Moda

Luciana Curtis: “Eu tenho duas filhas extremamente feministas”

Família unida: a modelo Luciana Curtis e as filhas Cora e Dahlia posam usando joias Pandora em atmosfera lúdica para o marido e pai, o fotógrafo Henrique Gendre

Luciana Curtis
Fotos: Henrique Gendre

Luciana Curtis começou a trabalhar muito cedo como modelo. Antes mesmo dos 15 anos, já viajava sozinha para grandes capitais da moda, como Tóquio e Nova York, esta última sua casa por mais de 20 anos. De volta ao Brasil, conta em entrevista exclusiva um pouco sobre etarismo na carreira, maternidade e como o feminismo faz parte da rotina familiar. 

L’OFFICIEL Ser modelo mudou muito ao longo dos anos?

LUCIANA CURTIS Eu comecei a trabalhar como modelo em 1991 e me mudei do país, por causa da profissão, em 1992. Nos anos 1990, a pressão sobre as modelos era enorme, principalmente quando falamos em medidas. Eu tenho certeza de que essa exigência do quadril ou do busto com tantos centímetros gerou problemas de saúde física e mental para muitas meninas na época. Eu sempre fui magra, nunca precisei passar por inúmeras restrições alimentares, mas quando pegava uma campanha de biquíni já sentia uma tensão duas semanas antes, com medo de não estar com o “corpo perfeito”. Eu dei muita sorte que o mercado da moda mudou junto com os meus anos dentro da área. Eu tenho 46 anos e ainda consigo trabalhar. Em 1990, uma carreira de modelo durava, em média, dez anos. Hoje, essa pressão a respeito do corpo (medidas) e da idade diminuiu. E é ótimo ver que mulheres de 50 anos compram cosméticos e roupas cuja campanha foi feita com alguém da mesma idade. O mercado tem menos cobrança e eu também me cobro menos. Sou mãe, engravidei duas vezes. O cliente que me chama para um trabalho sabe da minha realidade e eu nem pretendo ter um corpo perfeito. Eu gostaria de ter essa cabeça quando eu era adolescente, quando comecei. Faz muito bem para a saúde mental.

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CORA e DAHLIA: vestidos CAPEZIO, joias PANDORA, sneakers acervo. LUCIANA: Vestido MARIAN SAUD, joias PANDORA, sneaker acervo

L’O A profissão de modelo agora está muito atrelada ao sucesso nas redes sociais. Qual é a sua opinião a respeito disso?

LC Eu tenho um pouco de problema com redes sociais, confesso. Não é algo com que lido bem, pois tenho preguiça de postar, por achar que não interessa para os outros consumir esse conteúdo do dia a dia. Posto mais meus trabalhos e não sou muito de ficar “me vendendo” ali. Eu não acho positivo. 

L’O Como você encara a relação entre a profissão e a maternidade, sendo mãe de duas meninas?

LC Eu ainda trabalho bastante como modelo. Viajo para NovaYork, onde estão muitos clientes, uma vez por mês, em média. Mas tomei uma decisão desde que me tornei mãe, que é desempenhar essa função em tempo integral, pelo menos até a minha filha caçula ficar um pouco mais velha. Então, sinceramente, a carreira de modelo hoje em dia está perfeita. Eu consigo obter o meu rendimento sem deixar de lado essa vida em família. 

L’O Hoje então você não mora em Nova York?

LC Eu e minha família voltamos a morar no Brasil em 2021. A ideia era passar dois anos por aqui, mas estamos curtindo e ficando mais. Sempre tive vontade que as minhas filhas morassem no país, que entendessem a cultura local. 

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Vestido ANIMALE, joias PANDORA

L’O E como é essa interação delas, nascidas fora do país, com o Brasil?

LC As duas nasceram em Nova York. Muitas vezes passaram férias no Brasil, mas a gente sempre quis que elas entendessem o que é ser brasileiro. E isso só é possível estando aqui. Dentro de casa falamos português, comemos arroz com feijão, só que elas não tinham vivido um carnaval ou uma festa junina. A cultura familiar era muito brasileira, mas não adianta: tantos anos morando fora, misturamos hábitos. E está sendo muito legal ver as meninas curtindo o Brasil, apesar de sabermos que muitas coisas poderiam ser diferentes aqui. Quando somos imigrantes, por mais que a gente se sinta em casa, parece que está sempre com uma mala pronta. Aqui eu me sinto em casa, aqui desfizemos as bagagens.

L’O Você passa uma imagem muito tranquila em relação à idade. Sabemos que existe ainda um preconceito com isso no mundo, principalmente com mulheres. Poderia então falar um pouco sobre?

LC A mulher tem que aprender a se sentir feminina por mais tempo. Antigamente, depois dos 40, existia aquela imagem da mulher que não pode ter o cabelo longo ou a menopausa retirando a sua essência. Idade é um número. Mulheres bem mais velhas, que eu conheço, têm a cabeça “mais jovem” do que a minha. Ser feminina também é como a gente lida com essas barreiras que a sociedade coloca. Eu não me sinto velha estando perto dos 50. Eu prefiro achar que sou experiente, que eu vivo bem e que já experimentei muita coisa interessante.

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Blazer DOLCE & GABBANA, joias PANDORA

“EU TENHO DUAS FILHAS extremamente 
feministas. EU SOU FEMINISTA. EU E MEU 
MARIDO conversamos COM ELAS SOBRE 
TUDO, INCLUSIVE SOBRE POLÍTICA."

