Juliane Araújo e sua incrível versatilidade como artista
Com multitalentos e preparando novos projetos, a atriz transita entre suas habilidades de escrita e interpretação, tendo publicado seu primeiro livro de poesia “Chão Vermelho” e fala sobre fase versátil e inspirada da carreira com exclusividade para a L’Officiel
Com série recém filmada para a Globoplay e primeira vilã no longa metragem “Infinimundo”, a atriz e escritora Juliane Araújo estreia como roteirista, produtora e diretora assistente do curta-metragem Travessia em Cannes.
Travessia será exibido no ‘Short Film Corner’, o grande mercado dos curtas do Festival que acontece na França. “Criar um projeto do zero requer coragem, paciência e dedicação. “Estudo muito, pois sou apaixonada por curtas metragens e não temos um grande mercado no Brasil para este tipo de produção. Estrear com “Travessia” em um dos maiores festivais do mundo, é um sonho”, celebra a atriz.
O filme tem como protagonista o premiado ator Caio Blat, com duração de 15 minutos, direção de Gabriel Lima, direção de fotografia de André Hawk, trilha sonora original de Fabio Mondego e direção de arte de Miti.
Formada em Artes Cênicas pela Casa de Artes de Laranjeiras, estreou na televisão na novela Lado a Lado (2012), e atuou em seguida nas novelas Joia Rara (2014) e Êta Mundo Bom (2016) e da novela Além da ilusão (2022). Ficou conhecida por sua personagem Maíra na novela O Outro Lado do Paraíso (2017) e como Luana em Verão 90 (2019), todas da Rede Globo.
Com multitalentos e preparando novos projetos, a atriz transita entre suas habilidades de escrita e interpretação, tendo publicado seu primeiro livro de poesia “Chão Vermelho” e fala sobre a fase versátil da carreira com exclusividade para a L’Officiel.
FOTOS: DIEGO BAPTISTA
Como é estar em Cannes, em um dos Festivais mais prestigiados do mundo, com seu curta Travessia?
Tudo tem acontecido de uma maneira encantadora, o Festival de Cannes é um dos festivais de cinema mais importantes do mundo, estar aqui ampliou minha visão para muitas possibilidades, foram muitos encontros com cineastas, criativos, trabalhadores do cinema do mundo inteiro. Tenho assistido de 2 a 3 filmes por dia, fora o tempo que passo conhecendo os espaços de cada país no Pavilhão internacional. Existe essa magia que acontece em Cannes - os encontros. Foi o que me disseram desde o primeiro dia e eu estou presenciando-a. Cheguei com a expectativa de consumir cinema e apresentar meu filme, mas outras possibilidades também se abriram, novidades que conto mais para frente.
De onde veio a inspiração para o curta Travessia?
O ‘Travessia, surgiu da minha enorme vontade de falar sobre os processos humanos que implodiram principalmente durante a pandemia. Os questionamentos humanos primordiais que nos acompanham desde que o mundo é mundo, o desconforto, o imenso medo da vulnerabilidade, o medo da morte, o medo do amor, o medo de ser a gente.
O mar é o pano de fundo do filme. As teorias cientificas mais recentes apontam que todas as formas de vida do planeta vêm do mar, que tudo surgiu do fundo do nosso oceano, e eu acho isso lindo.
Mais de 80% do oceano permanece inexplorado, é mistério puro, como a gente. O ser humano também é isso, cada dia a gente descobre outras capacidades, outros estímulos, outros traumas.
O filme conta sobre dois personagens: Elis (Juliane Araújo) e Vicente (Caio Blat), que tem suas histórias de dor e seus questionamentos sobre a vida entrelaçadas, quando compartilham o mesmo espaço em tempos diferentes.
Como foi trabalhar pela primeira vez cumprindo os diferentes papéis (roteiro, diretora-assistente, interpretação) na produção do Travessia?
Entendi que tenho braços maiores e que andam juntos com a minha carreira de atriz, isso foi meu maior ensinamento na construção do curta. Primeiro gera a dúvida, depois entendi que posso sim ser mais de uma coisa e que isso é me torna mais criativa.
Fui entendendo também que os artistas que eu mais admiro ocupam sempre mais de uma função, têm hábitos diversos e mutáveis - e uma capacidade enorme de criar possibilidades de trabalhos pra si (acho isso incrível e é um aprendizado).
