Marrakesh: um roteiro de 10 endereços gastronômicos inesquecíveis
Em uma cidade fascinante do Marrocos, reside uma autenticidade gastronômica ímpar repleta de cores, cheiros e sabores marcantes. Viajamos até Marrakesh para desbravar um roteiro de dez endereços gastronômicos inesquecíveis.
São raros os destinos turísticos populares que conseguem manter firmes suas raízes e sua autenticidade. Marrakesh é um deles, e isso começa pelo prato. Eu sou absolutamente fascinado pelo universo de cores, cheiros e sabores peculiares desse grande paraíso cultural culinário. A herança berbere e árabe, as influências africanas, e – infelizmente – os marcos da época do colonialismo francês, fazem de Marrakesh um destino gastronômico inigualável.
Antes de sentar à mesa e provar as inúmeras especialidades locais, faz todo sentido passear pelo labirinto da Medina, vibrar no clima das praças animadas, adentrar os mercados tradicionais, sentir o cheiro das especiarias, apreciar um banho turco – o hammam local – e admirar a magnífica arquitetura da Mesquita Koutoubia ou do palácio El Badi, entre numerosos outros programas possíveis. Foi nesse canto do mundo que o francês Yves Saint Laurent decidiu desfrutar seus melhores momentos.
Nos anos 1980, junto com seu marido Pierre Bergé, o estilista se apaixonou pela propriedade Jardin Majorelle e decidiu se apropriar dessa paleta de cores vibrantes, dos botânicos e da arquitetura dessa casa que merecem ser contemplados. Após sua morte em 2008, suas cinzas foram espalhadas nos jardins como um testemunho de seu amor pela cidade, uma eterna fonte de inspiração para suas criações. Bem ao lado, no museu que leva seu nome, é possível compreender melhor sua vida e admirar suas obras.
Vamos ao meu assunto predileto. Mergulhar na culinária de Marrakesh consiste em fazer uma verdadeira homenagem à cultura local e suas misturas. Prepare-se para viver uma experiência intensa, sentir uma riqueza abundante e digerir as influências que coabitam nos entornos. Nessa terra mágica, as ervas aromáticas e especiarias dão o tom e são, sempre, as protagonistas. Minhas comidas favoritas em Marrakesh, e não somente por lá, são as encontradas na rua.
Por exemplo, eu amo a pastilla, uma massa folhada crocante recheada de carne de pombo com amêndoas. Os típicos espetinhos de carne, chamados de brochettes, se misturam nos estandes com os falafels, as lulas empanadas, as samosas e as batatas. Mais adentro, os rituais e as especialidades da mesa marroquina são plurais e merecem ser degustadas com afeto nos vários bons restaurantes da cidade.
A começar pela harira, uma sopa feita com lentilhas, tomates, carne e, sempre, bastante especiarias. O tajine, ícone mundial, é um cozido com vegetais e um tipo de carne que dispensa apresentações. Há várias formas de preparo, cada um defende a sua. Outro traço da cultura local é o cuscuz marroquino, que já foi exportado para vários cardápios ao redor do globo. A lista de especialidades e receitas é imensa. É sempre bom guardar um tempo para morder os doces locais, o meu principal pecado. Fato é, pode-se ir e voltar a Marrakesh quantas vezes for possível, porque há sempre algo delicioso para provar.
COMPARTILHO, ENTÃO, UM ANTIGO E sábio conselho: VÁ ATÉ Marrakesh SEM PRESSA NENHUMA, COM A mente aberta, COM UM apetite DE DESCOBERTA, E COM MUITA FOME.
Um dia, durante minha primeira visita à cidade há mais de dez anos, estava passeando pela mítica praça principal Jemaa el-Fna. Um pouco afastado do agito encontrei um senhor bem idoso, que se ofereceu para passear comigo e me guiar. Conversamos um pouco, e seguimos andando.
Paramos no meio da Medina para tomar um chá de menta, um hábito marroquino que me encanta. De repente, olhei o relógio e fiquei apressado para continuarmos. Paramos em uma loja para comprar algumas louças. Então, ele colocou a mão no meu ombro, olhou no fundo dos meus olhos e disse “sabe de uma coisa, um homem com pressa é um homem morto”. Aquela frase e aquele momento me marcaram. Segui minha vida com esse pensamento guardado no coração. Até hoje, quando uma sensação de ansiedade e de pressa toma conta de mim, me atrevo a lembrar desse ditado. Compartilho, então, um antigo e sábio conselho: vá até Marrakesh sem pressa nenhuma, com a mente aberta, com um apetite de descoberta, e com muita fome. Vá e volte várias vezes, com um máximo de tempo. Dentro das dezenas de boas possibilidades gastronômicas na cidade, espero de coração aberto que esses dez lugares vão marcar sua memória como marcaram a minha.
Le Bacha A história do lindíssimo Bacha Coffee é apaixonante. Construído em 1910, o imponente palácio Dar el Bacha acolhia personalidades do mundo das artes e da política em torno de xícaras fumegantes de café arábica. Mais de 60 anos depois, vários arquitetos e historiadores trabalharam em conjunto com artesãos de diferentes ofícios para renovar e dar vida novamente a este emblemático templo. Hoje chamado de Musée des Confluences, é um lugar incrível para tomar uma xícara de café ou mesmo dar um passeio, no mínimo, intrigante.
