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Congelamento social de óvulos: entenda tudo sobre o método

O congelamento social de óvulos, também chamado de congelamento eletivo de óvulos, é um método de preservação da fertilidade, tendo por objetivo evitar a infertilidade relacionada à idade, e envolve fatores profissinais, econômicos e culturais.

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Foto: Getty Images

Atualmente, fala-se muito sobre congelamento de óvulos. E, embora essa técnica de criopreservação seja indicada também para condições de saúde, você sabia que há um movimento crescente de mulheres que buscam o procedimento para poder assumir maior controle sobre a sua fertilidade

Chamado de congelamento social de óvulos, essa estratégia permite que mulheres jovens congelem os seus óvulos numa tentativa de evitar a infertilidade relacionada à idade e de poder ter filhos no momento certo para elas, mais tarde nas suas vidas.

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Segundo o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, ao contrário do congelamento de óvulos como resultado de uma condição médica que pode reduzir a fertilidade (por exemplo, um diagnóstico de câncer que pode envolver tratamento limitante da fertilidade), este tipo de criopreservação é feito numa tentativa de aumentar a janela de tempo em que as mulheres jovens podem conceber com sucesso. “A idade aparente da mulher infelizmente não tem relação com a idade real, cronológica, dos ovários. Então mesmo que uma mulher que tenha 40 anos, esteja muito bem fisicamente, aparente ter 30 anos, o ovário terá a idade cronológica dela, tanto no número quanto principalmente na qualidade dos óvulos. E a gente sabe que após os 35 anos essa qualidade e quantidade de óvulos começa a cair bastante”, completa o médico.

A criopreservação de óvulos é uma técnica de congelamento em que o gameta feminino é submetido a uma temperatura de  
-196ºC. Com isso, esses organismos mantêm seu metabolismo completamente inativado, mas preservam seu desenvolvimento potencial e viabilidade. Muitas mulheres optam pela preservação de óvulos por se depararem com a impossibilidade imediata de maternidade. 

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Apesar do congelamento de óvulos ser utilizado desde a década de 80 para mulheres em tratamento de câncer, cuja fertilidade estava comprometida por conta da radio e quimioterapia, o congelamento “social” de óvulos – não relacionado a uma condição de saúde – é mais recente. Só entre 2012 e 2013, quando a introdução da técnica de vitrificação melhorou significativamente a eficácia do congelamento de óvulos que a prática de congelamento “social” ou “eletivo” de óvulos foi finalmente reconhecida como suficientemente avançada para ser introduzida na prática clínica.

“A técnica de vitrificação (flash-freezing) envolve o uso de crioprotetores e congelamento rápido que evitam a formação de cristais de gelo prejudiciais aos óvulos. Como resultado deste avanço, o uso da vitrificação aumentou rapidamente nos anos que se seguiram”, explica o Dr. Fernando Prado.

Mas o que explica a busca crescente pelas técnicas de criopreservação da fertilidade?

“O principal motivo é fruto das mudanças sociais vistas após a metade do século passado, quando a participação da mulher no mercado de trabalho cresceu como deveria. E, hoje, felizmente, há mulheres em vários postos de liderança, adquirindo o seu espaço merecido na sociedade. Só que em contrapartida isso teve um peso social também na formação da família, porque são escolhas que infelizmente a mulher teve que fazer nesse período. Ela teve que, muitas vezes, deixar os planos de aumentar a família um pouco mais para frente, normalmente após os 35, 40 anos, que é exatamente o tempo que ela vai demorar para atingir essa estabilidade, tanto familiar de ter um relacionamento estável, quanto financeira e profissional”, explica o médico. “Então, a hora que a mulher atinge essas estabilidades e decide engravidar, já não é mais o melhor momento dos ovários dela. Essa conscientização sobre a queda do potencial fértil com o passar do tempo explica a busca pelo procedimento”, explica.

O médico lembra que, com o surgimento da pílula anticoncepcional, a mulher pôde escolher quando não engravidar. “Agora, a mulher pode escolher quando ela quer engravidar. Ela não precisa mais ter esse dilema, essa dicotomia de ter que escolher se vai seguir a carreira profissional ou se vai formar família. A mulher pode ter as duas coisas. Ela pode deixar os óvulos congelados, preservar a fertilidade, enquanto adquire essa estabilidade financeira, afetiva, de carreira, e depois quando tudo isso tiver estabelecido, ela pode resgatar aqueles óvulos que estavam congelados e engravidar para formar sua família um pouco mais tarde”.

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O processo de congelamento de óvulos é relativamente simples, de acordo com o médico. São necessários, inicialmente, alguns exames ginecológicos e se não tiver contraindicação, a mulher usará hormônios para estimular a ovulação para que sejam resgatados alguns óvulos que ela já ia perder. “Então naquele ciclo menstrual em vez de a mulher ter um óvulo só, a hora que a gente usa os hormônios, ela vai ter 10, 12, 15, depende da reserva ovariana dela. E esse período dura mais ou menos 10 a 12 dias fazendo a indução da ovulação. Quando atinge o tamanho certo esperado dos óvulos, e isso é medido pelo ultrassom, agendamos a retirada deles em um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, feito com sedação. Não existe ponto, não tem cicatriz, não existe corte, porque é feito tudo via vaginal, através de um ultrassom transvaginal”, explica o Dr. Fernando Prado.

Mas é importante, segundo o médico, que a criopreservação seja realizada o quanto mais jovem possível. “Mas para que tenhamos uma idade de referência, podemos dizer que idealmente a mulher deveria congelar seus óvulos antes dos 35 anos. Em suma, quanto mais jovem a mulher for quando congelar, mais chances terá e menos óvulos serão necessários”, destaca.

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Por fim, o médico ressalta que, embora as taxas de sucesso sejam consideradas altas, o congelamento de óvulos não é uma apólice de seguro. “Ao contrário do que muitas mulheres pensam, o congelamento dos óvulos não é uma garantia definitiva de gestação no futuro. Isso porque existe uma série de fatores que podem interferir na viabilidade do óvulo durante todo o processo. Por exemplo, alguns óvulos podem não sobreviver ao degelo, enquanto outros podem não ser fertilizados com sucesso. A idade do congelamento também é importante, visto que, apesar dos óvulos estarem congelados, a mulher continua a envelhecer e, consequentemente, terá que enfrentar as realidades da gravidez na idade que possui”, afirma o médico. “Mas, felizmente, já evoluímos muito nesse sentido e, hoje, taxas de descongelamento de óvulos e de fertilização de 75% são esperadas em mulheres de até 38 anos de idade”, finaliza.

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