Difícil dizer "não"? Saiba mais sobre a compulsão por agradar
Estar sempre disposto a ajudar as pessoas, nunca dizer "não", pensar nos outros em primeiro lugar. Aos olhos da sociedade, todas essas atitudes parecem louváveis e exemplos a serem seguidos. Mas qual é o limite da bondade?
A necessidade compulsiva de agradar os outros tem nome: "Síndrome da Boazinha". O termo foi cunhado pela doutora em psicologia Harriet B. Braiker em livro homônimo. Esse comportamento pode ser prejudicial a partir do momento que gera uma preocupação excessiva em corresponder às expectativas dos outros, negligenciando as próprias vontades e necessidades.
Quem apresenta essa característica, muitas vezes, não consegue dizer não. Porém, a consequência de estar sempre com foco no desejo do próximo é que essa pessoa acaba passando por cima das suas necessidades, por vezes se desgastando demais ou agindo, contra seus próprios interesses. É uma incapacidade de colocar limite no outro, e uma hiperdisponibilidade patológica.
As causas, normalmente, vêm de algumas ausências durante a infância. Pode ser falta de afeto, cuidado e amor. O que faz com que essa pessoa, na vida adulta, queira ‘comprar’ o amor do outro, Esse vício em aprovação é baseado em um medo permanente da possibilidade de ser rejeitada, abandonada ou de que o outro possa não gostar de você.
A "Síndrome da Boazinha" se estende para os diversos âmbitos, podendo afetar a vida pessoal, social, amorosa e profissional. Às vezes, essas pessoas podem chegar a sentir sintomas físicos ao encarar uma situação de enfretamento ou precisar dizer não, tais como taquicardia, gaguejo, sudorese e falta de ar.
Entre os sinais da síndrome estão: o medo de desagradar e, com isso, ser rejeitada ou abandonada; dificuldade em dizer não; desgaste físico, mental e emocional devido ao acúmulo de compromissos e tarefas; necessidade constante de aprovação; postura de não enfretamento; dificuldade em fazer críticas (mesmo as construtivas); omissão frente às injustiças.
Para quem se enxerga assim, existem dicas para mudar esse padrão de comportamento. Coloque-se no foco da narrativa: uma das maneiras de começar a praticar dizer não com mais assertividade é falar sobre você e não sobre o outro, seja ele uma pessoa, um evento ou uma tarefa. Por exemplo: “eu não me sinto confortável para ir à festa”, “eu não estou com tempo hábil para terminar o projeto hoje”. Dessa forma, o seu posicionamento não é interpretado como uma crítica, mas como uma maneira delicada de expor a sua situação, sempre em primeira pessoa.
Expressão comum hoje em dia que representa em parte esse fenômeno é do ‘people pleaser’ ou agradador, que é diferente da pessoa “gentil” que muitas vezes vem de uma baixa autoestima e passividade, em um desejo de ser notado, onde muitas vezes o agradar vai até mais para aquele que rejeita, ou que a pessoa vê como “mais”. Uma espécie de valorização justamente de quem a pessoa recebe menos atenção, por exemplo.
De qualquer forma é uma postura diante da vida e dos outros que gera sofrimento, ou uma vinculação superficial.
A psicóloga Daniela Faertes é formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), é especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais. Atualmente, é Diretora do Espaço Ciclo no Rio Janeiro, palestrante e supervisora clínica e de Grupos de Estudo em Terapia Cognitivo. Ela colabora com a L'Officiel Brasil com seu olhar no universo de wellness e saúde mental feminina.