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Cultura da Dieta: como manter uma relação saudável com a comida?

A discussão sobre a cultura da dieta ganhou força após afirmação da modelo e apresentadora Chrissy Teigen sobre o tema. Conversamos com experts para entender o movimento
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Seria o fim da cultura da dieta? Com a conversa sobre equilíbrio entre o corpo e a saúde mental ganhando cada vez mais força, é natural repensar os diversos aspectos de sua vida que podem trazer um gatilho ou gerar algum tipo de ansiedade e transtorno. Uma rotina de restrições alimentares em prol de um “corpo ideal” é uma delas – e que cada vez mais está caindo por terra. 

  

Nutricionistas e endocrinologistas estão cada vez menos adotando o termo “dieta” e apresentando a ideia de um “programa alimentar” que leva o paciente a uma reeducação, na qual a saúde e bem-estar são imprescindíveis – muito diferente de fórmulas extremas que acompanhamos durante muito tempo, que levava pessoas a transtornos alimentares e psicológicos e que podiam desencadear diversos problemas de saúde.

  

De acordo com a nutricionista Mônica Dalmacio o termo “dieta”, inclusive, não é mais recomendado pelo Conselho Federal de Nutrição, porque ela traz uma ideia de algo temporário e restritivo. “A ideia é que você faça uma mudança no estilo de vida, é uma reeducação alimentar e assim você tem um resultado, que é um resultado duradouro”, revela a profissional.

  

Um dos nomes que aboliu a “cultura da dieta” é a modelo e apresentadora Chrissy Teigen, 35 anos. Em entrevista para a People ela revela: "Acho que agora, neste ponto da minha vida, é mais importante para mim aproveitar as coisas como elas vêm. Eu meio que coloco minha mente acima de meu corpo um pouco, mente e espírito sobre o corpo. Se isso vai me fazer feliz e me fazer sentir bem, então eu me entrego a isso”.

  

Mas por que é necessário abolir esse pensamento da “cultura da dieta”? Para te ajudar a compreender essa situação, convidamos 4 profissionais para falar sobre o assunto, a Nutricionista Aline Monteiro, do Rio de Janeiro, a Nutricionista Mônica Dalmacio, o Dr. Rodrigo Mendes, endocrinologista e a Dra Isabela Bussade, endocrinologista.

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(Foto: Unsplash)

Por que a cultura da dieta é prejudicial?

Ao questionar isso aos especialistas, duas principais questões foram pontuadas: o problema de saúde mental, bem como os resultados serem rápidos e momentâneos.

"É um padrão, uma busca momentânea e você começa a seguir sua vida em função disso. Você não faz isso porque é saudável, você faz isso em busca de um corpo que para você é considerado seu padrão de beleza, não necessariamente saudável. O principal problema dessa busca são os problemas de saúde mental”, revela a nutricionista Mônica Dalmacio.

O Dr. Rodrigo Mendes fala também sobre o sentimento que a palavra “dieta” traz, falando que ela remete a privação, castigo e punição “e acaba não dimensionando o seu verdadeiro sentido que é o de gerar saúde”.

Outro fator pontuado são os riscos para a saúde que essas mudanças drásticas podem trazer ao corpo. "A grande maioria dos estudos mostram que dietas por curto período de tempo podem trazer uma redução do peso e variáveis ligadas a risco cardiovascular, mas o fato delas serem autolimitadas fazem que quando o indivíduo volta ao hábito alimentar anterior ele não só recupera o peso como volta a ter todos os outros marcadores de risco cardiovascular”, explica a Dra Isabela Bussade. “Dessa forma, essa oscilação entre reduzir e aumentar peso, gera um maior estresse oxidativo e desgaste metabólico, Por isso que a gente não trabalha dentro desse raciocínio.”

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(Foto: Reprodução/Instagram @stezzzzzzzzz)

Quais os perigos da cultura da dieta?

