Rodrigo Pandolfo fala de desafios, ressignificação e personagem
Com uma carreira premiada e extensa, Rodrigo Pandolfo é ator, diretor e não economiza talento quando o assunto é sua atuação no cinema, teatro e televisão. Formado em Técnico de Artes Cênicas pela CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) e Graduado em Artes Dramáticas pela UniverCidade, na cidade do Rio de Janeiro, o artista tem participação em diversos segmentos. Em conversa com a L’Officiel Hommes Brasil, Pandolfo fala sobre pandemia e a importância de analisar e ressignificar o momento. Também revelou detalhes sobre seu novo personagem em ‘Verdades Secretas 2’ e sua relação com moda. Confira a entrevista exclusiva!
L'Officiel Hommes Brasil - A pandemia fez com que olhássemos para tudo a nossa volta de uma forma diferente. Qual impacto toda essa transformação irá trazer na sua forma de viver e ver o mundo?
Rodrigo Pandolfo - Esse novo mundo chegou pra chacoalhar estruturas aparentemente muito sólidas, mas que ruíam por dentro, como se agora tivéssemos uma daquelas oportunidades que só acontecem de 100 em 100 anos, de romper com tudo o que nos tira do caminho da verdade e que aprendemos a aceitar como padrão ao longo da nossa criação tão equivocada. Ao longo da vida, aceitamos falsos dogmas como verdade, construímos nossa própria prisão com paredes firmes, uma estrutura difícil de romper e que agora estamos trabalhando pra derrubar. Porém, o grande erro é pensar que esse trabalho exige um esforço descomunal, dor, conflito, guerra, agressividade; muito pelo contrário, trata-se de um caminho inverso, pacífico, lindo, muito prazeroso, em direção ao centro, à fonte, à conexão com o Divino, com o amor. Uma espécie de alinhamento cósmico, uma mudança de rota que, se levada à sério, transforma tudo e nos possibilita, finalmente, encontrar a liberdade e o prazer de viver. Eu sei que esse papo parece romântico demais diante do momento atual tão terrível e revoltante, mas, de fato, é como eu sinto. É claro que, diante de um governo irresponsável, egoísta, desumano e genocida, fica difícil fazer uma curva tão radical e se apegar somente às vibrações mais elevadas, mas garanto que é uma escolha. E isso não significa fechar os olhos para os problemas do mundo, pelo contrário, quanto mais o mundo adoece, mais firmes precisamos estar na direção do amor. É paradoxal mesmo. Portanto, tenho encarado essa transformação como uma oportunidade de auto-conhecimento, destrave de crenças limitantes e conexão com o coração, afinal, é ele que nos mostra o caminho certo.
L'Officiel Hommes Brasil - Você está envolvido na segunda temporada de ‘’Verdades Secretas’’. Conte um pouco mais sobre esse projeto e sobre seu personagem?
Rodrigo Pandolfo - Pra mim, Verdades Secretas 2 já é um projeto de sucesso sem mesmo ter estreado. Talvez eu nunca antes tenha trabalhado com uma equipe de profissionais tão competentes…da direção ao figurino, do elenco à fotografia, tudo de um bom gosto impecável. A série traz uma identidade de suspense única, num cenário um tanto futurista. Uma obra de arte. Meu personagem chama-se “Benji”; ele é um dealer (traficante de rico, como dizem rs), um cara da noite, das drogas, está sempre no controle, manipulando tudo e ganhando seu pão dessa forma um tanto arriscada; até que ele conhece o “Bruno”, personagem do João Vitor Silva, que, além de ser seu cliente, é herdeiro de uma fortuna. Os dois vivem uma relação que caminha entre o sexo, a carência e a ambição. O final é segredo rs. O Benji tem sido muito inspirador, em todos os sentidos. Primeiro por me colocar numa energia radicalmente diferente da minha, me possibilitando misturar luz e sombra, bom e mau, sem julgamentos. E, segundo, pela alegria de trabalhar com gigantes como Walcyr Carrasco e Amora Mautner, que sempre fui fã e agora sou parte da equipe. Só gratidão.
L'Officiel Hommes Brasil - Qual foi o trabalho que mais marcou sua carreira e, por quais motivos ele é especial? Tem algum papel específico que sonha em interpretar?
