Keep Weird: como buscar o genial no inusitado?
Um mergulho em um oceano de inovações e inspirações. Impossível não se impressionar com o SXSW (South by Southwest)
Um mergulho em um oceano de inovações e inspirações. Impossível não se impressionar com o SXSW (South by Southwest), um festival que acontece desde 1987 em Austin, no Texas, e reúne mais do que painéis e ativações sobre tecnologia, arte, entretenimento e tendências, mas nos desafiam a questionar tudo aquilo que aprendemos sobre criatividade e disrupção.
Logo nos meus primeiros minutos no SXSW, fui apresentada ao lema “keep weird”, ou, na tradução livre, continue estranho. O termo, prontamente adotado pelo evento, tem como inspiração o movimento “keep Austin weird”, que tem como objetivo apoiar os pequenos negócios locais e, principalmente, incentivá-los a manter a cultura alternativa e identidade criativa sempre vivos. A lógica por trás desta frase é bem simples, mas traz uma mensagem extremamente poderosa: o inusitado ou o incômodo podem ser pontos de partida para soluções criativas e ideias revolucionárias.
Um passeio pelos corredores e espaços do SWSX é o suficiente para entender o impacto deste conceito. Dos negócios locais aos gigantes da tecnologia e entretenimento, todos buscam expressar suas mensagens a partir de forma impactante, seja com suas criações ou na forma com que elas são apresentadas. No maior festival de criatividade do mundo, o normal fica do lado de fora. O puro suco da inovação e da genialidade.
"O festival sempre foi um espaço para testar ideias malucas e provar que elas funcionam. Esse espírito continua vivo quase 40 anos depois” disse a Tracy Mann, embaixadora do SXSW entre a comunidade brasileira, em um bate-papo que tivemos entre entre uma ativação e outra, quando comentei sobre o quanto o lema me chamou a atenção.
“Muita gente não sabe, mas até o sucesso da parte de tecnologia do festival começou com um cara da administração que ficou empolgado e ousou sonhar maior. Isso é SXSW: transformar entusiasmo em inovação” completa Tracy.
Em um mundo onde o minimalismo e o normcore se confundem com o mais do mesmo e o algoritmo nos pressiona a produzir cada vez mais de forma pasteurizada, é preciso ousar inovar. Se por um lado estas ideias pregavam um caminho mais prático e funcional, por outro, suavizaram o choque do diferente, nos prendendo a uma zona de conforto criativa. Lemas como “keep weird” confrontam a ideia da neutralidade, nos desafiando a enxergar o desconforto do diferente como ferramenta de inovação, a questionar padrões e enxergar novas oportunidades para a construção de narrativas.
E não precisamos estar dentro do SWSX ou buscar nas gigantes boas histórias e exemplos que nasceram do não-conformismos. O Brasil está cheio de marcas independentes, geridos por pequenos empreendedores, que enxergaram a partir do seu incômodo, uma oportunidade de quebrar o molde existente e criar o novo.
Dentro do mercado de beleza, destaco a Negra Rosa. Fundada em 2016, pela Rosângela Silva, a marca nasceu do inconformismo de não encontrar produtos adequados para os tons e necessidades da pele negra. Nove anos depois, a marca foi comprada por um grande grupo e conta com um portfólio que atende a beleza negra de forma integral, com itens de skincare, maquiagem e cabelos.
Outro bom exemplo é a Sofia Clementino, fundadora da Nem Só de Blush, que enxergou em um mercado nacional tomado por produtos de acabamento matte, uma oportunidade de criar produtos cremosos, práticos e de alta performance, desmistificando a ideia de que este tipo de textura não agradaria o público brasileiro.
Mais do que um lema, vejo o conceito do “keep weird” como uma provocação, um convite à subversão, em buscar a transformação a partir do incômodo. Um elixir para a criatividade em tempos minimalistas e microtendências instantâneas ditadas pelo algoritmo, que desaparecem da mesma forma com que surgem nas redes sociais. Em um game cada vez mais acirrado e pasteurizado, ganha em tem a ousadia de se diferenciar.