Moda

Guilherme Valente começa a dar novos passos com uma moda interessante

Destaque da Casa de Criadores, Guilherme Valente começa a dar novos passos com uma moda possível e interessante

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O amor-próprio transformado em moda do seu último desfile - Foto: Henrique Tarricone / Divulgação.

Quando um jovem nome se lança nas passarelas, há dois perfis muito corriqueiros: os que sabem exatamente a trajetória que querem trilhar e os que vão se descobrindo no caminho. Guilherme Valente, curiosamente, se coloca no meio-termo. Destaque na última edição da Casa de Criadores, em julho, o paulistano de 23 anos se reapresentou à sociedade fashionista revendo tudo no seu segundo desfile. A estreia, um ano antes, foi uma homenagem à mãe e à avó em uma coleção que era tão terna quanto extravagante, nos exageros costumeiros de alguém que acabou de se formar na faculdade – no caso dele, a Santa Marcelina.

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Guilherme Valente - Foto: Luigi Galvão / Divulgação.

Ele mesmo classifica o début como “figurino demais”. Apesar disso, a reviravolta em busca de uma identidade de moda mais usável (e acertada) veio exatamente depois de um curso sobre o assunto na NABA, em Roma. “Eu amo figurino. E, por isso, tinha em mim uma outra perspectiva de criação”, reflete. “Mas ali caí na real de que precisava mexer o olhar para uma moda mais comercial, que sustentasse um negócio.”

Depois de nove meses de planejamento, um vestido branco de delicadezas estruturadas, virginal, mas nem tanto, abriu a coleção de possibilidades urbano-festivas ao lado de corsets, flores tridimensionais, pretos lânguidos e alfaiatarias oversized – até desembocar em um imenso vestido-coração preto e branco. Comercial possível, mas sem largar mão do drama.

 

Falando sobre amor-próprio por meio das roupas, Valente abriu, ali, espaço para refletir sobre as suas vivências queer que o levaram até a moda. “Sempre tive esse mood, da criança que queria fazer balé com as irmãs. Admirava que elas podiam exercitar o lado feminino enquanto eu ficava na observação”, lembra. “Pude chegar mais perto disso quando comecei a olhar para a moda. Sempre desenhei muito, mas aos 16 comecei a desenhar roupas – tenho centenas de papéis guardados desde então. Ali percebi que a moda é onde eu me entenderia e conseguiria passar o que quero.” 

A relação com as roupas, no seu espaço de figura LGBTQIAPN+, tem reflexão imediata no pensar. “Elas foram ferramentas para me entender como uma pessoa gay, uma pessoa fora do padrão. Foi o que me deu força para ser quem sou e segurança para estar feliz com o meu corpo. Por isso que sempre digo que a roupa, para mim, é uma armadura”, dispara.

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O amor-próprio transformado em moda do seu último desfile - Foto: Henrique Tarricone / Divulgação.

Ocupando a casa dos pais, da garagem aos quartos, com seu ateliê, Guilherme segue trabalhando sob encomenda e planejando o futuro de olho numa ressignificação peculiar do luxo. “Para mim, é ser educado – e de uma maneira ampla. Por exemplo: quando comecei a sair de Taboão da Serra e frequentar outros lugares, senti que não podia entrar em certos espaços, em marcas de luxo, pois atraía olhares. É esse pensamento torto que criamos como sociedade que nos impede de conhecer outras realidades, de poder tocar nas coisas mesmo. Isso não pode ser luxo”, diz. “Quero fazer com que ele seja acessível. Nem financeiramente falando, pois o processo é realmente caro. Mas acessibilidade no sentido de poder trazer as pessoas comigo, ver como posso dar acesso e visibilidade às pessoas como eu, através da marca. De receber essa cliente e ela se sentir bem-vinda.”

 

A criação? Nem pelota para os colegas. “Gosto de comportamento, de pessoas. Entrevisto gente na rua, pelo Instagram, olho para minha família, para o mundo ao redor”, diz. “Odeio olhar para moda, que digam que tenho que ver o que está sendo feito. Eu ‘tenho que’ nada. Preciso é me divertir, experimentar – se isso não estiver acontecendo, tem algo muito errado. Aí, não vale a pena.”

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O amor-próprio transformado em moda do seu último desfile - Foto: Henrique Tarricone / Divulgação.

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