Urias: guerreira, poderosa e forte
Urias possui uma personalidade marcante e é uma artista multitalentosa! Guerreira, bela e poderosa, ela já figurou como uma das capa da L’Officiel Brasil. Revivemos sua entrevista e editorial como uma maneira de celebrar e fortalecer a luta no Dia da Visibilidade Trans.
Na mitologia romana, as Fúrias eram figuras que personificavam a punição final dos mortais. Forças primais da natureza, elas eram toleradas pelos deuses principais, mas mantidas em certa marginalidade. Já na mitologia do pop brasileiro do século 21, é o nome do primeiro disco de Urias – cantora que, assim como aquelas divindades, encarna uma das linhas de frente do reconhecimento de uma sociedade cisgênera pela urgente normalização do corpo trans.
O título (além do trocadilho sonoro com o próprio nome) não é de graça. “Fui pensando em cada uma das dez músicas e percebi que a raiva era um gatilho para outros sentimentos de que falo no álbum. É Fúria por conta de estar cansada de ter medo, de estar triste”, explica sobre o disco, lançado em duas fases. “A primeira é uma parte mais dançante, para tentar aliviar a raiva de alguma maneira. O momento seguinte, que sai no segundo semestre, será mais denso. Como se usasse a força dessa emoção para realizar outras coisas.” É desse sentimento de catarse que surgem os temas que ela afronta nas faixas, do mundo que não reconhece o poder de seu corpo à zanga por ter sido interrompida na construção de um auge de carreira – que começou há pouco, mas alcança números expressivos: Diaba, um de seus maiores singles, já passou dos 20 milhões de plays, contando apenas YouTube e Spotify.
Resultado de um novo timing do mercado cultural, que abriu os olhares para artistas LGBTQIA+, principalmente transgêneros? “A ignorância não é mais uma desculpa. Estamos em um período em que é inviável não falar sobre nós, não perceber a excelência do que fazemos, apesar da precariedade social e da expectativa de vida de 35 anos”, concorda, mas deixando claro que a discussão não pode ser 100% sobre a gaveta do corpo. “O caminho da naturalização é este: usar o espaço que conquistamos para mostrar que ainda há muito a mudar, mas que também carregamos outros recortes. Falam que a pessoa é trans, como se isso fosse um emprego. Eu sou uma cantora; a identidade de gênero é outro assunto.”
Mineira de Uberlândia, radicada em São Paulo há dois anos, Urias ganhou atenção ao construir uma figura on-line e na noite paulistana, enquanto arriscava seus primeiros passos na música – e na moda. Paralelamente aos primeiros covers que publicava e dos feats com a conterrânea Pabllo Vittar e o BFF Davi Sabbag, foi se exibindo pelas redes sociais com uma extrema consciência de estilo e tomando passarelas no caminho de modelo. O primeiro EP chegou em 2019, colocando-a em um patamar de estrela em ascensão, chegando a gravar com figurões tipo Ney Matogrosso e Gaby Amarantos.
Além da música, a mulher Urias sabe que seu personagem é extremamente visual e afrontoso, usando o olhar marcante e os figurinos para marcar sua posição, seja no ataque, seja na defesa. “Eu não sei se diferencio muito a Urias pública da privada. Os dois lados se influenciam. Como todo mundo, há esse escudo social, até na beleza. Por isso, sempre prefiro estar linda. Pode me chamar do que for, mas de feia não vai conseguir”, provoca. Quem tem coragem de discordar?
Créditos
Fotos: João Arraes
Edição de moda: João Paulo Durão
Beleza: Camila Anac, com produtos SEPHORA, KIKO MILANO, LANCÔME e KISS NEW YORK.
Modelo: Urias.
Assistente de styling e produção de moda: Giovanna Gobbi.
Assistente de fotografia: Daniel Araújo e Gabryel Matos.
Assistente de beleza: Camila Canto.
Direção e montagem de vídeo: Paulo Raic.
Cinematografia em Iphone: André Vernieri.
Projeção: Graziela Paes.
Retouch: Victor Wagner.
Equipamentos: 3T LOCADORA.
Agradecimentos: Larissa Dantas (L. SET DESIGN), Galeria Rabieh e Bar do Alemão.
