Ju Ferraz em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil
Ju Ferraz é comunicadora, influenciadora, empresária. Comanda um camarote de carnaval no rio de Janeiro, carrega a bandeira da autoaceitação e do autoamor e quer muito mais
Desde de muito nova, Ju Ferraz sempre gostou de ouvir e contar boas histórias e amava principalmente as que eram contadas pelas mulheres da sua família. Paralelamente, a vida na Bahia sempre foi muito próxima do Carnaval, que é uma festa que ela também adora, e viver essa época do ano foi despertando nela um desejo em trabalhar com eventos. Ainda em Salvador, começou a atuar como assessora de imprensa. E nos projetos em que esteve à frente nesse começo de carreira, foi criando uma rede de contatos que proporcionou se aproximar de pessoas que foram importantes para seu crescimento profissional. “Foi por meio dessas relações, pela coragem de me arriscar em diferentes segmentos de atuação e, principalmente, com muita dedicação e esforço – pois, como uma mulher fora do padrão, eu sempre precisei trabalhar dobrado para provar o meu valor – que me consolidei como empresária.” No terreno de influenciadora, foi construindo aos poucos, já que sempre usou as redes para compartilhar conteúdos gerais e de interesse social. “Mas essa posição se fortaleceu mesmo após passar por alguns momentos difíceis na minha vida, em que eu enxerguei outros valores, de uma maneira totalmente diferente. Com isso, eu percebi que a luta por uma sociedade igualitária não era só minha, que eu como uma mulher com acessos, poderia trazer mais visibilidade e voz para assuntos que são capazes de mudar trajetórias.” A seguir, ela conta mais sobre sua infância, suas bandeiras e suas lutas.
L’OFFiciel Como foi a sua infância na Bahia?
Ju Ferraz Eu tive uma infância muito feliz e rodeada de amor. Fui criada em meio a uma rede de mulheres fortes, que sempre me ensinaram a não desistir dos meus sonhos. Além disso, eu sempre tive uma relação muito forte com o meu pai. Também tive muito acesso à cultura – e sou muito feliz por ter tido essa aproximação com algo que se tornaria minha profissão. Em paralelo, contei com o apoio deles em todas as decisões que tomei, e isso foi muito importante para que eu me tornasse a mulher e mãe que sou hoje. A minha família era conhecida pelas plantações de cacau, que era a nossa principal fonte de renda, mas eu segui outro rumo e me encontrei mesmo na comunicação. Nunca houve nenhuma imposição sobre a minha escolha em fazer jornalismo, sempre tive um apoio gigantesco para fazer exatamente o que eu queria. Minha mãe, Luiza, sempre foi uma fortaleza sem igual. Ela é uma mulher muito guerreira e que me ensinou muito sobre a vida. Certamente, ela e meu pai foram as pessoas que mais me moldaram como pessoa. Minha avó e minha madrinha também foram importantíssimas nesse processo, e tiveram uma influência grande para que eu me tornasse uma mulher de opiniões fortes – e que principalmente fosse justa e corajosa para enfrentar e defender tudo que eu acreditasse ser o correto dentro dos valores que cresceram comigo.
L'O: Sua relação com o seu corpo sempre foi boa?
JF: Eu sempre tive muitas questões com o meu corpo, e acredito que muitas dessas inseguranças surgiram por conta dos preconceitos sofridos durante a infância e adolescência. Inclusive, ainda jovem eu era chamada de Jubola, e esse apelido, por mais inofensivo que seja, mudou totalmente a forma como eu me via. Hoje, eu vejo que enfrentar o burnout me ajudou a abrir os olhos para o tema, e entender que usar 36 ou 42 não me define de forma alguma. E é partindo dessa premissa que eu desenvolvo projetos que olham e discutem o assunto, pois eu sei que muitas mulheres, assim como eu, também precisam fazer as pazes com seu corpo.
L’O Em tempos de redes sociais onipresentes, quais os segredos para uma autoestima inabalável?
JF Eu acredito que é não se importar com a opinião alheia, principalmente de quem não vive a sua realidade. O hate sempre vai existir, independentemente do que você faça. O B.O.D.Y. mesmo, que é o movimento de autoaceitação que eu desenvolvi para celebrar a liberdade plena da mulher, é visto como um evento de militância desnecessária e sem propósitos por muitos, mas quem realmente acredita nessa causa segue comigo. Além disso, é importante estarmos rodeados de pessoas, principalmente nas nossas redes, que acreditam e compartilham dos mesmos valores, e também viver a sua verdade sem medo, principalmente se o que você faz não fere a existência de ninguém.
L’O Você já viveu um burnout. Acredita que essa necessidade feminina de dar conta de tudo e ir além tem a ver com essa questão? Qual sua estratégia para não passar de novo por isso – uma vez que continua atuando em várias frentes, de organizar camarote de carnaval a protagonizar campanha de lingerie?
JF Sim, com certeza, pois a mulher é sempre cobrada a dar mais que o seu melhor, além de precisar, constantemente, provar que merece e que tem total capacidade de ocupar a posição que está em sua carreira, independentemente de qual seja ela. Hoje eu não me cobro muito por isso, e tiro momentos de respiro durante o dia para oxigenar a mente e não deixar as cobranças me consumirem. Eu também não tenho mais nenhum problema em falar que não estou dando conta, aprendi a delegar mais e assim criar uma rede de apoio que me ajuda a ter sucesso nos projetos e ter uma vida comum em que eu posso dar mais atenção para a minha família ou para coisas que eu gosto de fazer. E claro, essa organização me ajuda a fazer mais coisas como influenciadora, entre elas estrelar campanhas de lingerie e participar de eventos.
L’O Qual a importância de estar em uma capa de revista de moda, sendo uma mulher fora dos padrões?
JF Antes de tudo, eu acho que é a realização do sonho de qual quer mulher, principalmente as que assim como eu são diferentes dos padrões estéticos que por muitos anos foram absolutos nas revistas. Também reforça que nossos corpos não definem até onde podemos chegar, que cada sonho, por mais insignif icante que pareça, pode ser possível se não deixarmos nunca que a ignorância que ronda os nossos biótipos nos impeça de conquistá-los. Além de toda a felicidade em estar estampando a capa, eu quero que muitas outras que me acompanham, e que eu inspiro de alguma forma, possam um dia desfrutar de tamanhas felicidades que nos foram negadas por anos.
Fotos: Luciana Faria (GROUPART MGMT),
Direção Criativa: Cassio Prates e Eve Barboza (BELTRAME MGMT),
Styling: Yumi Kurita (DENIS RIBEIRO MGMT),
Texto: Karina Hollo,
Guest: Ju Ferraz,
Set designer: Ana Arietti (BELTRAME MGMT),
Beleza: Camila Anac (J FRIGO MGMT),
Filme: Sophia Fuke,
Nail artist: Sonia Lima,
Massoterapeuta: Patty Laquale,
Assistentes de fotografia: Murilo Stabile e Diego Gaviolli,
ProduçÃo de moda: Larissa Yumi, Nicole Rosemberg e Pedro Mendes,
Assistente de Beleza: Anaue,
Assistente de filme: Wut,
Assistente de set design: Luiza de Alexandre,
Camarim: Mag,
ProduçÃo eXecutiva: Anna Guirro e Barbara Barbosa (7L MGMT),
Tratamento de imagem: Marcos Nascimento