Bruna Marquezine fala sobre feminismo, moda e inspirações
Leia na íntegra a entrevista exclusiva de Bruna Marquezine para a L'Officiel Brasil #63
Foi no início da tarde de uma quarta-feira que encontramos Bruna Marquezine no lobby do hotel Brighton, na rue de Rivoli, em Paris. Ela vestia camiseta branca, calça jeans, casaco verde clarinho de pelos (fake) e tênis Gucci. Com uma serenidade que se opõe à efervescência da capital francesa durante essa época do ano.
É a semana de moda de Paris e a leonina está lá para acompanhar alguns desfiles - entre eles Off-White, de Virgil Abloh, e, nos próximos dias, Miu Miu. “Vou usar este vestido bordado com uma pochete de couro com franjas de brilhos”, diz ela, empolgada com o look assinado por Miuccia Prada para a sua primeira apresentação.
Ela e a criadora italiana têm algo em comum. Apesar de a senhora Prada não ter um perfil no Instagram com mais de 30 milhões de seguidores, caso da atriz brasileira, elas comunicam um tom de poder e inspiração para mulheres de várias gerações. Miuccia é conhecida por costurar suas coleções por um viés feminista. São inúmeras temporadas nas quais a estilista apresenta seus temas envolvendo mulheres fortes, visando uma vida independente, de autoconfiança e liberdade.
Recentemente, Bruna fez seu posicionamento público em relação ao tema. Em suas redes sociais, ela trouxe um discurso de sororidade, com menos julgamentos, principalmente em relação ao corpo. Com maturidade, ela debateu sobre a forma com que as pessoas - na maioria das vezes, outras mulheres - declaram sua opinião de forma irresponsável em uma era de busca pela aceitação.
“Se você está magra demais ou gordinha, isso é uma questão sua. Se estiver saudável, é isso que importa”, comenta Bruna em um de seus vídeos. “Eu acho importante a gente estar satisfeita com o nosso corpo. Eu gosto de me olhar no espelho e me sentir bem. E eu estou!”, completa.
O impacto foi imediato. Toda essa fala serve para se desvencilhar de relações antiquadas e comportamentos desconstrutivos na internet, um ambiente em que, erroneamente, se pode “tudo”. “E eu não digo que não devem fazer críticas às minhas fotos, mas às de qualquer pessoa”, diz. Aqui, com exclusividade para a L’Officiel Brasil, a atriz abre mais sobre seus pensamentos, sinceros e inspiradores.
L’OFFICIEL: Um vídeo no qual você cita que está aprendendo cada dia mais sobre o feminismo viralizou nas redes sociais, alcançando milhões de visualizações. Como mergulhou no assunto?
BRUNA MARQUEZINE: Eu busco esse aprendizado conversando com outras mulheres, lendo sobre o tema, refletindo sobre as atitudes que eu tenho e que fui ensinada a ter. Acho que a mudança vem da autoanálise também: estar aberta a olhar ao redor, aprender e se transformar. Recentemente assisti Nanette (2018), um stand-up da comediante Hanna Gadsby, que me mostrou novos pontos de vista, questionamentos e reflexões. E tem uma série que eu adoro: The Handmaid’s Tale - O Conto da Aia (2017). É muito impactante e também provoca muitas reflexões.
L’OFF: Você também fez uma série de postagens sobre a aceitação do corpo. Essa abertura sobre temas de poder feminino que acontece globalmente tem influenciado você?
BM: Sim. Acho que não só passei a entender melhor o que meu corpo significa para mim como também o que representa ser mulher hoje no Brasil e no mundo. Todas nós somos vítimas de cobranças para estarmos dentro de padrões inatingíveis. Somos julgadas. Quem está mais exposta, como eu, por causa do trabalho, é ainda mais um alvo constante dessa crueldade virtual. O vídeo não foi algo planejado, mas senti muita vontade de me expressar e tentar fazer as pessoas repensarem tudo isso. Tanto os que fazem as críticas e não têm noção das possíveis consequências horríveis disso como as vítimas, que não devem aceitar essa cobrança. É urgente que o mundo tenha mais empatia. Queria de algum jeito contribuir para essa voz feminista, que já ecoa cada vez mais forte. Ainda bem. Sim, nós, mulheres, temos que cada vez mais nos amar, nos aceitar e entender que somos únicas.
L’OFF: Dentro desse cenário, como você encara a beleza e suas ferramentas?
BM: Acima de tudo, gosto de me sentir bem, saudável e em equilíbrio. Não quero parecer perfeita, e nem busco isso. Especialmente porque eu falo para um público muito jovem, garotas mais novas do que eu, que estão passando por uma fase na qual querem ser aceitas e acabam se comparando muito. Eu quero o contrário, na verdade. Quero estimular as mulheres a não competir entre si, a se aceitar e a buscar o que seja melhor e mais confortável para elas.
L’OFF: Além desses relatos públicos em vídeos, como você age no seu círculo de amizades e de família para empoderar as mulheres ao redor?
BM: Converso muito com amigas e amigos e também em família. Acho importante debater. E tem uma coisa que busco fazer - e acho importante também - que é elogiar outra mulher, falar sobre as características que me inspiram em outras mulheres, enaltecer o que há de positivo nelas. Acho que isso também faz a gente criar forças.
L’OFF: Você tem medo de falar publicamente sobre o feminismo?
BM: Não tenho medo. Acho um assunto fundamental e vejo que a força só cresce. Cada vez mais as pessoas vão se informando e repensando. Só vamos empoderar mulheres e mudar as estatísticas tristes, como as taxas de feminicídio e a enorme desigualdade salarial entre homens e mulheres, dialogando muito.
L’OFF: Nas redes sociais, terreno em que você é muito forte (com mais de 30 milhões de seguidores no Instagram ), quais são as cinco figuras públicas que você segue e se inspira?
BM: Eu escolheria seis pessoas que me inspiram a seguir em frente, a ver o mundo de outra forma:
ASHLEY GRAHAM - @ASHLEYGRAHAM, AMY SCHUMER - @AMYSCHUMER, RIHANNA - @BADGALRIRI, YARA SHAHIDI - @YARASHAHIDI, ZENDAYA - @ZENDAYA e GISELE - @GISELE