Luisa Arraes fala sobre vida e carreira em entrevista exclusiva

Luisa Cavendish Arraes, ou apenas Luisa Arraes como é mais conhecida, a atriz de 29 anos e carioca é filha do cineasta Guel Arraes e da atriz Virginia Cavendish ambos recifenses, vive um momento intenso e muito especial na carreira. 

É a protagonista da segunda temporada de “Cine Holliudy”, série de sucesso da TV Globo. Ela entrou para o elenco como Francisca, filha que Olegário (Matheus Nachtergaele) teve com a prostituta Madalena (Luiza Tomé). 

Luisa também está no elenco do filme “Transe”, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, que estreou em outubro no Festival de Cinema do Rio. O filme fala sobre amor livre e tem uma temática política. 

Ela está nos cinemas com o filme Duetto de Vicente Amorim Rita Buzzar, com elenco brasileiro e italiano. Também aguarda o lançamento de “O Grande Sertão: Veredas”, filme de Guel Arraes, que está previsto para estrear no primeiro semestre de 2023!

Você está no cinema em Duetto, com elenco de peso brasieliro e italiano. Essa foi sua primeira experiência internacional? Qual foi o maior desafio?

Sim, foi meu primeiro filme internacional e uma experiência muito interessante. Falo uma língua que eu não falava que era o italiano, e é muito divertido você atuar em outra língua. Não era só isso, você também se aproxima de uma cultura, de uma experiência e uma vivência, e isso tudo vai incorporando e trazendo novos temperos para o seu personagem. Eu adoro esse trabalho, eu gosto do trabalho de sotaque e do trabalho de outras línguas. No filme o elenco era italiano e brasileiro, mas ao mesmo tempo eu me senti muito em casa, porque tinha grandes atores brasileiros ao meu lado, a Marieta, o Gabriel, o Rodrigo e esses ídolos do outro país.

Eu não conhecia a Itália, um desses prazeres que o trabalho pode proporcional, foi incrível e deixou um gostinho de quero mais. Esse foi o maior desafio, de se aproximar de uma cultura que não era a sua, e a minha personagem era a primeira vez que estava indo, uma menina jovem que estava vendo tudo pela primeira vez, um mundo novo.

Você está voltando para a TV em Cine Holliúdy, sucesso da Rede Globo. Nos conte um pouco sobre sua personagem e o que mais te conquistou nela?

Depois dessa pandemia, estamos de volta agora com Cine Holliúdy, uma personagem inesquecível para mim, onde fui muito bem recebida pela trupe de Cine Holliúdy. Atores brilhantes e foi um privilégio estar nessa série que eu já amava e principalmente com essa personagem que virou meu xodó, a Francisca. Ela virou um marco na minha vida sem dúvida, esse jeito bandoleiro dela, de chegar com a sua opinião, de conquistar e fazer um par diferente que não é o clássico...ela é totalmente arretada, nordestina, eu sou de uma família de 100 % nordestina.

Já em Transe, que fala sobre amor livre e questões políticas. Tiveram as filmagens poucos dias antes das eleições de 2018 e agora saiu dias antes das eleições de 2022. Apenas coincidência?

Em Transe foi um filme feito de uma maneira totalmente nova, filmamos nos últimos 30 dias antes das eleições de 2018 e lançamos agora uns 30 dias antes das eleições de 2022. Não foi coincidência de jeito nenhum, pensamos nisso, um filme que retrata e acompanha a história desses 3 jovens e de muitos outros jovens num período marcante para o Brasil. Esses jovens retratam uma certa ingenuidade ao olhar para o Brasil e não entender aquela avalanche da extrema direita que estava chegando com tanta força.

É um filme importante e mudou tudo na minha vida, a maneira como a gente filmou, como a gente construiu esse roteiro juntos, e tem muito das nossas vidas ali, feito inteiramente na guerrilha. Nenhuma cena tinha diálogo, a gente improvisava e tudo que falávamos era pensado e discutido pelos atores o tempo inteiro...foi um marco na minha vida e só me dá mais vontade de fazer filmes assim.

Em breve veremos você em "O Grande Sertão Veredas", de seu pai Guel Arraes. Ter pais com presença forte artística ajuda ou atrapalha?

Tudo na vida tem 2 lados, a dor e a delícia como dizia o Caetano Veloso, mas certamente ter um pai e uma mãe que trabalham no meio das artes me fez entender que é uma profissão. Muitos amigos sempre me contam o momento em que eles tiveram que assumir que queriam ser artistas, e que não era uma vagabundagem ou um hobby, mas uma profissão.  Como eu cresci vendo tanto esse pai como essa mãe produzindo e vivendo daquilo, por exemplo minha mãe é uma atriz muito de teatro, batalhadora pelo seus próprios projetos, entendi que aquilo era uma profissão e pude sonhar com isso ao longo da minha vida. Com meu pai, O Grande Sertão Veredas marca esse encontro de nós dois, foi muito bonito encontrar com ele nesse desafio das nossas vidas, tanto meu quanto dele, e quero muito que todo mundo possa assistir. O Grande Sertão Veredas é o livro mais importante da minha vida, e eu tive a sorte de poder fazer Guimarães Rosa  por 5 anos,  mas eu poderia fazer 5 vidas.

Está casada com o ator Caio Blat e muito se fala da decisão de vocês morarm em casas separadas, apesar de vizinhos. Acredita que os relacionamentos podem durar mais assim?

Eu acho que cada relacionamento tem ser no melhor modelo para si mesmo, a gente não deveria herdar uma regra sobre relacionamento, de que a pessoa para ser feliz tem que ser casada a vida inteira ou para a pessoa ser feliz tem que ser solteira a vida inteira. Sabemos que na prática não é unânime, tem que ter coragem para pensar qual é a melhor maneira para você se relacionar e isso só pode acontecer através de muita conversa, de reflexão, de prestar atenção e escutar o que você gosta. Cada pessoa é um indivíduo, duas então vira uma outra coisa. Eu acho que não tem regra, a base de todo o relacionamento é o diálogo.

Você se manifesta bastante nas redes sobre causas políticas e sociais. Qual a importância disso para você?

Eu acho que isso é o básico como cidadã, antes de ser artista sou uma cidadã e antes de tudo eu me preocupo com causas muito importantes no Brasil como diminuir a desigualdade social, melhorar as oportunidades na educação e saúde. Tenho um sonho em viver num mundo  menos separado, menos segregacionista onde a gente pudesse circular mais livremente.

Já sofreu com machismo ou algum assédio?

O machismo é uma coisa muito estrutural na nossa sociedade e o mais difícil de identificar, não são os grandes machismos e assédio e sim os pequenos que acontecem  todos os dias, e que você mesmo não percebe.

O que te faz feliz? Como definir Luisa em uma palavra?

Certamente é estar num trabalho legal é uma das coisas que mais me deixa feliz na vida, porque o nosso trabalho tem esse prazer de vir com uma vida nova, uma nova história, uma nova personagem, uma nova visão de mundo, é como se você nascesse de novo. E claro, ter parceiros por perto sempre e ter a sua independência, ser ali forte para sua rede de amigos, para que tudo que chegue, te agregue. E me definir em uma palavra, acho que seria, - jamais!