Dior Lady Art ganha intervenções de 11 artistas ao redor do mundo
Sob a nona edição do projeto Dior Lady Art, a icônica bolsa da marca francesa ganha intervenções de 11 artistas de várias partes do globo
Sob a nona edição do projeto Dior Lady Art, a icônica bolsa da marca francesa ganha intervenções de 11 artistas de várias partes do globo. Confira!
Era setembro de 1995 quando Lady Diana aterrissou em Paris para a abertura da retrospectiva do pintor impressionista Paul Cézanne no Grand Palais. Para dar as boas-vindas à princesa, a então primeira-dama francesa, Bernadette Chirac, lhe deu de presente a nova bolsa da Dior, a Chouchou – em francês, algo ou alguém querido –, desenvolvida pelo diretor criativo Gianfranco Ferré. O acessório é inspirado em Christian Dior. O matelassê vem dos assentos de palha trançada (cannage) das cadeiras em estilo Napoleão III que abrigaram os convidados no primeiro desfile da maison, em 1947, enquanto os pingentes metálicos com as letras D, I, O e R são reflexo do lado supersticioso do fundador da marca. Diana caiu de amores pela peça. Não somente usou o acessório na capital francesa como desembarcou com ela em Buenos Aires, no mesmo ano. Com suas fotos rodando o mundo, não demorou para a bolsa virar objeto de desejo e desaparecer das prateleiras em poucos minutos. Em homenagem à princesa, passou a ser chamada Lady Dior.
Clássico moderno da grife francesa, símbolo e lenda, é o resultado de um trabalho minucioso. Cada Lady Dior começa sua jornada nos ateliês italianos da maison, onde o trabalho artesanal virtuoso das petites mains lhe dá vida. É esse status que também levou o acessório a ser considerado uma tela vazia pronta para receber todas as intervenções imaginadas por artistas de linhas estéticas distintas por meio do projeto Dior Lady Art, criado em 2016.
Para a sua nona edição foram convidados Sara Flores, Jeffrey Gibson, Huang Yuxing, Liang Yuanwei, Danielle Mckinney, Duy Anh Nhan Duc, Hayal Pozanti, Faith Ringgold, Vaughn Spann, Anna Weyant e Woo Kukwon. “Eu trabalho com cores néon vibrantes e com materiais que não são normalmente utilizados em bolsas”, conta Yuxing, que compara o gosto por inovação de Christian Dior ao seu. No processo artístico, combinou as próprias ideias com o savoirfaire da grife, inspirando-se na natureza, no universo e na condição humana.
Representante da arte do kené, um sistema de design sofisticado característico de sua comunidade indígena, a Shipibo-Conibo, Sara Flores conta que essa forma de arte expressa uma cosmovisão, cultura matriarcal e conhecimento etnobotânico. “A selva é meu estúdio. Ser indígena implica um sentido de conexão com a vida, com a terra e seus habitantes. A preparação do meu trabalho e o processo espiritual que o precede são expressões dessa relação com a terra, a água e as plantas a partir das quais se desenvolvem a visão de uma obra de arte”, conta ela. Foi esse contexto metafísico e de profunda conexão com a natureza que ela levou para as suas bolsas Dior. “Com total honestidade, não conhecia a maison antes do recente convite para visitar seus ateliês e seu endereço icônico, no número 30 da Avenue Montaigne, em Paris. Fiquei impressionada com a atenção aos detalhes, que é algo que busco expressar também na minha prática artística”, diz ela, que substituiu os padrões cannage pelos seus desenhos kené. “Segundo a lenda, os padrões sagrados de kené foram revelados para nós, mulheres Shipibo. Nossa cosmovisão atribui esse conhecimento a Ronín, a serpente cósmica, governante das águas, mãe de todas as mães e criadora lunar do mundo após o grande dilúvio primordial, cuja pele contém todos os designs concebíveis. Ela é a inspiração por trás desse projeto”, explica. As bolsas Dior Lady Art chegam a lojas selecionadas em dezembro. Elas não vêm para o Brasil, mas podem ser encomendadas.
