Burberry e The Compton Cowboys: união com propósito

Quando Riccardo Tisci foi anunciado diretor criativo da Burberry em 2018, imediatamente o preço das ações da marca britânica subiram 5%. Na época, o CEO Marco Gobbetti, que havia trabalhado com o estilista na Givenchy, elogiou sua capacidade de misturar high fashion e streetwear. Corta para a atualidade: segundo declarações de Tisci, foi no ano passado que, de fato, começou a perceber a verdadeira Burberry, amada tanto pela alta sociedade quanto pela rua – os punks adoravam os casacos. O resgate dessa identidade patrimonial está no centro das atenções do designer, assim como as referências vindas da rua, o luxo e suas cores preferidas: preto, branco e bege. O tradicional xadrez “burberryano” segue a mesma paleta, mais o vermelho. Sintonia total que inspira o inverno 2022/23.

“Foi importante para mim explorar o que significa pertencer, como nossas raízes influenciam nossa identidade e como o poder da comunidade e da união é o que realmente traz significado ao mundo”, explica o diretor criativo no texto sobre a coleção. Por isso, conta, quis que esta temporada transmitisse essa intensidade de sentimento e celebrasse Londres. “Para mim é um lugar de sonhos, uma capital construída sobre sua herança e unificada por sua comunidade diversificada e a atitude de ir além das fronteiras”, comenta. Foi a partir dessa análise que as peças ganharam uma atmosfera britishness: valorizando o passado e aberto ao futuro.

Vem dos projetos sociais e da valorização da história da grife o link para a nova campanha. A logomarca original, criada em 1901 por Thomas Burberry, trazia um cavaleiro a galope – Equestrian Knight Design – reforçando a ideia de “para a frente”. Pode-se dizer que é o mesmo propósito do The Compton Cowboys, uma organização sem fins lucrativos, criada originalmente na cidade de Compton, na Califórnia – e hoje com sede em Los Angeles – por um grupo de amigos com o objetivo de utilizar a equitação e a cultura equestre para influenciar positivamente os jovens, desenvolvendo habilidades por meio do hipismo e uma conexão com o ar livre, enquanto combate es- tereótipos negativos sobre os afro-americanos. A ONG virou um fenômeno global ao influenciar iniciativas nas áreas de música, moda, cinema e esportes. A trajetória dos caubóis negros também virou livro: The Compton Cowboys: The New Generation of Cowboys in America’s Urban Heartland escrito pelo jornalista Walter Thompson-Hernández, do jornal The New York Times, e lançado em 2020 pela editora William Morrow.