Rodrigo Pandolfo - Sem dúvida, o trabalho que mais marcou a minha carreira até aqui foi “Minha mãe é uma peça”. Estamos falando da maior bilheteria da história do cinema brasileiro, isso já seria motivo pra um marco especial. Mas o tamanho dessa obra vai muito além dos números de bilheteria. “Minha mãe é uma peça” transformou vidas, educou famílias, tocou profundamente no coração de milhares de pessoas, trouxe à tona questões importantíssimas, como o preconceito, o bullying, a gordofobia, a jornada da mãe separada, o afeto, a cumplicidade familiar, etc. Foi muito emocionante ser porta voz de um casamento gay numa obra onde a orientação sexual dos noivos não é questionada e sim absolutamente naturalizada. E, claro, trabalhar ao lado do Paulo Gustavo foi uma experiência inenarrável. Conviver semanas com a Dona Hermínia nos bastidores foi um presente pra poucos. Que sorte a minha. Paulo foi um gênio e nos deixa um legado de muita coragem, firmeza, força, brilho, poder pessoal, generosidade e amor, acima de tudo. E sobre papéis que sonho interpretar…confesso que não costumo sonhar tanto, normalmente os personagens que eu mais desejo, me encontram.
L'Officiel Hommes Brasil - A televisão aberta vem passando por uma série de transformações. Como ator, como você enxerga esses desdobramentos, flexibilizações e novos formatos?
Rodrigo Pandolfo - Sim, estamos nos adaptando a novos meios para continuar trabalhando e isso é fundamental, afinal é aí que mora a criatividade. Onde parece não haver mais saída é que encontramos um caminho mais brilhante. Encaro os novos formatos como novas possibilidades. O teatro online, por exemplo, ganhou um espaço super interessante, algo que nós nunca imaginaríamos. E a televisão vem se redescobrindo dentro desse novo normal. E é preciso, afinal, ela tem um papel super importante, não só por levar entretenimento ao público, mas também por trazer lucidez, abrir novas possibilidades de pensar e agir…enfim, o papel da arte em si.
L'Officiel Hommes Brasil - Como funciona seu processo criativo?
Rodrigo Pandolfo - Tenho descoberto cada vez mais que meu processo criativo caminha colado com meu processo de evolução pessoal, ou seja, quanto mais eu me investigo como ser humano, mais interessante fica meu trabalho. Mas a construção do personagem costuma ser diferente na tv e no teatro. Na televisão, como temos pouco ensaio, eu me sinto mais seguro quando, primeiro consigo visualizar o personagem fora de mim, na figura de alguém, no trabalho de outro ator, etc, e, aos poucos, vou me apropriando daquela energia. Já no teatro, ensaiamos por 2 meses antes de estrear, então esse processo se inverte e dou espaço para o personagem vir aos poucos; é um tijolinho por dia e não acaba nunca.
L'Officiel Hommes Brasil - O que você busca transmitir com o seu trabalho?
Rodrigo Pandolfo - Busco causar reação. Nada pior do que um trabalho que não afeta, não move as pessoas, não transforma, não tira ninguém do relaxamento. E, claro, me interessa abrir novas perspectivas de pensamento para o público. Encorajá-lo.
L'Officiel Hommes Brasil - Como é sua relação com a moda? O que não pode faltar no seu guarda-roupa e na sua mala de viagem?
Rodrigo Pandolfo - Estou aprendendo que moda não tem regra. Eu faço a minha moda. Isso é libertador. Tenho ousado mais, misturado peças que jamais imaginei…e tem funcionado! Somos ajustados e aprisionados dentro de uma falsíssima moral. Jesus Cristo usava vestido, só isso já diz muito a respeito da nossa limitação. O olhar do outro não pode ser um fantasma e tirar a nossa liberdade de expressão. Precisamos ser mais corajosos. Descobrir novos meios de se vestir amplia uma perspectiva necessária para a nossa evolução. É um ato de amor próprio, poder pessoal e aceitação da auto-imagem.
Fotos: @viniciusmochizuki
Edição de moda: @aledupratoficial
Produção de moda: @kadununnes07
Coordenação de estúdio: Rodrigo Rodrigues