O propósito e o livre-arbítrio: dicas para meditação e autoconhecimento
Nos últimos 20 anos, o entendimento sobre a meditação em nossa cultura sofreu uma profunda transformação. Se antes sua prática era alvo de preconceito, atualmente é adotada por pessoas das mais diversas áreas. Como professor e conferencista, fui testemunha de seus resultados positivos em atletas de alta performance e o quanto passou a ser uma atividade comum entre executivos que buscam, assim como os profissionais do esporte, melhorar seu desempenho, aprimorar a concentração, aperfeiçoar a gestão das emoções, apurar a vitalidade, entre outros objetivos. Esses perfis se sentem atraídos pela ideia de que o autoconhecimento provoca benefícios a todos os campos da vida.
A adoção de técnicas avançadas de meditação são uma chave mestra para o autoconhecimento. Durante este processo, ao olhar para si mesmas, as pessoas começam questionar: “qual é o propósito do ser humano?”, “qual o objetivo de minha vida?”. Ouço estas perguntas frequentemente entre meus alunos e do público de minhas palestras. Para responder a estas questões, usualmente peço para imaginarem que cada um de nós é a pintura de um quadro.
Inicialmente, nossa percepção é superficial e permite ver somente a pintura do quadro em si. Com a prática da meditação, começamos a separar a pintura da tela e notar que, sem a tinta, há uma tela em branco, que representa a nossa essência, o que realmente somos, objeto imutável que conceitualmente não tem nome e nem tem forma. Em sânscrito, namarupa.
Já a pintura representa a percepção que temos de nós mesmos, é a história que contamos e aquilo que entregamos ao mundo. É mutável e simboliza a nossa experiência de vida, tudo aquilo que ocorreu ao longo de nossa história pessoal.
Com o conhecimento de si próprio, percebemos que, até então, não fomos conscientes por cada pincelada.
O mérito da meditação é nos conectar com esta tela em branco nos trazendo a consciência de que é possível atuar sobre a pintura e tomar atitudes que podem modificá-la por completo.
Na jornada do autoconhecimento começamos a entender nossos condicionamentos, pensamentos, e como as emoções têm influência sobre nós.
Passamos a entender que muitas de nossas decisões cotidianas são apenas impulsos inconscientes.
Quantas vezes acordamos de manhã e tomamos café como um simples ato de repetição, de rotina, não necessariamente pela necessidade de cafeína? Da mesma forma repetimos padrões comportamentais que nos levam por exemplo a sentir ciúmes e apego, condicionamentos estes que se manifestam inconscientemente, de acordo com as pincelas de sua tela.
O autoconhecimento é entender como funcionamos e como podemos lidar melhor com este padrão de comportamento e daí, melhorar a própria ação. Em outras palavras, fazer melhor as nossas escolhas, decidir qual história vamos contar e por qual trilha vamos caminhar. Reconhecer que podemos ser o pintor daquela tela em branco significa ter a consciência do livre-arbítrio, de que podemos mudar a direção de nossas vidas.
Com o autoconhecimento, podemos mudar nossas ações no presente, a forma como atuamos no nosso tempo, na nossa rotina e nas nossas ações. E isso pode se desdobrar para qualquer aspecto de nossa vida, seja numa relação afetiva, no desempenho profissional numa empresa ou ainda na performance de um atleta.