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Pedro Neschling em entrevista exclusiva para a L'Officiel Hommes

Work hard, play hard! Versátil, o ator Pedro Neschling - que teve as brincadeiras infantis ambientadas nos bastidores de teatros mundo afora - traz a regra de buscar alegria no trabalho ao mesmo tempo em que encara o hobby quase como profissão

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Fotos: Divulgação

Ator, escritor, roteirista, cineasta e diretor de teatro são alguns dos ofícios mais conhecidos do carioca Pedro Neschling. Mas a essa ampla lista de atividades facilmente poderia somar-se uma outra: a de esportista. Em entrevista para a L’Officiel Hommes – realizada de casa, em Botafogo (RJ), antes de sair para uma agenda cheia de gravações –, Pedro contou que, nos tempos de escola, chegou a ter aulas de judô, porém acabou abandonando a modalidade. Logo depois da pandemia, ele decidiu voltar a praticar luta como um complemento para a terapia. “Neste ano, participei do campeonato mundial de luta livre e do brasileiro sem quimono de jiu-jítsu. Acabei vencendo os dois. Sou um atleta amador e posso dizer que esse é um hobby ‘quase profissional’. Gosto da competição, mas precisei diminuir o ritmo por causa das gravações da novela”, diz.

O ator, que é filho da atriz Lucélia Santos e do maestro John Neschling, conta que ficou surpreso com a recepção do público com a sua participação no remake de “Renascer”. “Estava fora do ar havia dez anos. Ser ator não era o meu foco principal. Mas qualquer profissional do audiovisual sabe a relevância de estar em um projeto marcante como este. Sem falsa modéstia, não sabia que tinha tanto carinho por parte do público até o meu nome ser anunciado.”

Estar em rede nacional trouxe também a possibilidade de jogar luz para o dia a dia das pessoas com deficiência auditiva. O ator – que teve a perda da audição diagnosticada aos 18 anos, mas apenas depois dos 30 anos começou a usar aparelho – lembra que deixar o público ver o equipamento em cena foi uma forma de fazer com que as pessoas como ele se sentissem representa- das. “Não me apresentava como pessoa com deficiência e o meu médico disse que era um milagre eu ter uma vida profissional e social por conta da minha perda auditiva. A primeira vez que fa- lei sobre essa condição, descobri que muita gente que enfrentava questão semelhante, mas não se falava abertamente por medo de ser tachada como limitada. A nossa sociedade é estruturalmente capacitista porque o povo não tem a tendência de perceber a de- ficiência como parte do cotidiano”, reflete.

Fotos: Divulgação

O desejo por uma realidade mais inclusiva foi expresso durante as eleições de julho, na França. Viralizou nas redes sociais a frase que o ator tuitou na plataforma “X”: “Qualquer derrota da extrema-direita é sempre uma vitória da humanidade”.

Pedro conta que gosta de voltar a Paris e a Berlim toda vez que é possível, e avisa que é leitor frequente da obra da escritora Annie Ernaux, vencedora do prêmio Nobel de Literatura. “Todo homem deveria ler o livro em que ela narra o próprio aborto (‘O Acontecimento’). Tenho tentado consumir mais literatura e cultura de mulheres porque a nossa formação foi toda feita a partir do ponto de vista do patriarcado. Gosto do jeito que a Annie escreve e a maneira como disseca o relacionamento com o pai, parece até um contraponto à ‘Invenção da Solidão’, de um dos meus autores favoritos, o Paul Auster. Quando Auster morreu, parecia que eu tinha perdido alguém da família, deixou marcas na minha formação. Levava o trabalho dele para falar na terapia.”

Ter crescido pelas coxias do mundo por conta da profissão dos pais fez com que Pedro associasse trabalho a diversão. “A verda- de é que não sei o que é uma vida sem atuação. Vi todas as peças da minha mãe e isso estimulou para que as minhas brincadeiras incluíssem teatro, música e literatura. Nos projetos em que me envolvo, preciso levar em conta questões práticas e financeiras, mas tento direcionar o meu trabalho pelo prazer para manter essa criança acesa dentro de mim.”

Esse equilíbrio entre a emoção e a razão fez com que o ator oficializasse o casamento com a chef Nathalie Passos. O casal, que mora junto há alguns anos, decidiu oficializar a união por questões burocráticas, como acesso a um plano de saúde conjunto. “Nós nos conhecemos por meio de amigos em comum e nos demos bem desde o primeiro dia. Entendemos que o casamento vai além de uma mera assinatura. Ele é fortalecido no dia a dia, nos acordos, nas conversas e nas trocas. Mas decidimos, para além da questão amorosa, ter os nossos documentos. Acredito muito que os encontros são únicos e experimentamos uma vida muito boa.” Pedro revela que admira a tranquilidade da esposa. “Ela é inteligente e tem segurança. Isso é ótimo porque as pessoas inseguras são reativas”, avalia. 

Fotos: Divulgação
  • SUPERNORMAL: Um dos projetos do ator é a roteirização do seu livro “Supernormal”, que fala de amizade e da quebra de preconceitos. Na história, Beto é um advogado de família tradicional, com ideias bem definidas sobre o que considera certo e errado, até encontrar uma mulher estranhamente familiar. Ele acaba descobrindo que Helena é o seu melhor amigo de infância, que agora é uma mulher trans. Esse reencontro o leva a questionar diversas certezas estabelecidas até aquele momento

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