Mente online: como a internet pode afetar o cérebro humano
O que era uma mera desconfiança, agora está cada vez mais próximo de se tornar uma certeza: a internet está limitando o potencial humano. No campo da neurociência já existem estudos que o advento da internet, o mundo virtual, havia mudado o cérebro das novas gerações. Agora especialistas apontam que hoje as crianças e jovens são de fato mais inteligentes devido a evolução natural mas também muito mais inseguros e com muito menos capacidade de lidar com frustrações.
"A circuitaria neuronal mudou. Hoje as crianças são emocionalmente imaturas e por isso sofrem mais. Também está claro que, quanto mais tempo passamos online, mais alterações a nossa função cognitiva sofre”, afirma a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner.
Um time de pesquisadores das Universidades de Sidney, Harvard, Oxford e Manchester descobriram que a internet pode produzir alterações em algumas áreas específicas da cognição - o que pode refletir mudanças no cérebro, afetando nossa capacidade de atenção, memória e interações sociais.
Estudos apontam que o enorme impacto dos mecanismos de busca online podem levar-nos a confiar demais na Internet como uma fonte de informação, em detrimento da nossa própria capacidade de memória interna: "A memória da máquina é limitada. Quando acaba o espaço de armazenamento, em gigabytes, temos que ter um HD externo, por exemplo. Já a nossa memória, no nosso cérebro, foi feita pra esquecer, por mais paradoxal que isto possa parecer. Arquivamos de fato do hipocampo as memórias biográficas, afetivas, e as informações são descartadas. Então manipulamos dados e informações utilizando o que a máquina não tem, que é a criatividade.
A máquina cumpre um programa e tem uma quantidade limitada de armazenamento, enquanto nós temos a criatividade a gerar novas configurações, novos arranjos com informações velhas, articular o pensamento de forma a multiplicar o saber, as descobertas. A curiosidade e a criatividade são capitais humanos que elevam exponencialmente nossa cognição. A memória de fato foi feita pra esquecer, porque o ser humano não aguenta guardar “todos” os dados. A memória é seletiva, deixando na camada mais densa, inferior e bem guardada (longo prazo) o que de fato é importante, e isso explica porque recorremos tanto a informações na internet”.
O filósofo Fabiano de Abreu também é um dos que atribuem ao advento da internet e em especial das redes sociais a mudança na forma como o nosso cérebro funciona, principalmente em relação a cognição: “Percebo que quanto mais rostos um indivíduo convive em sua vida, menos decoram as faces recentes, decorando-as apenas quando as veem repetitivamente. É como se nosso cérebro fosse seletivo e o armazenamento limitado, apagando assim o que já sabe que é constante, repetitivo e sem aproveitamento. É como se a rede social injetasse tantas informações na nossa mente que fizesse essa parte seletiva agir não só no mundo real como também no virtual. As informações vem tão 'mastigadas' que o cérebro se adapta a não precisar lembrar, a ter de armazenar, tendo assim um sistema de busca externo. Minha hipótese é que seremos menos inteligentes no futuro, ou talvez apenas teremos um tipo de inteligência diferente que ainda não conseguimos entender. O Google mastiga a informação e nosso cérebro entende essa praticidade, logo pode ser que nossa inteligência será diferente da atual, compartilhada com as máquinas”.
Para Fabiano, isto faz parte de um processo evolutivo diferente do natural, desencadeado pela dependência da tecnologia: "Estamos ficando mentalmente preguiçosos. Quando fazemos muitas coisas ao mesmo tempo, nosso cérebro trava, como uma máquina com pouca capacidade de processamento. Vivemos mais tempo mas aproveitamos menos a vida real”.