Rita Lee: musical reverencia seu legado com obra autobiográfica
Conversamos com a atriz Mel Lisboa sobre essa nova produção e como Rita Lee, a lenda do rock nacional, impactou sua vida e sua carreira
Um musical para reverenciar o legado de Rita Lee, ícone da cultura brasileira que nos deixou no ano passado, está em cartaz nos palcos paulistanos. A nova montagem dá movimento à obra autobiográfica da cantora. Conversamos com a atriz Mel Lisboa sobre essa nova produção e como a lenda do rock nacional impactou sua vida e sua carreira. Confira!
L’OFFICIEL Você, mais uma vez, interpreta Rita Lee em uma peça, batizada agora como Rita Lee — uma autobiografia musical. O que esperar desse projeto inédito?
MEL LISBOA A principal diferença desta nova temporada para a primeira obra teatral é que agora o ponto de partida é a autobiografia da Rita Lee, como o nome sugere. Ou seja, é a história que ela mesma narra de si. Diferentemente do outro espetáculo, que era uma adaptação do livro Rita Lee mora ao lado, uma biografia meio fictícia de Henrique Bartsch. Quem contava a história nessa primeira adaptação era uma suposta vizinha da Rita, a Bárbara Farniente.
L’O Como foi sua preparação para essa investida, agora sob o ângulo de Rita Lee?
ML A preparação é bem semelhante à do primeiro, embora agora me sinta um pouco mais preparada, por já ter feito a Rita outra vez. E por, de certa maneira, ter convivido com ela todo esse tempo, as pesquisas já estavam mais avançadas. Mas é claro que tem a retomada, as atualizações. Porém, com essa parte inicial mais desenvolvida, foquei mais nas questões técnicas, para chegar a um resultado melhor do que eu já tinha alcançado há dez anos.
L’O Roberto de Carvalho, marido de Rita Lee, assistiu ao ensaio e os relatos foram de muita emoção. Como foi para você tê-lo ali, em primeira mão, conhecendo o musical autobiográfico?
ML O dia em que o Roberto foi nos assistir foi uma emoção indescritível. Estávamos fazendo um ensaio, um corrido do espetáculo, mas tudo ainda muito cru, sem figurino, sem peruca, sem cenário. Ele estava sentado em um sofá a um metro e meio de distância da gente. Eu estava muito tensa. Embora o Roberto já tivesse me assistido outra vez, agora é diferente. A Rita está em outro plano e é outra responsabilidade nesse momento. É a história dela, que ela contou no livro de própria autoria, que a gente está traduzindo para o teatro. Estava morrendo de medo, confesso, mas logo que o Roberto chegou, ele foi tão carinhoso, tão receptivo que a gente também ficou mais à vontade. Esse momento ficará eternizado na minha história pessoal. Com certeza foi um dos mais marcantes da minha vida.
L’O Quais são as características da Rita com as quais você mais se identifica?
ML Quanto mais conheço a Rita, mais admiro e me impressiono com sua genialidade, mas também me sinto mais distante, porque não chego nem ao dedinho mindinho da pessoa, da mulher e da artista que ela foi. Eu me sinto honrada por representá-la. Embora a gente tenha o mesmo signo [Capricórnio], posso dizer que talvez a única coisa que me identifique, de fato, é como ela conseguia ter uma visão crítica do próprio trabalho, mas de uma maneira divertida. Porque ela é debochada e eu não consigo ter esse deboche que ela tem. Não consigo ter essa inteligência, essa rapidez. Mas eu também tenho dificuldade de olhar para mim, para o meu trabalho, de uma maneira não muito dura, sabe? Eu me cobro demais e isso não é uma qualidade. Acho que isso às vezes me reprime.
L’O Vivê-la nos palcos teve quais impactos em sua vida profissional e também pessoal?
ML Ter feito a Rita há dez anos foi a melhor decisão que tomei na vida, porque saí de outro trabalho, fui muito criticada por isso, mas seria impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Arrisquei e, felizmente, deu certo. Foi um divisor de águas na minha carreira, que já estava flertando mais com o teatro; mas fazer a Rita foi muito além. Furou a bolha da classe teatral.
L’O Qual é o legado de Rita Lee, para as mulheres, em sua opinião?
ML A Rita é uma mulher de ação. Ela não foi aquela pessoa de levantar bandeiras. Ela não era do falar, era do fazer. O discurso dela estava nas letras, na atitude, estava em quem ela era. Então, foi uma referência e, claro, segue sendo, para muitas e muitas mulheres, mas o que é curioso, não apenas elas, né? Para muita gente, de todos os gêneros, de todas as idades. Enfim, uma mulher que realmente quebra barreiras e mostra que é possível ir muito além do que as pessoas dizem que é.
L’O Existe um projeto para o cinema, de uma ficção documental, sobre a artista. Você gostaria de vivê-la também nos cinemas, se tiver a oportunidade?
ML Claro! Adoraria. O teatro é diametralmente oposto ao cinema por ser um organismo vivo que nasce, se desenvolve e morre diariamente. Quando acaba, vira pó, assim como a vida. Já o cinema é a fotografia de um instante, algo que fica eternizado. Então, eu gostaria, sim, claro. E espero que o projeto saia do papel e que seja lindo, mesmo que eu não possa fazê-lo.
L’O Sua relação com ela, como era? Pois ela chegou a assistir e elogiar sua primeira peça.
ML Minha relação com a Rita sempre foi de muito cuidado, respeitando o espaço dela, essa característica dela de ficar mais quietinha na casa dela. No momento em que comecei a interpretá-la, há dez anos, a encontrei algumas vezes e ela foi sempre muito receptiva, carinhosa. Foi nos assistir, aí tive a oportunidade de conversar e saber que gostou muito do trabalho, ficou muito feliz com o que viu e, evidentemente, fiquei muito emocionada.