Van Cleef & Arpels transita entre peças lúdicas e poderosas em coleção
Inspirada no livro A Ilha do Tesouro, de 1883, nova coleção de alta joalheria da Van Cleef & Arpels transita entre peças lúdicas e poderosas divididas em três capítulos
No imaginário de uma história de piratas não podem faltar a busca por um tesouro perdido, um protagonista sonhador e um marujo usando perna de pau com um papagaio no ombro. Longe de ser uma cena isolada, traz elementos recorrentes do gênero introduzidos pelo livro A Ilha do Tesouro, escrito pelo escocês Robert Louis Stevenson e publicado pela primeira vez em 1883. Uma das mais empolgantes aventuras marítimas já lançadas, a obra-prima é o ponto de partida da coleção de alta joalheria Treasure Island by Van Cleef & Arpels, apresentada em novembro, na tropical e litorânea Miami. A ideia foi que o cenário reforçasse o tema da coleção, apresentada durante um jantar de gala no Vizcaya Museum and Gardens, que funciona em uma antiga residência à beira-mar construída entre 1914 e 1922 e tem como uma de suas atrações uma escultura de navio dentro d’água.
Dividida em três capítulos, a coleção é digna de um cobiçado tesouro, com personagens delicados de ouro e pedras que exigiram destreza dos artesãos da joalheria francesa fundada em 1906, resultado de uma história de amor entre Alfred Van Cleef e Estelle Arpels. Pode-se dizer que o encanto por achados preciosos desde sempre acompanha a trajetória da maison. Em 1922, quando a descoberta da tumba de Tutancâmon deu asas a uma onda de orientalismo na Europa, a marca foi buscar inspiração na cultura egípcia e nos motivos japoneses, chineses e indianos para criar belas joias.
“Os capítulos foram uma maneira de contarmos a história usando três ângulos: a jornada no mar, a descoberta da ilha e o tesouro”, conta Catherine Renier, presidente e CEO da Van Cleef & Arpels. Ela acrescenta que o primeiro é o mais literal em relação à obra de Stevenson. Um exemplo é o broche em formato de barco, inspirado na embarcação Hispaniola, no qual os personagens do livro embarcam na jornada em busca da ilha do tesouro. Já a presença do ouro trançado no colar En Haute Mer resgata a técnica utilizada a partir dos anos 1940 pela marca e que, agora, reproduz cordas tridimensionais e nós marítimos. Outro destaque dessa peça é a safira de lapidação esmeralda de 55,34 quilates, aninhada horizontalmente no centro da composição. A pedra pode ser destacada e recolocada na coroa de um anel solitário que reproduz as linhas entrelaçadas do colar.
Chama atenção, ainda, o único objeto da coleção, a caixa Onde Mystérieuse, que exigiu dedicação de joalheiros, relojoeiros, especialistas em esmalte e lapidários. A base foi confeccionada em quartzo azul, e suas inclusões lembram as profundezas do oceano. De ouro branco martelado, possui dois compartimentos embutidos de ébano. Na tampa, o esmalte paillonné sob vidro ganha aparência de água, onde “nada” um cardume de peixes esculpidos em ouro branco e rosé. Dois clips destacáveis enfeitam a peça: um motivo ondulante de safiras e diamantes e outro de diamantes, turmalinas azuis e safiras, ambos remetendo às espirais de crustáceos. Eles escondem um mostrador de relógio totalmente cravejado de diamantes, sobre o qual uma safira indica 12 horas.
DIVIDIDA EM TRÊS CAPÍTULOS, A coleção É DIGNA DE UM COBIÇADO tesouro, COM PERSONAGENS delicados DE OURO E PEDRAS que EXIGIRAM DESTREZA DOS artesãos DA JOALHERIA FRANCESA FUNDADA EM 1906, RESULTADO DE UMA história de amor ENTRE Alfred Van Cleef E Estelle Arpels.
Na narrativa da coleção, Catherine ressalta que o segundo capítulo chama atenção para a flora e a fauna da ilha deserta. “Também são elementos que nos inspiraram ao longo das décadas, mas abrimos a porta para novas expressões. Você encontrará nesta coleção borboletas, conchas e pinheiros, além de tartarugas e outros elementos similares”, observa a CEO. Segundo ela, essas joias abriram espaço para a utilização da mystery setting, técnica da maison patenteada em 1933 que permite ao artesão esconder o ouro sob a pedra – não há metal entre elas –, tanto em rubis quanto em esmeraldas. Essa segunda parte também abraça o clima de mistério, enfatizando joias transformáveis, que se multiplicam. No broche Palmier Mystérieux é possível alterar os detalhes: o barco de diamantes, o sol e o baú de pedras preciosas, todos montados em ouro amarelo, são intercambiáveis.
É esse capítulo que traz a peça que mais desafiou a marca, o colar Moussaillon, que aparenta um lenço finalizado por um laço. “O desafio técnico foi dar ao ouro a aparência natural e confortável de um tecido no pescoço”, explica Catherine. Esculpido inicialmente em cera verde – técnica de moldagem à mão, antes da fundição por cera perdida – e moldado em ouro branco, rosé e amarelo, o colar tem volume tridimensional e é iluminado no centro por uma granada spessartita de 23,47 quilates. As extremidades são arrematadas por borlas móveis de diamantes e safiras.
Na fase três, a da caça e descoberta do tesouro, as peças são bold, repletas de cores exuberantes. O mapa de pergaminho enrolado virou um broche de ouro; um conjunto raro de 31 contas de jade jadeíta em tom de lavanda intercaladas por ouro e rubis formam o colar Lanternes Mystérieuses, que pode ser usado longo ou curto; e o anel Coffre Précieux reúne diamantes, safiras, rubis e esmeraldas em uma composição que lembra o quadro The Sea at Les Saintes-Maries- -de-la-Mer, de Vincent Van Gogh.
Os broches, assinatura da maison, aparecem em todos os três capítulos e são peças minuciosas em detalhes. Da expertise adquirida desde os primeiros exemplares da linha Dancer de 1941, surgem agora os clips Trio of Pirates John, David e Jim, os principais personagens da obra de Robert Louis Stevenson – esculpidos em cera verde para permitir silhuetas ricas em detalhes, recriando a maciez das vestes ou a leveza de uma pluma. As mangas bufantes no clip do pirata David acentuam sua postura dramática, por exemplo. Já o broche em formato de tartaruga Tortue de Cocos Bleue – uma referência a uma ilha localizada ao largo da costa da Costa Rica – com corpo em diamantes e casco tridimensional em safiras ovais azuis dialoga com a clássica linha “charming animals”, iniciada em 1954, quando a Van Cleef & Arpels remodelou a alta joalheria ao criar a La Boutique, lugar que oferecia uma moderna linha de joias para uso no dia a dia.
A presidente e CEO da maison ressalta que uma coleção dessa magnitude é planejada com quatro anos de antecedência. Depois das coleções Le Grand Tour e Legends of Diamonds, Treasure Island tem atmosfera lúdica, leve e colorida. “Após três anos de outros tipos de mensagem, é bom alternar e surpreender”, conclui.