Cultura

Liderança feminina! Confira uma entrevista com Angela Pugliese

Lugar de mulher é onde ela quiser. A frase de efeito está cada dia mais real no ambiente corporativo, com liderança feminina em terrenos que antes eram predominantemente masculinos

clothing apparel dress female person human woman couch furniture
Fotos: Murilo Mendes

Angela Pugliese, economista com MBA Executivo Internacional pela USP, Master em Programação Neurolinguística e CFO do Richemont, conglomerado suíço com Montblanc e Cartier no portfólio, tem uma carreira estabelecida em finanças após passagens por empresas de telecom, capital aberto e agora no mercado de luxo. Mas não pense que sua rota foi em céu de brigadeiro até chegar aonde está. Em entrevista à L'OFFICIEL, a executiva conta quais foram as barreiras que enfrentou sendo uma mulher próspera em uma árca ainda muito masculina e como se empenha em fazer outras profissionais chegarem lá.

Como você decidiu seguir a carreira em finanças?

Tudo começou com o curso de Economia que fiz na PUC-SP. Sempre gostei de matemática e política. Quando estava no cursinho, analisando as possibilidades de carreira, percebi que Economia me daria uma boa base para lidar com os questionamentos que já tinha na época, ao mesmo tempo que me daria uma boa formação para ingressar no mercado de trabalho. Eu trabalhava como recepcionista em um escritório de advocacia, e me lembro do meu chefe (um advogado bem famoso na época) dizendo que Economia não era uma formação para mulheres, que era melhor eu fazer Direito. Talvez isso tenha me provocado ainda mais para seguir em Economia. Naquela ocasião, já defendia muito os direitos da mulher no mercado de trabalho. Ingressei no curso, éramos pouquíssimas mulheres, mas seguimos em frente. Rapidamente fizemos outras amizades. Eu trabalhava como assistente comercial naquele momento, mas queria muito ir para a área financeira. Foi quando um amigo me indicou para trabalhar na tesouraria da maior editora da América Latina. Ali eu comecava a realizar o sonho  de atuar na area financeira. Desde então não parei mais.

Quais foram os principais desafios dessa escolha?

O maior deles na área financeira é a questão de gênero. Ela é uma área supermasculina. Quando a gente começa a discutir temas técnicos, análises financeiras, fundamentos da economia, etc, todos ficam surpresos, pois não esperam que mulheres tenham essa capacidade. Acredito que temos que ser perseverantes.

Você é co-autora de Mulheres nas Finanças, lançado em novembro passado pela Editora Leader. Como foi fazer parte do projeto?

Embora tenha relutado de início, por causa dos com promissos de trabalho e de família, foi fantástico. Hoje fico muito feliz por ter aceitado. Acredito que o livro tem uma importância fundamental para as jovens executivas e aquelas que estão tomando a decisão sobre a carreira ao mostrar que é possível trabalhar e ter sucesso na área financeira. Além disso, podemos nos tornar agentes de mudança, trazendo diversidade para esse setor tão importante em qualquer empresa.

Além do livro, você participa de outras iniciativas para exaltar a presença feminina em um campo que ainda é muito masculino.

Sim. Sou cofundadora do W-CFO (Women Chief Financial Officer). Um grupo que identificou a pequena participação da mulher na liderança financeira em empresas. Ele está focado em ajudar mulheres a crescerem dentro de suas organizações, para chegarem ao posto de liderança. Percebemos que somente divulgar o W-CFO já inspira muitas mulheres, mas não ficamos por aí. Provemos mentoria para mulheres em postos gerenciais e que estejam dispostas a chegar em postos de C-level. Sabemos que não há emprego para todos, então a pequena empreendedora deve ser apoiada para ter uma vida minimamente digna também. Pensando nesse lado social, estamos estruturando treinamentos financeiros para pequenas empreendedoras em situação de vulnerabilidade. Falando sobre como gerir um pequeno negócio. Também estamos desenvolvendo um outro treinamento sobre finanças pessoais para mulheres com baixa renda e/ou em situação de vulnerabilidade. Às vezes, entender um pouco sobre a sistemática do cartão de crédito ou do cheque especial, pode ajudá-las a organizar suas finanças pessoais.

A mulher que consegue administrar sua vida financeira se preserva mais de violências de gênero?

Sem dúvida. A organização das finanças pessoais é um dos pilares para a felicidade. Uma mulher que tem independência financeira consegue ser independente em outros setores da vida, tendo poder para dizer não a violência de gênero ou a qualquer outro tipo de violência. Ela pode tomar a decisão de sair de ambientes violentos, uma vez que tem como bancar isso e não precisa ser subjugada por outros.

Quais seriam suas dicas para uma mulher que não trabalha na área de finanças, mas quer começar a administrar molhor seus investimentos?

Temos que partir do básico: como você gera uma receita; como você gasta em itens básicos; como você gasta em itens supérfluos; quais são seus sonhos; quais são seus planos. Essa matemática é bem simples, ou seja, contas de mais e de menos. No final tem que sobrar dinheiro para investir em seus sonhos de médio e longo prazo.

Como fazer com que mulheres consigam prosperar mais e alcançar cargos de lideranca na área financeira, como CFO?

O primeiro passo começa na decisão de formação. Muitas ficam reticentes sobre escolher um curso que aparentemente é masculino. Isso não deve ocorrer. A mulher tem a liberdade para escolher o que achar melhor. Uma vez escolhido, deve entrar no mercado de trabalho, por mais masculino que pareça ser. A mulher deve ousar, se candidatar, participar de entrevistas, fazer networking e, se escolhida, seguir em frente. A mulher deve ser um agente de mudança no ambiente corporativo. A mulher deve ser resiliente. Sei que não é fácil conciliar todos os compromissos, especialmente com filhos e trabalho, mas é sim possível. Ela deve ao menos tentar e definir uma rede de apoio (marido, companheiro(a), pais, assistentes, etc.) com quem possa contar.

Tags

Posts recomendados