Hotel Fougère é sim um lugar perfeito para se sentir em casa
Ocupando o sobrado que já foi a residência do filósofo Auguste Comte, o recém-inaugurado hotel Fougère, em Paris, esbanja charme e aconchego
A expressão “ficar em um hotel” pode ter várias interpretações. Para Bertrand Plasmans significa um espaço acolhedor com o glamour parisiense. Hoteleiro por natureza, ele deu seus primeiros passos em 1989. Dez anos depois, tornou-se proprietário do Le Saint, um grupo de três hotéis-butique que recebeu celebridades incógnitas, viajantes hedonistas e clientela local durante anos. Em 2018, fez as malas e virou a página. Durante a pandemia, veio a vontade de algo novo, ainda mais aconchegante e exclusivo, com atenção redobrada aos detalhes. Foi assim que nasceu o recém-inaugurado Fougère.
O endereço – Rue Bonaparte, 36, no coração de Saint-Germain-des-Prés – é o mesmo que, no século 19, foi moradia do filósofo Auguste Comte. De sua janela, observava a decadência do sistema feudal, dando lugar a uma sociedade urbana e moderna. Sua leitura desse processo repleto de conflitos fez dele um dos precursores da sociologia. No sobrado ao lado do hotel também moraram a atriz Romy Schneider, que ficou mundialmente famosa na pele da imperatriz Elizabeth Amelie Eugenie, apelidada de Sissi, e o cartunista Georges Wolinski, que trabalhou em vários jornais franceses e foi morto em 2015 no atentado ao Charlie Hebdo. Na mesma rua também viviam o filósofo, escritor e crítico francês Jean-Paul Sartre, que acreditava na atuação ativa dos intelectuais na sociedade, e a decoradora Madeleine Castaing, que revolucionou o universo da decoração com a estética french kitsch batizada com seu sobrenome.
Esse estilo está na atmosfera deliciosa do Fougère, em português, samambaia, planta que tem tudo a ver com florestas tropicais. Ela surge na ambientação do hotel, in natura – ocupando floreiras em estilo Napoleão III, ao longo da escada que leva aos quartos, em estampas, azulejos pintados à mão e de maneira gráfica nos tapetes e carpetes bicolores. Plasmans conta que desde o início pensava em um hotel “verde”: “Durante as obras, quando foram descobertos os armários para roupas sujas nas escadas e surgiu a ideia de transformá-los em estufas, nasceu a inspiração de ter samambaias e, consequentemente, o nome do hotel.” A ambientação conversa com a atmosfera à la Castaing.
TODOS OS DIAS, arranjos florais FRESCOS SÃO ENTREGUES NO Fougère POR BAPTISTE, O FLORISTA DAS maisons DE LUXO
A sala de estar foi projetada como um enorme aviário em terracota repleto de flores e pássaros, o restaurante tem tecidos com estampa de leopardo conversando com listras e folhagens. O piso de madeira foi restaurado e nas paredes estão cartazes, fotos e desenhos de moda provenientes da Galerie Durst, criada há 40 anos. O projeto é da arquiteta Sandrine Gouin com toques pessoais de Monsieur Plasmans – sua marca registrada inclui objetos garimpados e antiguidades maliciosas, móveis feitos sob medida e prints exclusivos. Um dos trunfos do hotel é, justamente, a atmosfera de casa com muita história para contar e um serviço de primeira – os funcionários, simpaticíssimos e atenciosos, são um capítulo à parte.
O sobrado foi adaptado para abrigar apenas 20 quartos e quatro suítes. Perfeitas para uma estadia romântica são as opções aninhadas no espaço que um dia foi o sótão, com teto triangular e janelas para ver o céu. Todos os dias, arranjos florais frescos são entregues no Fougère por Baptiste, o florista das maisons de luxo. Se você conseguir sair desse ambiente aconchegante, saiba que do lado de fora, a poucos metros estão o mítico Café de Flore, a brasserie Lipp – que patrocina um prêmio literário anual, o Prix Cazes –, a igreja de Saint Germain-des-Prés e a única loja na Europa da Lupicia, marca japonesa de chás.