La Grande Table Marocaine Dentro do suntuoso hotel Royal Mansour há um dos melhores restaurantes do Marrocos e do mundo. La Grande Table Marocaine leva a gastronomia tradicional marroquina ao seu mais alto nível e estilo de cozinha e hospitalidade. Tudo é de primeiríssima do começo ao fim, sem nenhuma falha no caminho. O emblemático hotel palaciano do rei do Marrocos escolheu a chef estrelada francesa Hélène Darroze para assumir a direção gastronômica do restaurante que costuma levar vários prêmios e estrelas graças a sua consistência e sua busca ininterrupta por excelência ao longo dos anos.
Dar Yacout Marcante, potente, suntuoso, único no mundo. A experiência no restaurante começa pela chegada nas ruas da Medina seguida da entrada pitoresca por uma porta quase secreta – uma vez que ele está instalado no topo de um riad, nome dado às casas ricas da região. Lá dentro, sente-se e prepare-se para viver momentos fartos, harmoniosos e inesquecíveis. O melhor da gastronomia autêntica marroquina é trazida à mesa em um cerimonial de serviço que nunca vi igual. Vá com fome, muita fome, e sem nenhuma pressa.
Al Fassia Fundado em 1986 por um grupo de mulheres marroquinas da mesma família, esse restaurante é uma verdadeira joia e instituição. O nome “Al Fassia” significa “mulher de Fès”, fazendo referência à cidade de Fès, conhecida por sua rica tradição gastronômica. Há mais de três décadas, o endereço conquista os amantes da boa comida com seus pratos tradicionais, seu décor autêntico, sua atmosfera hospitaleira de alma integralmente feminina. Eu me atrevo a dizer que aqui serve-se um dos melhores cuscuz do planeta.
Terrasse Bakchich Ao se perder nas ruas agitadas da Medina para fazer compras, observar ou apenas passear, há esse minúsculo restaurante típico que merece uma parada. Longe de todo glamour e pompa das mesas chiques e luxuosas, você vai encontrar aqui um dos melhores tajines da cidade. Sem receio, entre na pequena cozinha, suba as escadas e escolha uma mesa com vista. O proprietário e chef – cujo nome, lamentavelmente, esqueci – está ali todos os dias, sorridente, acolhedor, falante. Ele prepara os tajines seguindo instruções familiares ancestrais. Seu filho é quem cuida do serviço. Eu me lembro com clareza do prato delicioso e de todo o carinho com que foi servido.
Scarabeo Camp Agafay, terra mineral com paisagem lunar, é um cenário perfeito para assistir ao pôr do sol. O restaurante arma tendas brancas que contrastam com as impressionantes montanhas do Atlas. Em uma viagem ao passado, uma atmosfera leva você para uma expedição aos tempos áureos dos exploradores, uma verdadeira experiência sensorial. Das fogueiras ao entardecer, do aroma do pão fresco transportado ao ar puro e fresco da madrugada, esse acampamento gastronômico de luxo leva os seus clientes, com serenidade e magia, rumo a uma alquimia propícia ao devaneio errante.
Sahbi Sahbi No Marrocos, a cozinha costuma ser um lugar secreto, o domínio oculto das dadas, mulheres que transmitem receitas de geração em geração. É precisamente com esta intenção, de partilhar e transmitir conhecimento, que os clientes são recebidos. Em uma linda cozinha aberta e instalada no centro da sala de jantar, as mulheres estão no foco e fazem homenagem à cultura gastronômica marroquina com um cardápio criativo e diverso. A equipe inclui mulheres de diferentes regiões e origens. O resultado é um lindo “caldeirão” feminino e uma maravilhosa expressão culinária.
L’Ô à la Bouche De dar água na boca. Francês sem ser metido, aqui o chef estrelado Hervé Paulus fez sua fama com uma cozinha de bistronomie, uma interessante mistura da cozinha de bistrô com a alta gastronomia. Localizado no coração do bairro de Gueliz, nesse endereço ele recebe seus clientes em um clima elegante e simpático – do ambiente ao prato. O resultado de uma cozinha sazonal com produtos frescos escolhidos com maestria traz uma experiência gustativa interessante.
Grand Café de La Poste Cartão-postal da cidade, esse café-restaurante é um lugar de muitos encontros. Situado na praça 16 novembro no bairro de Gueliz, afastado da Medina, o prédio construído nos anos 1920 integra o patrimônio histórico de Marrakesh e simboliza a época terminada do protetorado. O local, que já foi um café e um ponto de correios, hoje é uma mistura de brasserie internacional com bar. Verdadeiro ícone social, é um lugar ideal para ver e ser visto. No cardápio, sem muitas surpresas, há clássicos da cozinha francesa com toques locais.
Pâtisserie Amandine Um dos meus doces favoritos na vida é a “Corne de Gazelle”. Mordê-lo sempre me faz lembrar da minha avó. Ela costumava me presentear com essa delícia ao final das refeições. O nome faz referência aos chifres de gazela que têm uma forma semelhante. Esse doce de influências árabes e andaluzes é feito de uma massa delicada e macia de farinha de trigo, manteiga e água de flor de laranjeira, com um recheio de pasta de amêndoas. Nessa pâtisserie de herança francesa você poderá provar essa especialidade e apreciar vários outros doces típicos locais e franceses.