Como foi a construção da personagem para o filme Infinimundo? Ansiosa para a estreia?
É uma das personagens mais complexas que fiz, estamos fazendo um filme que flerta com o realismo fantástico e eu sou apaixonada por filmes assim. O cinema também tem a função de ampliar a imaginação, propor novas formas de olhar para o mundo. A Coroa de Flores, minha personagem, definitivamente é um ser único, forte, irreverente, que atravessa um percurso importante, é um Filme muito bonito.
A gente filmou no Sul do País, minha primeira vez lá e foi muito especial, uma equipe muito alinhada e talentosa, fiquei realmente muito movimentada com aquele set. animadíssima e ansiosa pela estreia.
Conte mais sobre a personagem da série Veronika? Como foi as filmagens da produção que tem estreia prevista para 2024?
Eu interpreto a personagem Renata, uma mulher intensa que tem uma enorme atração pelo poder e também vive uma paixão perigosa com Rod (Dério Chagas) que leva ela a percorrer uma trajetória digna de uma tragédia grega.
Terminamos as filmagens em abril, mas estava envolvida com esse projeto desde o ano passado, nas preparações, leituras e vivências da produção da AfroReggae audiovisual.
Contamos uma história que é muito próxima da gente que mora no Rio de Janeiro, uma favela, um território que moramos, frequentamos ou que já está bem estabelecido no imaginário do carioca, do brasileiro. Por isso foi imensa responsabilidade nossa e uma preocupação do afroreggae audiovisual não cair em estereótipos, então esse período pré set de filmagem foi indispensável.
A Renata É uma personagem que exigiu de mim um profundo acesso a lugares difíceis, como a raiva, a ira, o ódio. Do mais, foi divertido fazer cenas que nunca tinha feito, trabalhar com pessoas que ainda não tinha trabalhado, como: Roberta Rodrigues, Thiago Hypolito, Dério Chagas, nosso diretor Silvio Guindane. Foi intenso e maravilhoso. Ansiosa pra ver o resultado.
Além de roteirista, você também tem aspirações literárias. - Quais as suas referências e 3 escritores brasileiros que você indica?
Só 3? Muito difícil! Mas cito algumas inspirações: Hilda Hilst, Conceição Evaristo, Clarisse Lispector, Carla Madeira, Carola Saveedra.
Como você define a cena de produções independentes no Brasil? Quais os desafios?
A gente teve um grande desmonte na cultura nos últimos anos, então ainda vamos engatinhar por mais um tempo para recuperar um país que está disposto a realmente a investir no cinema. Eu sou uma grande otimista, se não fosse por isso nem artista seria, eu venho de um lugar onde incentivos a cultura é quase inexistente, então acredito sim na nossa capacidade de criação. Os desafios são muitos, produzir um filme de baixo orçamento, sem nenhum auxílio público requer tempo, insistência, muito trabalho e grandes parceiros.
Como você lida com as transformações de visual para composição dos personagens?
Para a série Veronika usei aplique, pois a personagem Renata tinha que ter cabelão e eu tinha acabado de cortar bastante o cabelo.
Na pandemia ele cresceu muito e foi a primeira vez que tive os cabelos tão grandes, desde a adolescência. Eu amei, mas cabelos médios um pouco abaixo dos ombros, combinam mais comigo. Terminei de filmar Veronika e no dia seguinte já estava platinada e com o cabelo mais curto que já tive. O Fabio Oliveira me acompanha há uns oito anos, e faz as mudanças de todos os meus projetos. Se tornou meu grande amigo e tenho total confiança no trabalho dele, platinar o cabelo não é fácil.
Eu amei o resultado, há tempos que quero fazer uma mudança drástica nos cabelos, mas sempre aguardo a personagem que vai propor isso.
Qual sua relação com a moda? Como você define seu estilo?
Eu quando tinha 15 anos, transformava as roupas do meu pai para usar, gostava de me sentir diferente, acho que a moda reafirma nossa identidade. Hoje eu consigo perceber e resgatar essa característica genuína minha, tenho optado por sair um pouco do comum. Eu sou extremamente básica e adoro conforto, experimentar novas peças, sem perder o que eu dou valor, tem sido um exercício.