa em uma jaula, quase como um animal. O principal desafio dela é reencontrar a humanidade dela que foi perdida.
Ainda é raro ver na televisão mulheres em cenas de luta. Como foi para vocês abordar essa parte física das personagens?
Erin: Uma das primeiras cenas que a gente gravou, era uma cena de briga à noite. A gravação foi até umas 5 da manhã. Eu achava que ia estar morta no final da gravação, ensaiamos muito porque esse tipo de cena não era o meu forte. E no final foi uma das coisas mais divertidas que eu fiz. Eu quebrei vários vilões, bati em um monte de gente, foi extremamente físico, mas foi uma ótima surpresa. Acho que é um dos benefícios de interpretar uma super-heroína.
Karen: Não há nenhuma donzela esperando para ser resgatada na série. Você tem que mergulhar de cabeça na parte física, pela estética, assim como para a habilidade. Eu fiz muita prática de rastejar no chão, por exemplo. E caminhar nas minhas mãos e pés. Isso junto com o figurino e o cabelo e maquiagem é o que mais ajuda para preparar. A transformação na minha aparência para essa personagem. No meu caso, é diferente dos outros personagens, porque ela é muda, então tenho que usar o corpo para comunicar.
Cada personagem tem um figurino muito específico e bastante complexos, sejam eles humanos ou super-heróis. Como foi a experiência de vocês?
Karen: Eu amei meu figurino era como estar de pijamas o tempo todo. Quando a Kimiko aparece pela primeira vez, ela está vestida com algo que não foi ela quem escolheu. É algo que quem capturou ela, escolheu para ela. As mudanças no figurino ajudam a mostrar a evolução que ela passa. Minhas roupas eram sujas de sangue sempre, mas super confortáveis. Eu sei que no caso da Erin, o figurino de super-heroína exigiu mais preparo para entender como usar e demorou umas 7 ou 8 provas até ficar certo. Eu só tive que provar uma ou duas vezes.
Erin: Sim, eu precisava de um time de pessoas para me vestir todos os dias. E vou dizer, não era a roupa mais confortável, principalmente nos dias longos de filmagem. Mas valeu a pena, porque na hora que você coloca a roupa, já faz grande parte da construção da personagem, seus movimentos e sua postura. É um pouco surreal, porque é como uma fantasia de criança, vestir uma capa todos os dias no trabalho. Quem não quer fazer isso?
Karen, qual foi o maior desafio de interpretar uma personagem que não fala?
Foi na verdade um dos maiores desafios que eu enfrentei para construir a personagem, porque eu queria interpretar alguém que quer muito falar mas não consegue. Além das questões técnicas, por exemplo, as cenas de ação que você quer ter uma respiração mais forte. Mas o foco é sempre nesse desejo e necessidade de falar e saber que eu não posso fazer isso.
Erin, como você trabalha as duas identidades da sua personagem? Há uma separação entre a super-heroína Starlight e a Annie real?
Eu quase não vejo as duas de forma separada. Há um lado dela que possa parecer mais delicada e insegura, a sua força está presente, seja quando está vestida de super-heroína ou com suas roupas normais. Mesmo quando ela questiona o seu lugar no grupo dos heróis, isso vem do fato de que ela é muito segura de si e não quer abrir mão de seus valores. Ela parece aquela menina ingênua do interior, tem uma estética angelical e etérea, mas ela na verdade é super forte e ousada.