CADA ARTISTA E SUA OBRA
As pinturas figurativas e tragicômicas de Anna Weyant questionam as convenções sociais e os códigos de feminilidade. Uma de suas Lady Dior evoca grão de madeira, padrão encontrado em muitas de suas obras. Outro modelo, totalmente dourado, traz rosas e margaridas. O emblemático cannage é revisitado em uma variação delicadamente pontilhada.
Em seus retratos cinemáticos, Danielle Mckinney captura as sutilezas da esfera privada ao focar personagens femininas em espaços domésticos, refletindo momentos introspectivos da vida de uma mulher. Essa poesia do cotidiano foi transposta para sua Lady Dior, que tem ao centro uma silhueta feminina bordada à mão. Simbolizando o voo da imaginação, uma borboleta pousa nessa cena, enquanto outra surge na alça da bolsa.
A natureza é presença fundamental na obra de Duy Anh Nhan Duc. Suas instalações poéticas são compostas de plantas, que tecem um diálogo com os ciclos da vida e com a fragilidade. Para o Dior Lady Art, ele trouxe uma profusão de flores e sementes impulsionado pela paixão por plantas selvagens em contraste com a sofisticação de um objeto de luxo. Utilizou couro vegano e bordados.
Feminista, artista, ativista e educadora, Faith Ringgold revolucionou o mundo da arte ao unir ativismo, artesanato e tradições de belas-artes. Para o Dior Lady Art, criou seis peças antes de seu falecimento, em abril de 2024. Entre elas, em duas bolsas ela ressignificou Freedom Woman Now e Woman Free Yourself, pôsteres seus de protesto político em 1971.
Por meio de formas orgânicas exuberantes em cores vívidas e variadas, Hayal Pozanti cria universos fantásticos em sintonia com a natureza. Para Dior Lady Art, ela desenhou três modelos. Os dois primeiros são adornados com detalhes atléticos tirados de uma de suas paixões, o trekking. O terceiro revela um panorama noturno ampliado por uma nuvem de strass e uma chuva de cometas.
Talento inovador do cenário contemporâneo, Huang Yuxing cria obras com uma paleta extravagante – que lembra a técnica chinesa do gongbi. Quatro Lady Dior ecoam elementos psicodélicos de suas telas Céu e Terra (2016- 2020) e Galáxia (2017-2021). Outra bolsa apresenta desenhos que revelam um mundo virtualmente científicoficcional, enquanto uma versão final segue a estética dos anos 1960.
Entre herança e reinvenção, Jeffrey Gibson elabora obras ultracoloridas que unem o artesanato tradicional nativo americano a uma estética ousada, quase psicodélica. Ele traz esse universo único para Lady Dior em linguagem pop inspirada em uma bolsa para boxe revisitada como instalações de arte. Em sua criação, o emblema Dior está estampado de um lado com a inscrição “Love, Love, Love”, e do outro com corações em impressão 3D.
Por meio de suas telas texturizadas, Liang Yuanwei explora a vida cotidiana e a passagem do tempo, culturas orientais e ocidentais. Para essa nona edição de Dior Lady Art, ela encontrou inspiração em suas séries Impasto Golden Notes e Ru Ware from the Song Dynasty, integrando pintura bidimensional no acessório icônico tridimensional, utilizando resina em processo de impressão 3D.
A obra da artista Sara Flores é inspirada em kené, a antiga linguagem visual do povo ShipiboConibo, um grupo indígena que vive ao longo do Rio Ucayali, na Amazônia Peruana. Para esse novo capítulo de Dior Lady Art, ela criou duas bolsas usando pigmentos de plantas. A primeira brilha com uma constelação de contas pretas, enquanto a segunda traz gemas de prata.
Vaughn Spann mistura elementos abstratos e figurativos em suas obras com os temas história, cultura e identidade afro-americana, mudando os limites tradicionais da arte. É a abordagem que ele leva para a sua Lady Dior. Em uma versão, joga com os códigos do masculino e do feminino. Em outra, adorna com estruturas geométricas.
A arte de Woo Kukwon se apropria de contos de fadas com expressões estereotipadas, em uma coexistência de ficção e realidade e combinando elementos figurativos e pop art. Essa perspectiva gerou cinco bolsas Dior. Duas delas representam sua esposa, filha e cão. Outras trazem vinhas de pérolas e contas pretas e brilhos, contrastando com a assinatura Christian Dior.
