Viagem

Os encantos da Serra da Mantiqueira, a "Toscana brasileira"

Ar puro, pé na grama e o som de riachos é o que inúmeros moradores de grandes centros urbanos consideram o ápice do bem-estar. A Serra da Mantiqueira oferece tudo isso e ainda um cenário gastronômico impecável.

Serra da Mantiqueira. Fotos: Reinaldo Opice e Divulgação
Serra da Mantiqueira. Fotos: Reinaldo Opice e Divulgação

Com a pandemia, muitos viajantes que olhavam para fora do país como destino de desejo tiveram de redescobrir o prazer de pegar o carro e diminuir o ritmo com o auxílio do trepidar dos pneus por pequenas estradas brasileiras. Mesmo com uma maior liberdade para carimbar o passaporte agora, com o avanço da vacinação e a abertura de fronteiras, são inúmeros os turistas que ainda querem seguir no país.

Entre os grandes “(neo)achados” do turismo local está a Serra da Mantiqueira, recém-batizada informalmente como a “Toscana brasileira”. Tal apelido, exaltado com orgulho pelos moradores locais, condensa duas características bem marcantes da área montanhosa que se estende por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (e que lembra a região central da Itália por seu clima e agroturismo): a gastronomia focada em ingredientes locais e o ar puro.

Morada das águas

Mantiqueira é um nome de origem tupi. Une amana (chuva) com tykyra (gota). Por ali a abundância de nascentes, além da umidade característica da mata atlântica e mata de araucárias, é mesmo impressionante. Uma forma interessante para ter um contato intenso com essa riqueza hídrica é fazendo trekking. Para iniciantes na prática, o ideal é começar pelos entornos de Campos do Jordão. O popular roteiro turístico de inverno se tornou uma opção cool para casais e famílias de grandes cidades que buscam fugir do turismo abarrotado de pessoas, bastante comum no litoral do país entre a primavera e o verão. Botas nos pés, roupa confortável, um bastão de caminhada e um binóculo (para momentos incríveis de birdwatching) fazem parte do kit para o passeio. Guias profissionais são indicados para dar assistência e rechear o circuito com histórias. Uma boa indicação é a equipe do Aventoriba, grupo que leva a pontos isolados, exclusivos e com vistas deslumbrantes. 

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Fotos: Storm Films / Divulgação

With a view

A opção mais disputada de caminhada ao ar livre é o percurso no fim da tarde com direito a vinho e piquenique gourmet tendo como pano de fundo uma vista incrível, de cima de um morro, para um alaranjado pôr do sol e fogueira. Antes de chegar até esse momento reconfortante da expedição, não deixe de recarregar as energias molhando os pés em cachoeiras e riachos ou visitando alguma trincheira da época da Revolução de 1932. 

Comida de verdade

Agora, se o assunto for gastronomia, prepare-se para uma verdadeira expedição de sabores e informações. A Mantiqueira é celeiro de ingredientes finos com reconhecimento internacional. Um bom exemplo são os cafés de São Sebastião da Grama. Os da Fazenda Santa Alina, cujos microlotes sempre se destacam em premiações do setor, são imperdíveis. Acompanhe um coado com uma porção de pães de queijo feitos também nas redondezas. A receita que leva tulha, queijo da Fazenda Atalaia que já abocanhou uma medalha de ouro no World Cheese Awards, tem cremosidade ímpar.

Já para os amantes de um bom brunch, uma salada de PANCs da região, um crumble com mel de abelhas jataí, uma bela burrata do Laticínio Montezuma regada com azeite Fazenda Irarema ou Rossini e uma taça de vinho produzido com a técnica de poda invertida é uma experiência de haute cuisine totalmente local e que pode ser apreciada sob a sombra de um jatobá ou ao lado de araucárias. O frescor à mesa é, sem dúvida, um dos pontos altos da viagem, que deve durar, no mínimo, uma semana. Outras ótimas mesas são as do restaurante farm to table Mina, do aconchegante Dois Rios ou mesmo da informal Fazenda Eisland, morada de incríveis sorvetes e fondants. 

A Mantiqueira é celeiro de ingredientes finos com reconhecimento internacional

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Fotos: Reinaldo Opice e Divulgação

No ninho

Com tantas atividades ao ar livre e um roteiro gastronômico agitado, a hora de descansar se faz mais do que necessária. E em um dos pontos mais altos da Mantiqueira é possível fazer isso de uma forma diferente, graças à mais nova hospedagem disponível na região: os ninhos. O projeto é um chalé de vidro, suspenso sobre um bosque localizado na propriedade histórica de Campos do Jordão e ponto do melhor fondue da cidade, o Hotel Toriba. A vista é panorâmica e os nomes inspirados na fauna local: beija-flor e sabiá-laranjeira. A experiência é bem diferente do que a habitual estadia no prédio-sede construído em estilo alpino. O projeto é minimalista, de aço e vidro, com decoração exaltando designers brasileiros e integrando a copa das árvores aos cômodos. A 10 metros de altura, em um jardim privativo que faz parte da suíte, é possível apreciar o café da manhã e ler um bom livro. Também é possível fazer um anywhere office ali, já que a Internet é de alta velocidade. A perspectiva do trabalho até muda, como se você estivesse flutuando no preservado verde da região enquanto responde a e-mails. 

Pelas lentes

Para quem quer voltar da viagem com novos conhecimentos, os cursos de fotografia de natureza são uma ótima escolha. “A região da Mantiqueira tem vários pontos altos para quem gosta de fotografar. A Pedra do Baú, por exemplo, é impressionante de diversos ângulos. Outro ponto interessante para treinar os cliques é o nascer e o pôr do sol vistos dos principais picos, como o Agudo, em Santo Antônio do Pinhal, o Itapeva e o do Diamante, esses últimos em Campos do Jordão”, diz Reinaldo Opice, fotógrafo que dá cursos e workshops na região. “Também é interessante clicar as estradinhas e os caminhos rurais, com suas capelinhas, casas caipiras e, com um pouco de sorte, algum tropeiro que ainda cavalga na Mantiqueira”, completa.

Fechando a programação, um momento solitário, mas impressionante, se faz essencial na aventura. Desligue todas as luzes do local em que estiver hospedado e, em uma noite de céu limpo, perceba a imensidão de estrelas e planetas, que se fundem com o voo de vaga-lumes e o canto de animais silvestres de hábitos noturnos. Em dias bem secos também é possível apreciar o esfumado da Via Láctea e de nebulosas. É aquele momento em que você se sente pequeno perto da imensidão do universo e pensa no que é realmente importante em sua vida – e como é bom dar uma pausa para recarregar as energias em um local ainda muito preservado em nosso país.

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Fotos: Reinaldo Opice e Divulgação

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