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CORA: Suéter VIVIANE FURRIER, joias PANDORA e ao lado, CORA: Jumpsuit FÁBULA, joias PANDORA, sneaker acervo; DAHLIA: saia e blusa FÁBULA, joias PANDORA, sneaker acervo

L’O Sua vida mudou muito com a maternidade?

LC Muita coisa mudou após o nascimento das minhas duas filhas. Sonhei e planejei muito a maternidade e quis isso muito cedo. Eu adorei todos os momentos, sendo a parte do início da adolescência a mais desafiadora até agora. Eu e o meu marido, quando optamos por colocar mais um serzinho no mundo, fizemos exames que diagnosticaram a presença do gene de fibrose cística, em ambos, que é uma doença gravíssima. Os nossos filhos, então, teriam 75% de chances de nascerem muito doentes. Optamos pela fertilização in vitro para poder escolher embriões que não passassem por essas questões de saúde. Ambas as meninas foram assim, com muito planejamento, desejando muito. Foram cinco anos de tratamento. Às vezes olhamos para as duas e pensamos “nem acredito que elas estão aqui”. A maternidade, portanto, foi uma mudança muito boa, que se encaixou perfeitamente na minha vida. 


L’O Você falou sobre os desafios da adolescência dos filhos. Como está sendo?

LC Essa parte de pré-adolescência é a mais desafiadora. A minha filha mais velha tem celular, mas não tem rede social. Só usa o aparelho para se comunicar. A Cora é uma menina muito doce, mas você não é a única fonte de informação dos seus filhos a partir desse momento. Os amigos influenciam e confesso que sou um pouco controladora (risos), mas eu penso muito antes de agir, leio muito, para tentar não ser assim.

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CORA: Calça e blusa FÁBULA, joias PANDORA, sneaker acervo. LUCIANA: Vestido PATRICIA VIERA, joias PANDORA e ao lado, DAHLIA: Vestido FÁBULA, joias PANDORA, sneaker acervo

L’O Que conselhos você dá ou dará a suas filhas sobre ser mulher em um mundo que ainda precisa evoluir muito quando o assunto é equidade de gêneros?

LC Eu tenho duas filhas extremamente feministas. Eu sou feminista. Eu e meu marido conversamos com elas sobre tudo, inclusive sobre política. Aliás, sobre a dos Estados Unidos e a 
do Brasil, pois esses últimos anos foram muito difíceis. Também falamos muito sobre racismo, machismo, questões ambientais, enfim, tópicos que para mim também são sobre política. Elas estão muito interessadas, gostam de perguntar sobre diversos assuntos. Lógico que o feminismo você aprende em casa, mas nas escolas – aqui e nos Estados Unidos – elas sempre tiveram o lugar de fala delas, pois escolhemos instituições que ensinaram as meninas a criar essa força. Conseguir optar por uma escola assim para os filhos é algo muito importante, pois eles passam boa parte da vida deles ali. E mesmo eu sendo muito feminista acabo aprendendo muito com elas. A mais velha optou por cortar o cabelo bem curto certa vez e não se importou com a opinião dos outros colegas sobre o corte ser considerado “de menino”. Elas são extremamente conscientes sobre as lutas das mulheres e que o mundo não é tão fácil para nós quanto é para os homens. E que é ainda mais difícil para mulheres pretas. Como pais, estamos muito preocupados em mostrar para elas essa força feminina, a não deixar ser interrompida e a lutar pelos seus direitos. E eu tenho sorte de ser casada com um homem que divide as tarefas da casa comigo, de cuidar delas assim como eu cuido. Ter esse exemplo paterno é muito importante. E foi a nossa opção, pois gostamos de priorizar a família e cuidar de nossas filhas integralmente. Gosto desta nossa vida, nós quatro, fazendo tudo junto.

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LUCIANA: Blazer e minissaia FENDI, joias PANDORA, casaco acervo; DAHLIA: Saia e blusa ZARA, joias PANDORA e ao lado, DAHLIA: Look acervo, joias PANDORA; LUCIANA: Joias PANDORA; CORA: Blusa ZARA, colete acervo, joias PANDORA.
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clothing dress person photography portrait adult female woman vegetation tree
DAHLIA: Vestido C&A, joias PANDORA e ao lado, LUCIANA: blazer e calça DOLCE & GABBANA, joias PANDORA, sneaker acervo; CORA: Jumpsuit FÁBULA, joias PANDORA, sneaker acervo

Fotos HENRIQUE GENDRE

Direção e edição de moda: LUIS FIOD

Texto PAULA ROSCHEL

GUESTS: Luciana Curtis, Cora e Dahlia.

PRODUÇÃO DE MODA: Zeca Ziembik.

BELEZA: Robert Estevão.

ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA: Sandoor Kiss e Victor Frezza.

ASSISTENTES DE PRODUÇÃO: Giuliana Grandi e Joran Alcântara.

ASSISTENTE DE BELEZA: Rodrigo Bernardo.

PRODUÇÃO EXECUTIVA: André Bona.

TRATAMENTO DE IMAGEM: Henrique Gendre e Leonardo Miguel.

AGRADECIMENTO: Espaço de Artes Integradas/artista João Paulo Bienemann (site specific art: carro com plantas

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