“Um dos grandes perigos é fazer a dieta por conta própria sem supervisão de um profissional sério de saúde”, explica o Dr. Rodrigo. “Muitas pessoas acabam seguindo as dietas por conta própria e a dieta da moda e muitas vezes essas dietas são restritivas, sem um embasamento científico e que existem contra indicações que podem gerar distúrbios hidroeletrolíticos, deficiências de vitaminas, minerais, podendo desencadear anemia, constipação, cansaço, cãibras, diminuição na performance da atividade física, perda de cabelo até mesmo desmaio e entre outras complicações”.

Outros pontos negativos são “o risco de consumir cronicamente menos calorias do que seu corpo precisa e perder massa magra e óssea, e em longo período osteoporose”, explica a Dra. Isabela. "Mudanças no sistema endócrino, mudanças no aparelho reprodutivo”. A médica pontua ainda a possibilidade do desenvolvimento de um transtorno alimentar.

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(Foto: Reprodução/Instagram @laperlalingerie)

Ainda é relevante seguir um plano alimentar restrito? Em quais casos?

O plano alimentar restritivo tem suas indicações, e elas são principalmente para pacientes com problemas de saúde. “Eu prescrevo para pacientes como alguma doença, como por exemplo doença renal, doença como diabetes, hipertensão arterial, doença de Crohn entre outras, cardiopatia, gastrite. Normalmente só é indicada para esses casos”, revela a nutricionista Aline. “Se o paciente não tem nenhuma doença, não é necessário excluir alguns alimentos, não há a necessidade de restrição severa de forma rigorosa”.

O Dr. Rodrigo pontua ainda a importância do plano alimentar restritivo para pacientes com obesidade. “Para induzir rápido a perda de peso e motivar o paciente com excesso de peso, devem ser seguidos os planos alimentares restritivos por outro tratamento com a finalidade de manter a perda de peso", revela. “Outro benefício é em caso de obesidade para reduzir riscos cirúrgicos, melhorar apneia do sono, melhorar o perfil metabólico e pode promover alívio de dores articulares causadas por excesso de peso, entre outros.”

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(Foto: Reprodução/Instagram @jomeena_)

Como manter uma relação saudável com a comida nos dias de hoje?

Há diversas formas para manter uma relação saudável com a comida “a gente precisa conhecer alguns conceitos sobre alimentação saudável e isso deve ser embasado em fontes científicas consistentes, a gente tem que ter muito cuidado com as fontes de onde vem essas informações”, revela a Dra Isabela. “A gente tem que conhecer nossa fisiologia e nossa saúde, para saber que o que é bom para mim pode não ser bom para meu amigo, meu vizinho. Orientações generalizadas são muito contraproducentes. Tem que conhecer regras adequadas de alimentação, respeitar a fisiologia da fome”.

Outro ponto importante é conhecer também o tipo de fome que você está sentindo, se ela é emocional ou orgânica. “ A emocional geralmente tem relação com situações de ansiedade, estresse, normalmente ela não tem uma hora para chegar, está ligada a esses episódios. Geralmente se busca alimentos ricos em gordura, ricos em açúcar e esses alimentos a saciedade é momentânea. Já a orgânica é acompanhada por outros sintomas, além da fome, dor de estômago, dor de cabeça, tontura, ela tende a melhorar depois do consumo de alimentos, geralmente não tem preferência por um tipo específico de alimento e a fome acaba cessando depois que a pessoa come”, explica o Dr. Rodrigo. 

Quanto à alimentação saudável, Mônica revela: “dê preferência a alimentos crus, alimentos minimamente processados, frutas, verduras, legumes. A gente volta a comer carne fresca ao invés de comer embutidos, nuggets, esses produtos que são muito processados”. 

Ela revela ainda o perigo de comer alimentos que são muito industrializados. “Esses produtos estão muito distantes do produto original, quando você tem um produto que nem parece com o produto original, por exemplo: milho e biscoito de milho, esses produtos tem uma quantidade muito grande de componentes químicos que fazem muito mal à saúde. Se você puder usar orgânico é a melhor coisa. Fazer as pazes com a comida. Isso é o mais aconselhável, comida de verdade”.

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(Foto: Reprodução/Instagram @bellahadid)
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(Foto: Reprodução/Instagram @haileybieber)
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(Foto: Pexels)

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